Uma palavra antes
Este é o maior evento da história recente de Flanaess, se muito me motiva hoje estudar política, geografia e história, creio que esse interesse originou por leituras assim. As Guerras de Greyhawk, é uma longa história, marcada por reviravoltas e eventos surpreendentes, onde o mal ora vence, ora é vencido pelo bem e mesmo por forças malignas. O interesse e os sentimentos humanos regem o carma dessa narrativa do inicio ao fim, é uma longa leitura e espero que apreciem. Grande parte, senão sua totalidade foi minimamente editada para servir concordantemente aos elementos contextuais do cenário atual de Flanaess (campanha em que eu narro).
Uma boa leitura.
DM. Brunus
Introdução
Um evento definitivo na história recente do continente de Oerik foi a série de conflitos conhecidos como As Guerras de Greyhawk, ocorrida 582 – 584 CY (Ano atual da ambientação: 592 CY).
Os filósofos dizem que a guerra é sempre nascida da luxúria — luxúria por poder e saques. Talvez esta concepção esteja certa para as pequenas incursões e conflitos fronteiriços que atormentaram Flanaess no decorrer da história. Porém, a grande carnificina dos anos recentes não pode ser explicada por mera luxúria. Ao invés, uma complexa alquimia de paixões mortais e fraquezas foi o que arremessou nação contra nação nas guerras que reformularam politicamente e geograficamente Flanaess.
Para entender as chamadas Guerras de Greyhawk, então, é preciso compreender o seu elenco de personagens. Este elenco possui grande variedade — de semideuses à párias, de guerreiros heroicos a espiões de capuzes vermelhos. Juntos, eles compreendem um grande “dramatis personae“, o elenco de uma grande tragédia.
Os Antagonistas
Iuz, o Ancião
A Sua Mais Profana Eminência, Lorde da Dor, Demônio do Norte, Filho de Grazz’t, Mestre dos Terríveis e Medonhos Aspectos, Iuz o Maligno, Iuz o Terrível, Iuz o Ancião, Iuz o Velho — assim este sórdido semideus era saudado pelos súditos corruptos e malévolos que o serviam. Regendo da rubra-enegrecida Dorakaa, a Cidade dos Crânios, Iuz carrega um desejo indisfarçável de dominar toda a Flanaess. Ele ganhou notoriedade pela primeira vez, entretanto, um século antes das Guerras de Greyhawk.
Em 479 CY, a terra que hoje é chamada Império de Iuz, era uma turbulenta coleção de feudos independentes. Os príncipes insignificantes que regiam estes lotes de terra disputavam para herdar as terras de Furyondy, que naquele tempo se estendia até ao norte. Entre estes príncipes, havia um déspota desprezível das Colinas Uivantes, que morreu naquele ano e deixou a terra para um filho de origem questionável — Iuz. Estranhamente, os rumores descreviam alternadamente o “filho” como um velho ou como um demônio de pouco mais de dois metros e dotado de uma face selvagem e brutal.
Depois que este incipiente Senhor do Mal reorganizou sua pequena propriedade num acampamento militar, sua atenção virou-se para os feudos vizinhos. Fingindo uma postura meramente defensiva, Iuz trabalhou em segredo para atiçar seus vizinhos despóticos uns contra os outros. Na hora em que os recursos e a fibra destes príncipes se esgotavam pelo conflito, Iuz apossou suas terras. No fim de seu primeiro ano no trono, Iuz tinha assimilado os três feudos que cercavam suas terras.
O domínio de Iuz começou a se espalhar como bolor num pêssego passado, primariamente devido à sua utilização de certas tribos humanoides. A maioria dos príncipes humanos considerava orcs e goblins como seres inferiores e infestados de vermes, uma atitude que foi melhor exemplificada por Sua Eminência o Conde Vordav, que jurou “queimar qualquer choupana visível desta escória miserável”[1]. Apesar desta atitude ter permitido a estes príncipes insignificantes “manter um falso senso de pureza das velhas tradições Aerdy,” isto também significou que seus exércitos seriam rapidamente superados por Iuz, que fazia uso total da crueldade e taxa de fecundidade orc.
