O Guardião – O Caminho dos Heróis Parte V

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O fim dessa frenética aventura se aproxima e a cada esquina, a cada câmara o espírito de Sandy vem sendo testado e a perda de Erzurel foi um duro golpe para a paladina. O que será do futuro da missão agora? Descubra nas próximas linhas.

Essa é uma história original escrita por Bruno de Brito
Contribuição na revisão: Daniele Sotero

Sandy foi avançando e percebeu que a escuridão foi ficando cada vez mais densa, suas tochas estavam molhadas, a pederneira úmida, sem luz ela estaria vulnerável. Pensou na luz de Erzurel e apoiou um dos braços na parede, nem isso ela poderia deixar com ele. Precisaria da luz… E retornou.

O espírito de Erzurel se desprendeu do seu corpo físico. Habitá-lo não era mais necessário. E ele viajou para o norte. Ele estava em um grande salão, suas vestes uma belíssima meia armadura feita de fios de prata e detalhes em ouro. Em suas mãos uma alabarda nobre e na cintura uma espada longa obra prima, ele era um guardião do rei, um protetor da ordem, assim como seus companheiros da sala real de Chendl, diante de si o Trono do Cavaleiro. De uma seteira Rafalgar sentia o sol em sua face. Erzurel sabia que estava no corpo de um renomado cavaleiro de Furyondy, Rafalgar. Ele nada sabia sobre aquele nobre homem, ainda que sentisse que uma conexão existia come ele. Aquela experiência não lhes era nova, ele já tinha experimentado antes, no norte em guerra e agora de novo?

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O Salão dos Cavaleiros

A atenção de Rafalgar se voltou para o trono, uma importante cerimônia estava para começar ali, Dekstermix e o alto clero de Heironeous liderado pelo Sumo sacerdote Gunther O´Dim, estavam reunidos para uma importante cerimônia, o arquimago Dekster não era mais o regente, passados 6 meses da morte do nobre rei, era dito que o membro da família real mais próximo deveria ser coroado, e caso não existisse, uma eleição realizada pelo alto conselho deveria escolher o novo monarca, a primeira opção era uma alternativa viável. E isso ocorreu a Rutherford VIII, um jovem e promissor comerciante sobrinho de Belvor, primo de primeiro grau do desaparecido Thrommel.

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Rutherford, o nobre

O conselho de cavaleiros havia postergado até o limite possível a coroação, em função da nula relação entre os valores da cavalaria, conhecimentos de guerra e política que Furyondy tanto precisava para o próximo monarca. Ruther era um jovem de valor moral elevado, entretanto sem qualquer perfil, o conselho temia a escolha. Mas Furyondy não podia aguardar mais. O reino estava com a economia em colapso. A guerra havia cobrado um elevado preço dos cofres reais, e altos impostos e toda a produção voltada para sustentar o exército, a população já sofria os males da fome, desnutrição, violência, o reino beirava o caos.

O futuro era cada vez mais sombrio a Furyondy, e somente um milagre poderia salvar o reino. A saída de Nyrond, Veluna e o Condado e Ducado de Urnst, a liga de reinos que formavam o “Cinturão” estava desfeito. Literalmente se tornou cada um por si, e cada reino começou a fortificar suas defesas e engrossar suas fileiras com um novo alistamento de jovens de até 12 anos. Era de fato um cenário crítico. Flanaess tinha um câncer em seu centro geográfico e os reinos do “mundo” conhecido estavam preocupados demais com o momento que a guerra chegaria às suas muralhas.

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Rafalgar

Na capital do reino dos cavaleiros, toda a população das cidades e vilas vizinhas estavam adensadas em Chendl, a comida se tornou escassa, e crimes e roubos se tornou mais comum que jamais fora antes. A lei marcial dos Cavaleiros estava vigorando e o toque de recolher ocorria a qualquer momento do dia, bastava tocar o grande sino da Abadia de Heironeous que toda a população se recolhia e fechava suas portas. Era um cenário desolador. A guerra estava ali dentro das muralhas de Chendl, silenciosa e cruel.

