O Impasse – O Caminho dos Heróis Parte III

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Continuando as aventuras de Sandy Benelovoice, Erzurel e Aescriel agora pela masmorra do lich Anacrael em Verbobonc, o grupo prosseguia com novos conhecimentos fornecidos por Aescriel no final do último artigo. Nas próximas linhas o trio se depara com uma difícil decisão, que pode afetar o futuro de todos…

Essa é uma história original escrita por Bruno de Brito
Contribuição na revisão: Daniele Sotero

Aescriel revelou a dupla de heróis uma história antiga, e pouco foi compreendido por eles. Fosse como fosse, aquilo precisava ser dito. Aquela história ele havia guardado consigo por tempo suficiente, já era hora de outros conhecerem quem era Anacrael e somasse a ele no intuito de destruir o lich.

Aescriel | – Precisamos prosseguir, estamos perto do príncipe.

E de fato o vampiro tinha razão, a jornada não levou mais que 20 minutos andando por entre corredores, câmaras e tanques de água escura, para o trio chegar até um portão duplo com cerca de 4 metros de altura e 3 metros de largura, do outro lado um corredor prosseguia. A frente um ogro vestindo uma armadura completa com entalhes similares aos utilizados pelos esqueletos Karn’Athi. O ogro era um morto vivo a serviço do lich e ele não estava só, dois esqueletos Karn’Athi com cajados e cerca de 10 zumbis somavam-se a guarda da passagem. A batalha que se seguiria seria dura.

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Ogro Karn´Athi

Mais rápido e habilidoso que os opositores Aescriel foi o primeiro a agir, e falando palavras intrincadas e complexas, somadas a gestos precisos e movimentos harmônicos ele invocou uma esfera do tamanho de um punho e entre suas mãos essa esfera ganhou calor e força, arremessando na sequência contra os inimigos. Uma forte explosão com cerca de 12 metros de diâmetro abateu sobre todos inimigos, todos os zumbis estavam carbonizados e definitivamente mortos. O portão havia sido aberto tamanha a violência da esfera explosiva, porem os esqueletos conjuradores e o ogro foram protegidos por uma fina camada de proteção azulada que os revestia. Eles eram resistentes a magia!

Erzurel invocou suas preces criando uma esfera com cerca de 3m de raio centrada nele que protegeria seus aliados contra o mal, suas mágicas estavam próximas do fim. O milagre invocado no confronto anterior houvera lhe consumido muitas preces de círculos menores. Agora ele focaria em cobrir a retaguarda de Sandy combatendo e mantendo a paladina de pé. Essa era a sua missão ali.

Sandy queria um combate rápido e começaria pelos conjuradores, sua perna doía mas conseguiria combater, e junto com Erzurel ela avançou, Exórdios brilhou, e aquele brilho traria ruína aos seus inimigos, os puniria com a força dos justos, com a força de Heironeous.

O ogro avançou, os dois esqueletos ficaram para trás e cada um iniciou conjurações diferentes contra os seus inimigos. Um invocou uma poderosa mágica que cobriu os heróis com uma fina camada prateada. Aescriel e Sandy conseguiram resistir, mas Erzurel sentiu seus movimentos mais lentos. O outro esqueleto lançou um raio de cor vermelha incandescente contra a paladina e outro contra Aescriel, os raios os atingiu em cheio. O ogro em investida com sua clava coberta por uma capa de ferro com esporões avançou contra Sandy e somente foi freado graças a habilidade da paladina que ergueu o escudo no instante preciso para evitar a poderosa pancada que vinha.

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Aescriel

Com o ogro a frente do combate Sandy não poderia avança para atacar os esqueletos arcanos, e ela decidiu deixa-los para Aescriel que já se mobilizava em direção, não antes de invocar mais uma de suas mágicas. Novamente invocando palavras secretas, somadas a gestos específicos ele produziu o efeito inverso invocado pelo esqueleto – Velocidade! A lentidão de Erzurel fora cancelada e tanto ele quanto Sandy agora estavam céleres. Olhando para a paladina na passagem e acenando positivamente ambos cumpriram suas partes no plano.

Sandy e Erzurel teriam que dar cabo do ogro e ele deveria manter ocupados os esqueletos. E assim foi feito.

O combate foi árduo, o ogro tinha muita resistência aos golpes de Sandy, mesmo abençoados com a punição contra o mal, era difícil ultrapassar as defesas do ogro que além de hábil, conseguia absolver parte do dano que sofria graças a magia imbuída no peitoral confeccionado por Anacrael. Erzurel garantia a paladina a cura necessária para manter-se firme e quando não atacava junto com a paladina gerando uma importante vantagem tática.