[1] Anais da Família Vordav. História do feudo de Vordav que incorpora grandes porções da Floresta Vesve, uma área conhecida pela sua viciosa população de goblinoídes. O comando citado apareceu em uma ordem para um dos cavaleiros de Vordav que guardavam a fronteira. O cavaleiro, agora desconhecido, aparentemente cumpriu a ordem ao pé da letra, e foi justamente usando essa frase que Iuz reuniu os goblins e orcs de Vesve vários anos mais tarde simplesmente lembrando-os de chacina de Vordav.
Na medida que mais e mais feudos caíam para orcs e goblins, um fluxo crescente de refugiados migraram para Furyondy, ao sul, relatos implausíveis sobre os poderes de Iuz se espalhavam como areia no vento. De acordo com tais rumores, Iuz tinha construído uma estrada pavimentada de crânios entre as Colinas Uivantes e Dorakaa, sua nova capital.
Além disto, as estórias diziam que as torres de vigília de Iuz que guardavam suas estradas eram abastecidas com a carne de homens vivos. Era dito que o próprio Iuz livrou-se de sua forma envelhecida, crescendo a um tamanho colossal[2] – ou assim as estórias contavam. Apesar de que uma compreensão posterior e mais acurada pudesse desmentir tais estórias, os rumores naquela época espalharam pânico na costa sul do Lago Whyestil. O Rei de Furyondy, Avras III, então focou a atenção para sua fronteira norte, para prevenir a expansão do poder de Iuz em direção às terras centrais de Furyondy.
[2] É bem possível que o próprio Iuz tenha criado e disseminado estes rumores.
Entretanto, a posição do Rei Avras[3] estava comprometida pela independência de seus nobres — particularmente os Grandes Lordes do sul, que permaneciam isentos das ameaças por Iuz. Muitos destes senhores sulistas aproveitaram a oportunidade para arrancar concessões de seu pressionado rei, privando-o de das taxas e do controle que ele logo precisaria. Tais concessões despertaram a ira dos marqueses nortistas, que se sentiram traídos pelos Grandes Lordes. Em reação a isto, estes nobres infiltraram a Ordem do Cervo, uma pequena facção religiosa na época, e paciente e deliberadamente transformaram-na numa irmandade militar leal a eles.
[3] Essa distração preveniu Avras III de uma assimilação planejada das Terras dos Escudos. Livre da ameaça de uma ação militar, o Conde de Walworth resistiu às exigências de vassalagem para a coroa de Furyondy. Esta resistência provocou repercussões graves um século depois.
Foi assim então que a ameaça externa de Iuz conseguiu partir Furyondy internamente. Em 505 CY, uma divisão em três partes havia crescido entre a nobreza. A facção mais poderosa era a dos Grandes Lordes do sul, que usaram a ameaça de Iuz para alavancar suas terras para fora do controle real. Segundo em poder era a Ordem do Cervo, que crescia em unidade e força para se opor às escaramuças fronteiriças de Iuz. A facção menos poderosa era a do Rei Avras III com suas terras e parentes. Retido no território situado entre as facções mais poderosas, o rei se esforçava futilmente para satisfazer aos dois lados.
Em um momento crucial, entretanto, o poder crescente de Iuz foi contido. Seja por sorte, sabedoria ou coragem, um pequeno bando de aventureiros conseguiu confrontar o Senhor do Mal e aprisioná-lo abaixo das torres do Castelo Greyhawk. Como ou por que eles realizaram esta façanha não é conhecido, pois estes fatos foram há muito perdidos no tempo — perdidos junto com todos os heróis participantes exceto um: o mago Zagyg o Louco[4].
[4] Apesar da importância de Zagyg neste evento, ele não fez a captura sozinho. Ele contou com a ajuda de seus aliados Murlynd, Heward, Keoghtom, Kellanen (todos estes, assim como Zagyg, atingiram status de divindade futuramente), bem como a ajuda singular do avatar de st. Cuthbert – uma ação extremamente incomum dada a não-interferência dos deuses de Greyhawk. A participação de St. Cuthbert na captura certamente explicaria o grande ódio de Iuz por esta religião.
