Reiko, Sangue Ninja

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Ninja é das classes orientais a que mais povoa o imaginário ocidental. há um mundo de misticismo que os envolve e entre a liga das Sombras e filmes como Ninja Assassino e muitos outros há muito que não se entende. Mas seja pintados como heróis do povo contra a opressão xogum ou assassinos mercenários com parte com demônios, Ninja são sempre legais e Reiko é incrível. A Ninja Icônica foi anunciada no blog da paizo no dia 4 de Agosto de 2011, e ilustrou o Ultimate Combat junto com Hayato, o samurai e Lirianne, a Pistoleira. Texto original de Liz Courts.

Tradução: Fred Torres
Publicação: Fred Torres


Situada na costa Oeste de Minkai, a terra natal de Reiko, Onda Branca¹, era uma pacata vila de pescadores, nada mais do que uma coleção de choupanas e choças agarradas a uma escarpa que sobrevia um porto. Com um verão de umidade extrema, e nuvens de pernilongos e moscas e um inverno propenso a tempestades constantes, ela tinha pouco a oferecer a qualquer Lorde e portanto, muito pouco se demandava dela.

Tudo isso mudou quando Reiko fez doze anos. Devido a disputas burocráticas entre os lordes da região, as fronteiras dos feudos mudaram colocando Onda Branca sob domínio de um novo Lorde: Entobe Hisashi, e ele tinha grandes planos para o local. As falésias seriam o lugar perfeito para um novo santuário, uma série de torres reluzentes que agradariam aos deuses e traria prosperidade para a família Entobe por gerações. Um projeto de tal magnitude precisaria de uma vasta mão de obra para ser executado e Lorde Entobe sabia precisamente onde encontrá-la.

Quando Reiko Pensa em sua infância, ela não lembra mais das buscas por tesouros nas piscinas deixadas pela maré ou da risada de sua mãe e broncas preocupadas de seu pai enquanto ela escalava as falésias. Ao invés disso ela se recorda do cheiro das pedras e do gosto de poeira em sua boca, das suas unhas destruídas e seus dedos sangrando sob o peso das rochas que carregava. Ela se recorda das longas horas de labuta sob um sol massacrante, carregando agua para o povo da vila, forçados a trabalhar na pedreira enquanto suas jangadas apodreciam no porto. Mas mais do que isso, ela se lembra de seus pais cada vez mais magros a cada vez que lhes trazia sua cota diária de arroz e sopa.

Por muitos meses o povo labutou. Os agentes de Entobe não toleravam qualquer tipo de preguiça – isso incluía os idosos ou crianças que caíam exaustas, e as punições eram severas. O minúsculo cemitério da vila logo se encheu e os corpos dos falecidos começaram a ser atirados às marés, já que os moradores da vila, exaustos, não mais conseguiam cavar as sepulturas.

Então, aparentemente de um dia para o outro, os deuses se voltaram contra o projeto. Uma noite, logo após o crepúsculo, a fundação de três das cinco torres caiu, matando um dos mais cruéis supervisores da obra. Ainda que isso tenha significado meses de trabalho perdido, os moradores da vila encontraram alguma alegria no incidente, e essa alegria os alimentava enquanto limpavam os destroços e reconstruíam as torres.

Mas os eventos não pararam por aí e estranhos e pequenos acidentes passaram a ocorrer. Ferramentas apareciam quebradas, a madeira apodrecida, pedras transformadas em pó, cordas corroíam-se e partiam, guardas morriam de formas misteriosas, aparentemente acidentais. O medo e fúria dos supervisores e arquitetos era maravilhoso de se observar e o povo dali fazia brindes secretos em nome do kami² misterioso que estava ali agindo.

Apenas uma casa de moradores não compartilhava da felicidade geral. Apesar de não terem dito nada a ela, Reiko sabia que seus pais estavam tensos, e a discussão que ocorreu logo quando eles acharam que ela estivesse dormindo varou a madrugada. Então, numa  noite especialmente quente de verão, incapaz de dormir apesar da exaustão, Reiko saiu de seu quarto e encontrou uma figura vestida de preto, cobrindo todo o corpo subindo pela janela do segundo andar.

Antes que pudesse entender o que acontecia, a pessoa estava ao seu lado com as mãos cobrindo sua boca. Então ela descobriu seu rosto e Reiko se viu olhando nos olhos solenes de sua mãe.

Após aquela noite, muita coisa mudou. Reiko aprendera que sua mãe não era uma pastorinha dos campos como haviam lhe dito, mas que nascera e vivera nas montanhas num clã de ninja, mortais mas honrados assassinos e espiões cuja história remontava centena de anos. Fugitiva desde uma emboscada que dera errado, ela se escondeu na pequena vila de pescadores e se apaixonou por um simples pescador.