Sandy sofreu duros golpes e Erzurel já havia se juntado a peleja após o termino de suas magias. O sacerdote de Pelor seria puramente um combatente e sabia que mais que nunca precisava apoiar a mestre de armas Sandy Benelovoice. Mas mesmo com seus esforços e sabedoria não pôde impedir a queda de Sandy. A paladina havia recebido uma forte pancada na cabeça do ogro perdendo a consciência quase instantaneamente. Aescriel já havia derrotado um dos karn´s, mas o outro era mais poderoso e o combate mágico seguia com explosões, feixes de luz, gases e efeitos ainda mais danosos era conjurados pelos arcanos mortos-vivos. Aescriel viu quando com uma pancada seca a paladina tombou, mas seu adversário não lhe dava descanso e sem trégua Erzurel teria que aguentar o combate contra o ogro.

Erzurel sabia que Sandy precisava de sua ajuda, e para de combater não era uma opção, cada ataque bem sucedido do ogro esmagava sua armadura e criava-lhe grandes hematomas sob a roupa. Só havia uma alternativa – lutar e ele lutou. A cada golpe bem-sucedido ele clamava por Pelor, a cada ataque que recebia, clamava pela resiliência da luz. E assim em um ataque desesperado Erzurel viu quando seu martelo começou a emitir estalos de luz, como ocorre quando um martelo atinge uma lâmina incandescente sobre a bigorna e ele orou. Diante de seu inimigo Erzurel orou, com um semblante sereno aceitou o que quer viesse de seu inimigo, ele orava e seu inimigo lhe atacava insistentemente porém seja por sorte do sacerdote, ou azar do ogro, os ataques estavam errando! O ogro havia errado o terceiro ataque e começou a desconfiar de alguma bruxaria de seu oponente. Simplesmente a clava desviava de Erzurel como se estivesse com um campo magnético em seu entorno. E o ogro insistiu, mas o erros se repetiam e com uma tentativa diferente ele avançou com intenção de agarrar seu oponente e espreme-lo entre seus fortes braços, mas que ocorreu foi algo mais estranho ainda, o ogro pôde sentir a força no entorno de Erzurel e essa força o repelia como imãs com igual polaridade sendo aproximados.
Erzurel orava e quando abriu os olhos quase se espantou, mas sereno como estava continuou a observar o ogro de quase 2,50m tentando agarrá-lo e em vão. Erzurel sentia que não venceria o seu inimigo, fosse com armas ou com fogo, mas com sua vontade, se fosse maior que que seu oponente, ele sabia, teria vencido. E o ogro insistiu, voltou a atacar, agora selvagemente, uma hora aquela cúpula que envolvia o seu alvo se romperia e ele destruiria seu inimigo, aquilo não poderia durar para sempre.

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Erzurel

Erzurel entendeu seu propósito, ele não era uma arma de combate, nunca o seria. Ele era a renovação, ele era a vida, ele era a cura… a cura. E com um estalo ele olhou para Sandy no chão e orou pela sua companheira. Ele sentiu quando a barreira enfraqueceu e um golpe atingiu-lhes o obro violentamente, o ogro sorriu, sua insistência estava dando-lhes frutos, ele só precisava continuar. Erzurel sabia que dividir sua oração havia enfraquecido a cúpula, mas ele precisava fazer aquilo e ele viu a paladina recobrando os sentidos. Erzurel estava transferindo sua própria energia vital para a paladina, o pouco que lhe restava. Um único acerto do ogro em sua frágil proteção e tudo estava acabado. Aescriel estava visivelmente enfraquecido, ambos os mortos vivos estava no limite de suas forças, e logo aquele combate também teria um desfecho.

Foi quando o ogro ouviu uma voz, vindo de suas costas:

– Vire-se maldito e encare o seu fim!

O ogro começou a se virar, surpreso com o retorno de seu adversário. E ele viu algo mais, além daquele combate. Uma figura oculta nas sombras passando a largo do combate e atravessando o portão duplo, mas pouco importava, seu inimigo estava de volta e ele precisava por um fim àquele embate. A paladina estava com metade do rosto lavado em sangue, mas estava de pé. Sua constituição denunciava que estava erguida por meramente uma fagulha de vida, uma insistência nata desta classe. Incansável ela sentiu a magia retornando a si junto com os poderes de Punir o Mal mais a magia divina de Heironeous incandesceram Exórdios e o ataque veio.