Independente dos motivos e métodos, os feitos destes heróis resultaram na salvação de Furyondy. Privados de seu senhor, os exércitos de orcs e goblins que se acumulavam na fronteiras de Furyondy rapidamente debandaram. Criaturas bárbaras lutaram contra os regentes de Iuz e conquistaram para si o território da costa leste e oeste do Lago Whyestil. A leste do lago, chefes selvagens e humanos inescrupulosos fundaram em 513 CY a Sociedade dos Chifres, mas as profundezas da Floresta Vesve permaneceram indomadas por mais de meio século, até o advento das Guerras de Greyhawk.
Apesar dos exércitos de orcs e goblinoídes terem recuado das fronteiras, Furyondy estava destroçado demais pela dissensão interna para continuar a perseguição. Na medida que a pressão do norte diminuía, o Príncipe Belvor III, filho do Rei Avras, cortejava intensamente a Ordem do Cervo. Utilizando as suspeitas nos Grandes Lordes sulistas a seu favor, Belvor III arregimentou Ordem do Cervo para a facção real. Após a morte de seu pai, Belvor utilizou seu poder monárquico para forçar os Grandes Lordes de volta para sua influência. Apesar de seu reinado ter sido relativamente curto[5], a coalizão de Belvor permaneceu, mantendo unido o reino turbulento durante os anos de regência de seu filho.
[5] Belvor III morreu durante o sono em 537 CY, após um reinado de 15 anos. Alguns nobres acusaram os Grandes Lordes de assassinato apesar da suspeita sobre os Terríveis e Medonhos – os Hierarcas da Sociedade dos Chifres – terem clamado que sua magia trouxe a morte ao rei. Uma comissão de magos e clérigos liderada pelo Lorde Throstin da Ordem do Cervo decretou que o Rei Belvor morreu de causas naturais durante o sono. Os Grandes Lordes foram isentos de culpa, mas os Hierarcas nunca retiraram sua declaração: tal feito só aumentava a reputação dentro da Sociedade dos Chifres.
Desde que assumiu o trono de Lorde Throstin, Regente do Reino, Belvor IV se esforçou em fortalecer Furyondy, planejando a futura conquista das terras da Sociedade dos Chifres e Iuz. Apesar disso, as relações internas no reino não estavam estabilizadas. As facções rivais, apesar de muito mais fracas, ainda permaneciam e encontravam novas causas para apoiar. Os esforços de Belvor para reformar e fortalecer o reino desfizeram muito do trabalho anterior de seu regente. Descontente, Lorde Throstin obteve um controle crescente sobre Ordem do Cervo e pôde então burocratizar a pretensão de Belvor pelo poder absoluto.
Com toda esta turbulência dentro de suas fronteiras, o Rei Belvor IV virtualmente ignorou o retorno de Iuz em 570 CY. Iuz, por sua parte, procurou não atrair a atenção das terras ao sul. A sua saída repentina provocou desordem no reino e até que ele pudesse reafirmar autoridade absoluta sobre as tribos de orcs e goblins, ele se contentou em ser ignorado por seus inimigos.
O Louco Rei Supremo
Antes do conflito entre Iuz e Furyondy começar sua lenta e inflamada evolução, eventos de igual importância se desenvolveram ao leste. Bem antes, no palácio de Rauxes, coração do Grande Reino, descendentes da Casa Naelax corriam por seus salões, exterminando brutalmente cada membro remanescente da Casa regente de Rax. Elevada ao poder pelo sangue e traição, a Casa Naelax estava destinada a reinar através do terror, pois a loucura fluía no sangue de sua progênie[6].
[6] A causa precisa e a natureza desta loucura instigou muito debate entre os estudiosos do Grande Reino. Pomfert o Velho, um dos Oito Sábios de Rel Mord, considera que a loucura dos Reis Supremos possui origem mágica. Citando o epíteto do Rei Supremo, “vidente diabólico”, Pomfert argumenta que a insanidade dos Reis Supremos deriva de suas barganhas com demônios do Abismo (na verdade, são diabos dos Nove Infernos). Ele também proclama que nenhuma loucura hereditária similar foi testemunhada anteriormente, um argumento que se opunha fortemente contra uma origem congênita. Lorall de Almor postula uma outra hipótese: a loucura é uma maldição dos deuses pela vileza traiçoeira dos Reis Supremos. Como Olho da Fé do clero de Almor, entretanto, o julgamento de Lorall sobre este assunto deve ser considerado suspeito: os almorianos há muito preferiram ver o apoio dos deuses nos conflitos do Grande Reino. Além disso, como uma maldição, a loucura causou muito mais males aos inimigos da Casa Naelax do que aos seus membros: os Ivids parecem quase deliciar a sua insanidade.
