Tríplice Coragem – O Caminho dos Heróis Parte II

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Essa é a continuação da aventura iniciada por Erzurel, Sandy, Aescriel e Lázarus pelos Esgotos de Verbobonc. Testemunhe agora o desenrolar dessa aventura fantástica vivida pelos míticos heróis.

Leia o inicio dessa trama aqui.

Essa é uma história original escrita por Bruno de Brito
Contribuição na revisão: Daniele Sotero

Sandy foi a primeira a acordar, sentindo a dor na perna imobilizada com dois pedaços de madeira olhou para o lado e viu Erzurel dormindo e na direção oposta Aescriel sugando o sangue do que parecia ser um lobo. Notando o despertar da paladina ele terminou de sorver o sangue do animal que para o espanto de Sandy desapareceu magicamente e notando a estranheza da paladina o vampiro falou:

– Ainda é ruim desta forma, mas é melhor matar criaturas invocadas pela magia, do que…

Deixando a continuação no ar, Aescriel limpou os lábios vermelhos de sangue e alertou que já era hora de continuar o caminho.

A paladina não sabia como reagir e seus pensamentos remetiam todos em uma única direção – acabar com aquilo. Mas a lembrança do príncipe e a necessidade da força daquele vampiro a fez ponderar. Realmente já era mais que a hora de prosseguir.

Andando mais devagar agora devido o ferimento da perna de Sandy o grupo avançou.

A partir daquele momento os monstros e desafio começaram a mudar. Ao invés de feras e guardiões, o grupo passou a se deparar com outros mortos-vivos. A princípio eram zumbis e esqueletos, alguns mais fortes outros construídos através de bruxaria antiga e poderosa.

Em um deste embates em uma câmara circular com aproximadamente 9 metros de diâmetro e cerca de 6 de profundidade com uma curta plataforma ao longo da parede no alto, o grupo caiu em uma armadilha preparada com fins de afoga-los, do alto da plataforma dois mortos-vivos vestidos com imponentes peitorais de aço com grifos em linhas de ouro acionaram um dispositivo em cada lado e água veio violentamente em círculos pela câmara criando rapidamente um redemoinho. A força da água era muito forte e apesar da capacidade de Aescriel ele rapidamente foi imobilizado por uma de suas proibições: não atravessar água corrente. E assim com poucos segundos para salvar a vida de Aescriel Sandy em um rompante de desespero invocou os poderes de Exórdios duas espadas surgiram em suas mãos e foram arremessadas pela paladina em direção ao dispositivo que jorrava água intensamente. Com um ataque certeiro o mecanismo foi imobilizado pela espada e a corrente que pendia do cabo até o punho de Sandy garantia que eles não poderiam ser manipulados.

Greyhawk_Kanr´Athi Aurora dos Conflitos Greyhawk Pathfinder 2ª Edição
Karn´Athi

Aescriel afundou inconsciente na água extremamente debilitado, o redemoinho já havia cessado o seu movimento e a fumaça que esvaia do corpo do vampiro havia cessado, entretanto ele fora debilitado a ponto de perder a consciência. A água começou a baixar e os dois esqueletos armadurados saltaram da plataforma para a área onde se encontrava Erzurel e Sandy.

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Karn´Ath

Praticamente imunes ao poder de expulsão de Erzurel, os esqueletos avançaram um contra cada herói. Sandy de costas para Erzurel trouxe suas espadas de volta, transformando uma em um escudo ela iniciou o combate. Erzurel invocou suas bênçãos que recaíram positivamente para si e Sandy e negativamente contra os opositores e a peleja teve início.

Muito hábeis os esqueletos lutavam com experiência e capacidade. Um deles chegou a desarmar Sandy, mas imediatamente outra espada surgiu em seu punho, Exórdios garantia que a paladina jamais estivesse desarmada. Em sua forma de combate a arma sagrada se manifestava na forma de arma branca e escudo. Não fosse pela loriga segmentada comprada em Verbobonc, Sandy estaria bem mais vulnerável agora.

O combate foi árduo, as poderosas bênçãos de Pelor foram eficientes contra o esqueleto de Erzurel, enquanto a técnica de combate de Sandy debilitava gradativamente seu esqueleto. Aqueles mortos não era esqueletos quaisquer. Uma inteligência perturbadora era perceptível e eles reagiam ao combate com uma experiência singular, era como se as habilidades de suas vidas pregressas tivessem sido preservadas no pós-morte. Se fosse isso mesmo, aqueles adversários eram ainda mais perigosos.