O ogro teve apenas a reação instintiva de erguer os braços para frear o ataque lateral. Um arco de luz branca com uma eletricidade azul varreu a área em que o ogro estava e um cheiro de carne queimada subiu ao ar. O ogro piscou os pequenos olhos e cuspiu sangue. Sobre o peso do próprio tronco ele cedeu caindo a parte superior do corpo para a direita e a parte inferior cintura e pernas para a esquerda. Tombando de joelhos Erzurel e Sandy sorriram um para o outro, e a paladina transmitiu um olhar de profunda gratidão para o sacerdote que devolveu o olhar com uma ternura verdadeira.

Uma explosão! Sandy e Erzurel se viraram rapidamente e viram a parede de um dos lados da câmara fumegando. No lugar apenas ossos e uma armadura, um peitoral feito em aço azul. Aescriel venceu o último inimigo. A um elevado custo. Estava exaurido magicamente.

Desta vez, o vampiro fora inteligente, evitando esgotar sua reserva de sangue com magias, usando apenas o seu conhecimento arcano para enfrentar os inimigos, entretanto toda a reserva houvera sido utilizada. Apenas 3 Karn´Athis, houvera representado uma dura luta. Os servos de Aberain eram muito poderosos. O Mago vampiro refletia enquanto se aproximava da dupla Sandy e Erzurel.

A medida que viram Aescriel retornando, Sandy e Erzurel bebiam suas últimas poções e notavam o cortes e queimaduras sofridas por Aescriel também desaparecendo através de sua cura “natural” vampiro.

E foi Erzurel o primeiro a romper o silêncio:

– Esse combate foi muito duro. Estou esgotado, Sandy muito ferida ainda e você?

Observando a paladina e o sacerdote Aescriel disse-lhes:

– Sim, esse combate foi muito difícil. Cheguei a pensar que não conseguiríamos, mas bom, muito bom, conseguimos!

Precisamos descansar e recuperar destes ferimentos, retrucou o clérigo de Pelor. Esgotei as bênçãos de Pelor. Vencemos o combate contra o ogro graças a um milagre. Pelor interpelou por nós e vencemos, mas chegamos em um limite. Sandy suas magias voltaram?

– Graças a Heironeous, sim. Aqui me parece um local “seguro”, podemos descansar 1 hora ou 2.
– Não. Disse Aescriel. Estamos em território desconhecido e o combate pode ter alertado outros karns. Estamos próximos da biblioteca laboratório. Lá podemos descansar. Ao que me recordo, esse portão duplo marca o início do domínio de Anacrael aqui. Não estamos longe da sua biblioteca, lá há apenas uma entrada e saída. Irei na dianteira agora. Sandy cubra nossa retaguarda e Erzurel mantenha distância do combate por hora.

Sandy e Erzurel concordaram com a estratégia do vampiro e assim seguiram. Uma série de corredores e pequenas salas foram atravessadas pelo grupo, até que finalmente eles chegaram até uma porta de aço e madeira reforçados. Aescriel retirou de um dos bolsos de seu manto uma chave prateada e a colocou na porta, um brilho mágico se desfez e um som de mecanismo sendo acionado se fez audível ao grupo. Aescriel empurrou a porta lentamente e o aposento se iluminou magicamente. Eles haviam chegado à biblioteca e laboratório do lich Anacrael.

Não era uma câmara grande. Na verdade ela se dividia em duas salas ovais, uma maior contendo estantes com inúmeros livros, e outra menor contendo um laboratório, uma estante e objetos químicos em frascos e artefatos estranhos ao grupo, feitos em vidro.

Aescriel anunciou ao grupo que aqui poderiam descansar. Ali em algum lugar Aescriel esperava encontrar a poção dourada, deveria estar ali.

Sandy notou Aescriel procurando insistentemente por alguma coisa e ao questionar o vampiro anunciou que estava procurando informações que pudessem ser úteis ao grupo. Sandy desconfiou e continuou a monitorar os movimentos do vampiro, sem importuná-lo mais.