A estória do Grande Reino de Aerdy iniciou quase 40 anos (437 CY) antes da ascensão de Iuz. Naqueles dias, a Província do Norte era governada pelo Príncipe Ivid, um nobre carismático e habilidoso, ainda que totalmente depravado e corrupto. Devido às décadas de fraca liderança real da Casa de Rax, o poder imperial tinha erodido e nobres como o Príncipe Ivid tornavam-se audazes em suas demandas, pressionando por exigências sobre o Trono Malaquita. A realeza, fraca como estava, dobrava-se ante esta pressão e o Grande Reino foi imerso num evento conhecido posteriormente como o Distúrbio Entre as Coroas.
Quando Nalif, o último herdeiro remanescente de Rax, foi assassinado[7] uma hoste de príncipes rivais clamou direito sobre o Trono Malaquita. Através de uma campanha de diplomacia, guerra, e assassinato, o Príncipe Ivid resolveu o problema da sucessão eliminando todos os outros candidatos, permanecendo como único príncipe sobrevivente por direito de sangue. Assim, a Casa Naelax ascendeu ao trono e o Príncipe Ivid se tornou Sua Transcendência Celeste, Rei Supremo de Aerdy, Grande Príncipe Ivid. Entre sua cadeia de títulos estavam: Duque (Herzog) do Norte; Arquiduque de Ahlissa, Idee e Sunndi; Suserano de Medegia; Comandante do Marquesado dos Ossos e Protetor de Almor e Onnwal.
[7] Apesar deste ato ser comumente creditado ao Príncipe Ivid, não houve evidência direta do então futuro Rei Supremo com este assassinato.
O destino, entretanto, rapidamente fez com que estes títulos não fossem mais do que pretensões grandiosas. O caos liberado com o assassinato de Nalif não cessou quando Ivid tomou o trono. De fato, os camponeses de Onwall, Idee e Sunndi se rebelaram, e o Duque de Ahlissa afirmou sua própria independência[8].
[8] Damalinor, o Duque de Ahlissa, apostava que seu exército sozinho poderia esmagar a recém-formada Liga de Ferro, criada em 447 CY e consistindo por Onwall, a Cidade Livre de Portão de Ferro, Idee, Sunndi e os povos não-humanos (anões, gnomos, halflings e elfos) das Montanhas Glorioles e das Terras Altas de Hestmark. Derrotando esta aliança econômica-militar, o Duque de Ahlissa esperava criar um império para si (que não aconteceu).
Ivid apressou-se em lidar com seu primo sulista (a nobreza do Grande Reino era toda relacionada), apenas para descobrir que suas terras estavam exauridas e má-administradas após anos de guerra civil. Incapaz de formar um exército grande o bastante de seus próprios feudos, o Rei Supremo relutantemente convocou seus primos remanescentes para ajudar. Como tubarões percebendo o odor de sangue, eles se voltaram ao rei aparentemente indefeso, com intenções de matá-lo.
A história da segunda onda da Guerra civil é ainda mais confusa e incompleta que a primeira. O saque da Universidade de Rauxes em 449 CY destruiu todos os registros imperiais da guerra. De modo similar, a considerável biblioteca do Duque Astrin em Eastfair terminou nas mochilas de saqueadores ou em chamas durante a fase final da última campanha imperial. Apesar de alguns relatos razoavelmente complexos terem sobrevivido nos monastérios de Medegia, estes eram profundamente influenciados pelas filosofias degeneradas do Sagrado Censor. A sua acurácia é altamente questionável, especialmente quando revolvia seu assunto principal: as batalhas entre Rauxes e Medegia.