Quando a fadiga e a exaustão começaram a produzir efeitos em Erzurel, o sacerdote tentou com todas as suas forças e fé uma última expulsão e um raio solar invadiu o local, tendo sido proveniente de frestas inexistentes ao olho nu do teto, um milagre, o feixe dourado se dividiu em dois atingindo cada um dos mortos-vivos. O poderoso feixe foi suficiente para que os esqueletos fossem vaporizados pelo calor, é verdade que eles já estavam deveras destruídos, mas o prolongamento daquele combate não os trazia problemas físicos que já eram perceptíveis em Sandy e Erzurel, no fim no local onde estavam os esqueletos restaram apenas seus peitorais, incólumes e reluzentes como novos.

Surpreso com o efeito de sua fé quando testada ao limite, Erzurel se ajoelhou e orou fervorosamente. Os anjos solares haviam se manifestado em suas preces e as mesmas não apenas foram ouvidas, bem como atendidas. O sacerdote de Pelor havia se conectado com o divino de uma forma totalmente diferente, aquilo era um sinal, só podia ser.

Enquanto rezava, Erzurel não viu quando Sandy se deslocou rapidamente em direção ao corpo moribundo de Aescriel e notou sua completa palidez. O elfo estava praticamente pele e osso, com os cabelos outrora dourados agora completamente opacos, brancos e sem brilho, suas orbitas estavam fundas e seu robe era um grande pano em um corpo pequeno. Não havia mais vida no corpo de Aescriel, ele não havia resistido.

Alimentar-se de animais invocados pela sua própria magia havia cobrado um elevado preço. O sangue mágico durava pouco em seu corpo, era ralo e fraco impossibilitando de curar-se ou resistir com maior eficiência a vulnerabilidades de sua condição morta-viva – Sandy agora percebia isso.

E intimamente ela pediu desculpas ao vampiro, pediu em baixo tom de voz, como se fosse possível recuperá-lo com suas palavras. Uma lagrima rolou de seu rosto e tocou o braço inerte de Aescriel, e uma ideia desesperadora irrompeu da paladina. Em seu subconsciente uma voz familiar lhe alertou:

Exórdios | – Paladina todos os nossos atos têm um limite moral, estás certas que quer realmente fazer isto?

Sandy | – Exórdios, já não sou uma campeã do bem, e tenho grande dificuldade de saber realmente o que me tornei, só posso te dizer uma coisa, sobre a qual tenho certeza e convicção absolutas. Eu vim a este mundo para fazer o bem, e curar o mal onde quer que ele exista.

Com uma pequena adaga a paladina cortou seu pulso esquerdo e um sangue vermelho e intenso brotou no local do corte. E assim Sandy Benelovoice fez o impensável. A paladina derramou nos lábios ressecados e finos do outrora elfo dourado Aescriel, sangue quente e verdadeiro.

Os olhos de Sandy brilharam em um azul e branco intenso e ela não sentiu a dor pelo ferimento. Durou o que pareceu ser uma eternidade, mas quando a sua visão voltou ao normal Sandy viu que o ferimento em seu pulso estava curado e com uma atadura. Erzurel havia lhe tratado. Sentado um pouco mais afastado Aescriel estava “vivo” e com uma tez que facilmente o confundiria com um elfo do sol normal. O sangue que ela havia lhes cedido fora suficiente para recuperá-lo totalmente, e não parecia haver qualquer resquício de mazela ou danos – o vampiro estava de volta. E algo mais também.

Sandy sentiu uma energia familiar, uma de suas bênçãos retornou, ela podia sentir a força divina correndo através de seu corpo novamente, sentia que a capacidade de Detectar e Punir o Mal havia retornado. Estava no caminho certo. As decisões estavam claras desde o princípio e foi a própria dúvida que começou a ruir suas certezas e convicções. Seus poderes não se foram pelo fato de estar aliada a antagonistas, seus poderes se foram pelas dúvidas se essa era uma decisão correta, e com a própria certeza que talvez não fosse, as bênçãos lhe abandonaram. Agora a paladina sabia o caminho que precisava trilhar para se provar merecedora do título de paladina, e ela lutaria com toda as suas forças por isso. As pessoas mais fracas e oprimidas dependiam de heroínas como ela.