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O Livro de Magias

Erzurel percorria os livros, encontrou tratados antigos, um atlas com cerca de 1 metro por 1 metro, feito em pele de carneiro da região central de Flanaess, além de tratados, livros alquímicos e um livro em especial que lhes chamou a atenção – Magias Avançadas da Escola de Evocação, Abjuração e Necromancia Volume I. vasculhando um pouco mais ele encontrou alguns pergaminhos mágicos, um total de 5, todos arcanos. O sacerdote os guardou. Aescriel não encontrou a poção. Em seu íntimo um sentimento de alívio o perturbava. A poção não estava ali. Outros líquidos interessantes foram encontrados e ele os guardou. O sacerdote lhes veio com o livro de magia encontrado, mas os olhos do vampiro não brilharam tanto quanto o sacerdote imaginou, entretanto Aescriel quis ficar com o tomo e os pergaminhos.

O grupo decidiu descansar ali mesmo. Aescriel disse-lhes que poderiam descansar, e assim Sandy e Erzurel acabaram caindo no sono, estavam exaustos, dormir um pouco seria bom. Sandy ainda demorou para dormir, e na verdade ela não sabe quanto tempo durou seu descanso. A paladina ouviu vozes. A princípio achou que era fruto de seu sono, mas logo depois percebeu que as vozes eram reais e não fruto de sua imaginação. Buscando prestar maior atenção, sem revelar que já estava desperta, Sandy ouviu a voz de Aescriel e de outra figura, a voz era inconfundível, era Lázarus. As duas figuras conversavam na entrada da câmara e a paladina ouviu:

Lázarus | Encontrou o que veio buscar aqui, meu nobre amigo vampiro?
Aescriel | Não tenho tempo para os seus jogos Lázarus, eu preciso desta poção!
Lázarus | Você é um tolo Aescriel, invejo sua condição. Se tivesse sido abraçado por Aberain, não desejaria jamais tornar-me mortal novamente. Com a eternidade diante de mim, buscaria poder e compreensão sobre os limites da magia e do corpo. Você é um tolo Aescriel. Mas você está correto, tempo para mim, diferente de você é algo precioso.
Aescriel | Você não sabe o preço que esta condição me cobrou Lázarus, e se soubesse, jamais a desejaria. Sou um escravo da vontade do meu mestre. Jamais podendo erguer-me contra ele. Sou um servo de seu eterno desejo e não posso negar-lhes quaisquer pedido. Cometi atos impensáveis em nome de uma servidão que não tem fim. Você não sabe o preço que tenho que pagar.
Lázarus | Talvez você esteja certo, meu caro vampiro. Agora vamos, não chegamos até aqui jogando limpo. Você tem algo que eu quero e eu tenho algo que você quer. Entramos nesta empreitada sabendo que um já possuía o que o outro desejava. Descobri isso tarde demais, não teria entrado aqui se soubesse que você estava com o Necronomicon, o Livro dos Mortos, desde o início. Eu por outro lado não possuía a poção e estava em desvantagem, mas enquanto vocês brincavam com os karns de Aberain eu segui o caminho, passei por vocês com o cuidado necessário para não ser percebido, ainda que tenha tido a impressão de que o ogro me notou, mas isso pouco importa agora. Vamos ao que interessa, meu braço doí terrivelmente com esses vermes maculando minha carne, um pequeno preço a se pagar, mas sem magia não teria conseguido.

Aescriel | Como você conseguiu adentrar aqui, se a chave estava comigo?
Lázarus | Para quê existem cópias?
E mostrando uma chave idêntica feita em prata, o necromante jogo-a aos pés de Aescriel.
Lázarus | Confesso que tive de pagar muito caro para o ferreiro que conseguiu reproduzir o código, e um pouco mais para o fizesse em prata, o único metal capaz de desativar a armadilha mágica contida na passagem. Forçar com uma cópia vagabunda poderia ser uma morte certa. Agora Aescriel, não teste minha inteligência, ambos sabemos, o jogo acabou. Dê-me o livro e eu lhe direi onde está sua poção.

Sandy já estava considerando a possibilidade de avançar contra o necromante e subjugá-lo, quando suas últimas palavras fizeram apenas ela se conter. Lázarus não era tolo. E que livro era esse que ele mencionava? Era hora de acabar com aquilo.

Sandy | O que tem este livro?

A esta altura Sandy já havia despertado sutilmente Erzurel com seus pés e ambos estavam atentos ao diálogo. Ao sinal da paladina ele também se levantou pegando sua arma e se preparando para um eventual combate.

Aescriel | Sandy, é melhor você ficar de fora dessa discussão. Erzurel por favor se contenha também.
Sandy | O que está em jogo aqui Aescriel? Nada que venha de Lázarus ou negociado com ele é bom. O que é este livro?
Lázarus | O tratado Lich. Um manual antigo e complexo de como se tornar o morto-vivo mais poderoso.