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Apesar da resistência do marido, a mãe de Reiko passou a ensinar à filha alguns segredos do seu clã. Em que pese se recusar terminantemente a leva-la em suas incursões noturnas, quando ela aterrorizava os seguidores de Entobe, as duas passavam muito tempo juntas na escuridão da noite. Escalavam os penhascos de Onda Branca, praticavam com as espadas que sua mãe mantinha escondidas nos barcos, e transitavam furtivamente por sobre telhados e barcos. Reiko se mostrou hábil nas tarefas, finalmente havia algo interessante para fazer, um motivo para ter energias depois de dias e dias de trabalho pesado.

Então a mãe de Reiko foi longe demais. Pega em flagrante ao tentar sabotar um içador de pedras, matou vários supervisores antes de voltar correndo para casa. Escondeu seu equipamento o mais rápido que pode na estrumeira, pondo fim às atividade noturnas da família. Mas era tarde demais.

Furioso, Lorde Entobe em pessoa foi ao local das obras, com uma hoste de guerreiros, conjuradores e investigadores. Na tarde logo após sua chegada, ele parou a obra e ordenou que os moradores se reunissem próximo ao palanque erguido em sua honra. Reiko e sua mãe, ambas encarregadas de servir chá aos guardas aquela tarde, ficaram atrás da multidão, assistindo ao discurso de Entobe.

Se dirigindo a multidão, Entobe anunciou que o responsável pelos atrasos na obra havia sido encontrado e que a perfídia naquele local acabara. Então ergueu um objeto familiar, uma máscara negra que pertencia a mãe de Reiko, ainda fedida e suja com restos fecais da seu último esconderijo.

Então os soldados abriram suas linhas revelando o pai de Reiko, com mãos atadas e pés presos com manilhas. Era impossível não notar o profundo corte em sua garganta ou o sangue abundante que manchava sua camisa. Reiko deu um grito de terror e correu em direção ao pai, mas sua mãe a tomou pelo braço e trouxe de volta pra si, olhando nos seus olhos. “Corra minha aranhinha”, disse sua mãe. Então uma lâmina caiu de sua manga para sua mão e saltado por sobre a multidão, encontrou os guardas no meio do palanque.

Reiko correu. Usando todas as perícias que sua mãe lhe ensinara, ela saiu da vila evitando os guardas e cães de Entobe. Por dias ela seguiu ao longo da costa, caminhando por sobre as rochas quando a maré estava baixa, para evitar deixar rastros. Quando lhe pareceu que os homens de Entobe não mais estavam em seu encalço rumou leste para as montanhas, em busca do clã de sua mãe.

No fim das contas ela os encontrou, mas não foi o encontro que ela esperava. Ocorre que Entobe já havia contratado os Ninja para que eles caçassem os remanentes da família de Reiko. Então estava ela novamente fugindo e dessa vez não parou até encontrar a costa da estranha Avistan.

Hoje Reiko é mulher feita. Calma e distante, de língua afiada e olhar fustigante, conseguiu se manter viva numa terra onde a própria Minkai é uma lenda e Ninja não passam de contos de fadas exóticos. Em que pese ter estudado com os mais habilidosos ladrões e assassinos da região, Reiko ainda não conseguiu compreender completamente os detalhes e sutilezas do código de honra que sua mãe lhe ensinara, e parece cansada dos aparentemente infinitos bandoleiros de estradas e assassinos amadores da região.

Mesmo assim, a escassez de Senhores corruptos como Entobe em Andoran – sua atual morada – é levemente reconfortante, e ela ouviu rumores que um braço secreto dos Cavaleiros da Ordem da Águia³ parece ser perfeito para ela. Mas independente dos rumores serem verdade ou não (e dela ser aceita ou não) Reiko pensa nesses últimos dez anos em solo estrangeiro e nos que estão por vir como exercício. Um dia ela estará pronta e voltará por onde veio até Minkai quando tanto Entobe quanto os traidores do clã de sua mãe finalmente entenderão o tamanho do erro que cometeram.

Essa é a primeira Icônica das classes alternativas, semana que vem Hayato, o Samurai.

Fred Torres

Ilustrações de Wayne Reynolds (caixa) e Kiri Ostergaard Leonard (topo)

*Traduções não oficiais*

¹ White Wave
² Deus(a) em japonês
³ Eagle Knights

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Sobre o Autor: Dom Freddonci

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