Erzurel observava através dos olhos de Rafalgar, quão dramática toda a situação havia chegado e uma lágrima escorreu de seus olhos. Por mais valoroso que Ruther fosse, ele não era um guerreiro, cavaleiro ou homem de armas, provavelmente nunca tocou o aço frio de uma espada. Conhecia de moedas, tecidos, tapetes, comercio. Aquele braço da família nobre possuía forte influência comercial e eram os mestres do tesouro real, mas de nada entendia da guerra.

Rafalgar testemunhou quando a coroa foi colocada na cabeça de Rutherford, presentes além da família real e importantes representantes do reino estavam Diana Benelovoice, e os membros da Coroa dos Deuses, o condecorado grupo de heróis que empreendiam as principais missões contra o Império do Velho: Justine Misdiff, paladina de Heironeous, o meio elfo Cartellion Thanar, um paladino de Santo Cutbert e Hedrick, um drow.

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Justine, a campeã de Heironeous

Um novo rei assumia o poder do reino dos cavaleiros. Subitamente um forte impacto abateu sobre o Castelo da Santa Graça, o castelo real de Furyondy, os trebuchets recomeçaram os ataques, e desta vez gritaria e os sons de aço haviam chegado até os corredores do castelo, algo de muito errado estava acontecendo. Enquanto o seu espírito se desprendia do corpo do guardião, uma figura notou o fenômeno, o arquimago e olhando nos olhos de Erzurel, falou-lhes telepaticamente:

  • A Torre da Mágoa – Conhecimento e Proteção
  • A Ordem Arcana de Greyhawk – Perdão e Poder
  • A Cura do Trono e de Chendl – Salvação

Sem entender o significado daquelas frases, Erzurel foi se desprendendo de Rafalgar.

Sandy voltou pelo corredor escuro, tendo a luz de Erzurel como referência, e quando chegou a câmara em que se encontrava o corpo moribundo de seu companheiro ela parou, havia algo estranho, a pedra que estava entre as mãos do sacerdote começou a dissolver e a luz pura adentrou o corpo do sacerdote e pulsou arqueando o peito.

Erzurel expeliu uma grande quantidade de água pela boca, sua respiração estava arranhada e deficiente, mais goles de água saiam pela sua boca e o sacerdote tossia desesperadamente. Sandy veio acudir-lhes e ajudou a ficar de lado enquanto toda água acumulada em seu peito saia. Erzurel estava vivo!

Logo após estabilizar e sentar, Sandy abraçou Erzurel com força e ela chorava como uma criança. A felicidade que sentia era indescritível. Erzurel apertou mais forte a paladina e em seu ouvido disse:

– Obrigado.

Isso só fez a paladina chorar ainda mais. A ressurreição de Erzurel era inexplicável, assim como uma constante luz que agora emanava de seu peito. A pedra luminosa havia desaparecido em seu interior e este era o segundo milagre que o sacerdote testemunhava. Em seu íntimo sentia uma conexão indescritível com o divino. Erzurel sentia que havia um propósito naquilo tudo, ainda que não compreendesse, sentia que havia.

Sandy, sei que ainda devo ter um pouco de água em meu corpo, mas pode me apertar só um pouco mais suavemente? (risos).

Ambos riram, com um misto de alegria e certa timidez. E Sandy se recompôs.

– Estou muito feliz Erzurel, você não sabe o quanto!

– Jamais lhe deixaria sozinha nessa empreitada minha amiga. Estava apenas descansando um pouco (risos).

A dupla ficou ali pouco breves minutos, e tão logo Erzurel recuperou o ritmo da respiração, eles se puseram a caminhar. E quase em sintonia pensaram que voltar por aquele caminho não era uma opção, definitivamente não era, e começaram a analisar as rotas tomadas. As marcas encontradas nas paredes indicavam que o caminho estava correto. Pelo menos considerando o que o necromante havia dito.