O olhar que Sandy transferiu para Erzurel também lhe esclareceu algo. O sacerdote era tão bom quanto ela, e leal também. Devoto de Pelor representava a pureza da bondade tanto quanto ela, e ele não sofreu o que ela havia sofrido, suas bênçãos não o abandonaram, e agora ela entendia por que. O sacerdote nunca tivera dúvida do que devia ser feito, e não era uma questão sobre os meios para chegar a um fim, mas sim dos meios para se fazer o que é certo, transformando não apenas o resultado final em êxito, mas um a penitência àqueles que tivesse dúvidas no caminho.

E foi Aescriel o primeiro a falar após o silêncio que se instaurou:

– Há aqui um laboratório. Ele não está muito longe, nele existe uma rara poção, um elixir na verdade chamado de a Poção Dourada. Essa poção pode reverter minha condição morta-viva. O sangue que corre em mim Sandy é seu e parte de sua pureza transita pelas minhas veias e me deram a clareza para pensar livre da vilania e dos pensamentos que tendiam sempre para o egoísmo e ignorância à situação dos demais. Sei que isso é temporário, uma hora seu sangue irá secar em meu corpo e voltarei a ser um vampiro, mas peço a vocês dois que me ajudem. Sei que o príncipe é a missão primordial de vocês aqui, mas rogo-lhes: me ajudem.

Uma troca de olhar entre a paladina e o sacerdote fora suficiente. Balançando a cabeça afirmativamente ambos estenderam cada um uma mão para levantar o elfo e após colocar suas luvas, Aescriel aceitou o apoio para levantar e seguir.

Sobre os dois esqueletos mais fortes, não havia conhecimento estudado por Erzurel que identificasse a natureza daqueles mortos-vivos, apenas Aescriel disse-lhe o que era: Karn’Athi, mortais que aceitaram ou foram enganados e vestiram a armadura. Eles compõem a elite de combate de Anacrael ou Aberain Melqusidec, o Lich há muito tempo havia construído uma centena dessas armaduras e as presenteou em um banquete dado pelo então oráculo de Urnst Anacrael para a guarda de elite pessoal do Arqui-Paladino Grace Karl Lorinar III do Ducado de Urnst. Em um mês todos os homens haviam se transformado nestes mortos. O governante do ducado foi morto pela sua própria guarda e uma década de caos se instalou no Ducado e Condado, sob o comando da mão de ferro do Oráculo Aberain.

Foi durante esse período que ele conseguiu concluir o ritual para se tornar o lich que é hoje. Um grupo de heróis conhecidos como os Campeões de Versis combateram o lich, mas sofreram ao longo da campanha baixas. Não foram derrotados, mas forçados a recuar para buscar novos aliados e escolhidos para vestirem as armaduras dracônicas de Versis. Enquanto isso neste período o real vilão se revelou, o dragão Vyceratull. Ocorre que o próprio lich ansiava pelos poderes do dragão e secretamente começou a apoiar os Campões de Versis para conseguirem derrotar o dragão Negro Vyceratull. Em paralelo ele criou um grupo conhecido como a Espada de Marsakala, figuras de grande experiência e poder que seria sua guarda pessoal: Um antipaladino, uma druidisa da destruição, um arquimago e um tiefling ladino. Outra coisa digna de nota é que quando Aberain se tornou um lich, ele passou a ser chamado de Anacrael, os motivos e significado eu desconheço. Isso é tudo que sei desta história e seu principal vilão. Anacrael não é uma figura que é possível se enfrentar diretamente. É necessário um grupo forte e coeso para conseguir reduzir suas forças e destruir suas filactérias. Além disso ainda hoje grande parte de sua elite de karns o protege. E a Espada de Marsakala se tornaram mortos-vivos poderosos.

Continua em: O Caminho dos Heróis – O Impasse

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Sobre o Autor: Bruno de Brito

Mestre da campanha "Aurora dos Conflitos", ocorrida no cenário de Greyhawk. Entusiasta do sistema Pathfinder, fã de Magic: The Gathering e churrasqueiro nas horas vagas.

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