Estupefatos, Sandy viu quando Erzurel apertou firme o cabo de sua arma e deu um passo a frente.

Erzurel | Tal blasfêmia deve ser queimada, isso sim! Um lich representa o topo da maldade. Não vê o que este tal de Anacrael é, a perturbação que ele causa?
Lázarus | Esse discurso maniqueísta não, por favor meu caro. O bem e o mal são perspectivas desagradáveis e ultrapassadas. Aescriel, essa discussão se prolongou além do razoável. Dei-me o livro e lhes digo onde está a poção.
Aescriel | E quais garantias eu tenho que diz a verdade, que não me enganarás?
Lázarus | Nada lucro com este engodo, veja bem, não quero um vampiro vingativo atrás de mim. Já tenho inimigos demais.

Ao dizer isso, Lázarus lançou sobre o grupo seu olhar obtuso e com certo desprazer.

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Lázarus colocou o grupo em um impasse.

Aescriel | Sandy, Erzurel, há todas as possibilidades nesta vida de impedir Lázarus, assim como Anacrael e demais vilões que devemos enfrentar, mas para mim as possibilidades são poucas. Meu auto-controle depende do controle de uma besta interior que devora minha moral, minhas convicções, minha tendência. E a cada ingestão de sangue fico mais próximo da “besta” e longe de Aescriel. Por favor eu peço, me ajudem.

Sandy ouviu as palavras de Aescriel, olhou para Erzurel e suavemente depositou sua mão sobre a do clérigo, dando um sinal negativo com a cabeça.

Sandy | Sacerdote de Pelor, seu que não é fácil para você, não o é para mim também, mas sem Aescriel, não teremos Thrommel, e Aescriel nos deu todos os motivos para confiar nele. Daremos este voto de confiança Aescriel. Entregue o livro, mas antes Lázarus, você nos trará a poção aqui.
Lázarus olhou a paladina nos olhos, Erzurel e finalmente a Aescriel.
Lázarus | Não me tome por tolo paladina. Pensas que não vi que seus poderes e mais notadamente sua aura do bem não estavam com você? Acho que sou idiota? Suas próprias convicções estão em dúvida, e justamente por isso acha que posso acreditar nas palavras de uma ex-paladina?
Resignada Sandy se calou. Não era uma total verdade, mas haviam incertezas no momento que ela adentrou aquela masmorra, dúvidas que agora não existiam mais, mas que aquele verme explorava com inteligência e sabedoria. Que argumento usar contra ele?

E foi quando Erzurel disse:

– Pode estar parcialmente correto sobre a paladina, necromante. Mas a minha palavra vale um escrito, não pode ser apagada, mudada ou obliterada. Traga-nos a poção, ou vejo nossa ira cair sobre ti, e não haverá noite ou dia que você possa descansar tranquilo, sem o medo constante de ver a porta de sua fortaleza ou quarto de estalagem sendo arrombada ou destruída por aqueles que um dia você ousou desafiar. Como servo de Pelor, lhes dou a minha certeza. Traga-nos a poção e Aescriel lhe passará o maldito livro – agora!

As palavras do sacerdote era carregada de uma ira que impressionou até mesmo seus aliados e não havia dúvida ou falsas ameaças. Sandy olhou com orgulho para o seu companheiro sacerdote. Ele havia entrado um naquela masmorra e agora havia evoluído internamente, ascendido a um novo herói.

Lázarus | Está bem sacerdote, está bem. Pegarei a poção.

E se afastando sem dar as costas, o necromante desapareceu nas sombras do corredor que levava até a biblioteca.

Aescriel | Obrigado Erzurel.

Se afastando em direção ao laboratório, Aescriel recuou para as sombras do local.
Erzurel se sentou cansado, havia muita tensão ali, e já era hora dele dividir o fardo com a paladina Sandy Benelovoice. A partir daquele momento ele assumiria uma nova postura. Desde o Ardil do Vampiro, ele havia sido passivo, deixado para a paladina as decisões políticas que conduziram o grupo até ali. Já era hora de sua postura mudar. O sol não pode ser oculto ou ficar em segundo plano perante as sombras, seu brilho é soberano, e ele assim o seria também.

Levou um par de horas e enquanto isso Sandy acabou dormitando. A paladina estava muito cansada e a posição itinerante de Erzurel lhe gerou uma tranquilidade estranha, porém boa. Em condições normais ela ficaria vigilante, entretanto nem se deu conta quando o sono a encontrou e um relaxamento invadiu seu corpo.