O grupo percorreu corredores e novas câmaras naquela masmorra, e viram paredes repletas de glifos e desenhos incompreensíveis a dupla. Havia um intrincado mapa daquele local em algumas passagens e Erzurel os memorizou, na esperança de ter uma noção de onde estavam. Aquele local era um verdadeiro labirinto de corredores e salas. E o mais estranho é que não haviam inimigos ou qualquer sinais de monstros ou seres que tivessem passado por ali. Eles não eram especialistas, mas os sinais de teias de aranha e poeira assentada no solo, indicava que ninguém havia passado por ali há um bom tempo. A luz mágica que Erzurel emanava era constante, e questionado por Sandy o que era aquele efeito, Erzurel deu de ombros, sem saber como explicar aquele fenômeno sobrenatural. Mas algo era perceptível ao sacerdote, a luz produzia além da iluminação com intensidade de uma tocha, o efeito contínuo de cura. A cada ¼ de hora eles eram curados por uma energia positiva que afetava até onde a luz alcançava. Era um efeito divino certamente, mas inexplicável. O importante para Erzurel era ver os ferimentos da paladina cicatrizando e os seus também.

Após caminharem por cerca de 2 horas e meia, eles pararam. Erzurel não falou com a paladina de sua visão, aguardaria uma melhor ocasião para falar do que viu ao encarnar temporariamente em Rafalgar. Ele próprio não tinha certeza do que viu e ouviu, e precisava de uma explicação lógica para não ter o descrédito de sua companheira. Mas ele falaria para Sandy, e se possível Gatts. Tinha certeza que alguns nomes mencionados ali eram familiares, já os tinha ouvido antes, mas seu conhecimento da história de seus companheiros era superficial e por mais que tivesse se conectado à paladina de forma verdadeira, conhecia muito pouco sobre a sua história. Precisaria de tempo para digerir aquela informação e saber exatamente como usá-la para evitar o pior no futuro.

Houve combates de menor intensidade e armadilhas no caminho, mas a dupla conseguiu superá-los sem grande dificuldade. Ambos tinham ouvido um som, e o mesmo se repetiu tempos depois. O som era similar a uma pedra batendo fortemente contra o chão, e este tremia com um baque surdo. Erzurel se concentrou na luz interior e a intensidade dela se reduziu a uma fraca aura com cerca de 1,5m de alcance, e eles foram avançando cautelosamente. Armados e com todos os sentidos aguçados, eles foram pelo corredor até uma passagem com cerca de 3 metros de largura e 6 de altura, não havia porta ou grades, o vão era livre e dava para escadas descendentes. Se abaixaram e engatinhando se arrastaram até a passagem. Havia luz além, uma tonalidade branca e azul bruxuleante, como efeito fogo no braseiro ou uma fogueira.

No limite, observaram uma grande criatura com cerca de 3 metros de altura andava incessantemente de um lado ao outro de forma automática e mecânica, em uma vigilância permanente. Seu aspecto era de um anão gigante segurando um pesado martelo de pedra. A luz provinha de fato de dois grandes braseiros com cerca de 1m de raio com pedras em seu interior queimando uma luz branca e azul. A criatura vigiava um homem em uma gaiola de ferro – era o príncipe Thrommel. Seus olhos alheios aos visitantes andava em um ritmo peremptório e constante.

A dupla havia encontrado o príncipe.

Erzurel notou também que aquela não era a única passagem para aquele local, outras três passagens e em uma delas, Sandy teve a impressão de ver um vulto indistinto. Parecia humanoide, mas a distância e a fraca iluminação naquele limite impedia de obter maiores detalhes. Ela avisou Erzurel que também notou a presença e traçaram um plano.

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O Guardião

Erzurel iria gerar vantagem tática para Sandy, tentando combater na maior defensiva possível. Sem sua armadura o sacerdote sabia que seria um alvo fácil. Sob orientação de Sandy, ele sabia que haveria um momento que precisaria se afastar. E quando esse momento chegasse, ele deveria encontrar uma forma de libertar o príncipe e preventivamente tomar uma das passagens. Voltar por onde vieram não era uma opção. Havia ainda a outra figura, e a dupla atacaria ciente de sua presença e alerta a uma eventual interferência. Ambos desconfiavam que se tratava de Lázarus, e se assim o fosse teria que redobrar o cuidado.

Continua no último capítulo dessa história:

O Príncipe, A Paladina, O Clérigo e O Mago

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Sobre o Autor: Bruno de Brito

Mestre da campanha "Aurora dos Conflitos", ocorrida no cenário de Greyhawk. Entusiasta do sistema Pathfinder, fã de Magic: The Gathering e churrasqueiro nas horas vagas.

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