Nas sombras do laboratório, apenas dois globos oculares amarelos e íris escura como a noite, observava o local onde o sacerdote aguardava vigilante e a paladina descansava.

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Aescriel das sombras

Em seus pensamentos uma luta interna era travada. Duas personalidades dialogavam, o Vampiro e o Elfo, ambos estavam sentados em uma sala de paredes escuras e o único som existente ali era das vozes das figuras, dentro da consciência de Aescriel. Uma – o vampiro, questionava as vantagens de se tornar frágil e limitado novamente, enquanto a outra as vantagens da condição original. O diálogo não trazia raiva, imposição ou mesmo ignorância. Um conhecia muito bem a condição do outro, para saber e entender o que estava sendo dito e colocado na mesa. O Aescriel vampiro já havia sido aceito pelos seus companheiros, até mesmo a paladina se convalesceu da condição de fome e deu-lhes seu sangue sagrado, como um sacrifício em nome da lealdade. O vampiro ainda argumentou que aquela empreitada havia conduzido a paladina em um caminho de redenção, e um novo futuro estava sendo escrito a partir de sua penitente estrada.

O elfo ponderava, eram inegáveis as verdades colocadas pela consciência do morto-vivo. O vampiro era inteligente, não tratou da condição de imortalidade, era algo que não poderia ser colocado na mesa, como elfo a longevidade da raça era famosa, havendo registros de elfos em Celadon e em Povo Alto que chegaram a viver 1.000 e 2.000, respectivamente, sem uma informação de sua morte ou conhecimento de seus fins.

E agora, o que ele faria, o que era melhor para si, ele decepcionaria seus companheiros se negasse a poção dourada, era isso mesmo que ele queria?

Os passos foram audíveis a Erzurel, e a paladina foi tirada de seu cochilo com um bocejo quando o sacerdote se moveu retirando o encosto providencial do amigo. Lázarus surgiu e foi o primeiro a notar o livro disposto no chão a frente da passagem. Sandy e Erzurel olharam para o laboratório e não havia sinal de Aescriel e as caras de espantos da dupla foram suficientes para Lázarus compreender que o vampiro havia feito uma escolha sábia. Ele sorriu, mas tentou ao máximo disfarçar sua vontade de gargalhar daqueles tolos. Como era frágil a fé deles em si e nos seus…

Lázarus | E então, ainda temos um acordo?

E foi Sandy que respondeu:

– Pegue seu maldito livro, dê-nos a poção, suma e torça para nossos caminhos não se cruzarem, ou não. Iremos nos encontrar, tenho certeza disto.

Lázarus seguiu a orientação da paladina. Ele queria muito debochar da decepção e desapontamento que era claro nos olhos do sacerdote e da paladina. E não resistindo, disse-lhes:

– Vocês acreditaram mesmo que… Aliás, não precisa responder. Aqui está a poção. Mas darei um conselho a vocês dois. Esqueçam ele. Quem entra no caminho da escuridão, segue por um labirinto cuja saída é difícil e custosa. Ele tomou uma decisão inteligente, e seu eu fosse vocês, sairia deste local.

E se virando em direção ao corredor, disse:

– Sigam os riscos em cruz nas paredes, no local onde enfrentaram os karns, pegue a passagem a direita e sigam. Cuidado a câmara possui um guardião poderoso e no estado que vocês estão, terão um duro embate. Não lhes recomendo o descanso, seu príncipe não durará muito, cada grão de areia que passa pela ampulheta…

Adentrando na escuridão, os aventureiros não ouviram o resto que o necromante tinha a dizer. O desaparecimento de Aescriel era um forte indício de que ele havia tomado a sua decisão, seus companheiros não queriam fazer o julgamento, mas a dúvida era pertinente e ainda que não comentassem era o que estava em suas mentes naquele momento. Entretanto pegaram a poção, o sacerdote a guardou. Em seus íntimos eles queriam acreditar que havia uma chance. A dupla recolheu suas coisas e correram até o local que enfrentaram os mortos-vivos mais fortes e buscaram a passagem informada por Lázarus.

Continua em: Por Erzurel!

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Sobre o Autor: Bruno de Brito

Mestre da campanha "Aurora dos Conflitos", ocorrida no cenário de Greyhawk. Entusiasta do sistema Pathfinder, fã de Magic: The Gathering e churrasqueiro nas horas vagas.

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