Apesar de relatos confiáveis sobre as batalhas terem sido perdidos no tempo, o resultado permanecia claro: o Rei Supremo manteve seu trono, mas sofreu perdas de território e poder. Um sobrinho que Ivid deixou como administrador da Província do Norte rebelou contra o seu tio e estabeleceu o seu feudo como um estado soberano. Assim também fez o prelado-chefe do império de Ivid — O sagrado Censor de Medegia — que desafiou o Rei Supremo e estabeleceu um bispado independente. Já os Barões do Mar não tiveram tanto sucesso: apesar deles terem obtido controle sobre a armada Aerdy, o Rei Supremo fechou para eles todos os portos costeiros. Isolados apenas com vizinhos hostis não-Aerdy, os Barões do Mar imploraram pela paz.
Pouco se sabe sobre as campanhas nas terras centrais do Grande Reino, apesar de que certamente foram nestas batalhas que Ivid ganhou o título “vidente diabólico”. Quando Almor se rebelou, o Rei Supremo contra-atacou com vingança, demonstrando suas habilidades de “vidente diabólico”. Empregando ajuda infernal, os exércitos do Rei Supremo provocaram a debandada dos rebeldes. Mesmo no estado enfraquecido em que o império se encontrava, Almor não conseguiu resistir à fúria diabólica da Companhia da Guarda[9], até o momento que o reino de Nyrond enviou ajuda. No fim, os exércitos exaustos chegaram a um empate, mantendo inalteradas as fronteiras – até o advento das Guerras de Greyhawk.
[9] Há provas irrefutáveis que algumas, mas nem todas, unidades da Companhia da Guarda eram formadas por diabos barbazu dos Nove Infernos. Este fato explica a performance altamente errática dos exércitos do Rei Supremo.
Após esta era de sucessão e rebeldia, o Grande Reino passou por uma série de Reis Supremos. Ivid reinou por 48 anos, e apesar dele nunca ter reconquistado suas províncias perdidas, ele manteve unido o resto de Aerdy através do medo e de recompensas corruptas. Seu filho, Ivid II, sobreviveu apenas três anos sobre o trono da vidência diabólica. Já instável antes de sua coroação, Ivid II rapidamente decaiu em demência desvairada ao assumir a regalia de seu ofício[10].
[10] Os símbolos de ofício do Rei Supremo são o Cajado de Naelax, o Orbe de Rax e a coroa de Aerdy. Em adição, o próprio Trono Malaquita é considerado um artefato. Esculpido Adamante, é parte de um fragmento de uma estrela-cadente, o trono foi construído por um mago imperial séculos atrás. Os seus poderes permaneceram um sigilo muito bem guardado pelo Rei Supremo. Quando o ultimo herdeiro de Rax levou para a tumba os segredos do trono, Ivid I consultou os maiores sábios para deduzir os seus poderes. Estes sábios o serviram bem, e como recompensa, Ivid os matou, por ciúmes de seu novo segredo. A linhagem dos Ivid aprendeu que o trono concede visão da verdade a qualquer um que sente nele, também cercando-o com um globo da invulnerabilidade invisível. Adicionalmente, qualquer um que saiba a palavra de comando pode abrir um portal uma vez por semana. Este portal leva para o nível superficial dos Nove Infernos. O trono não oferece proteção de criaturas que porventura cruzem o portal, entretanto. Usar este poder também é perigoso, uma vez que cada uso promove uma chance de 5% de causar insanidade – uma maldição amarga numa linhagem já atormentada pela loucura.
A loucura não trouxe a queda para Ivid II, entretanto: ele foi morto por um filho que cobiçava a coroa. Ivid III imediatamente seguiu o exemplo de seu avô, exterminando seu parentesco para que ninguém pudesse lhe desafiar pela coroa. Com o sangue de seu pai ainda em suas unhas, Ivid III aprisionou seus filhos em ricas e proverbiais gaiolas douradas. Ele provia seus herdeiros com tutores e incontáveis e opulentas depravações, para que ele não fosse visto como um pai negligente. Porém, quando ele atingiu a idade avançada, Ivid III declarou que o filho que sobrevivesse seria o seu sucessor. Este anúncio desencadeou um banho de sangue fratricida na prisão aveludada que residiam. O único sobrevivente tornou-se Ivid IV.
O novo monarca de Aerdy imitou seu pai: aquelas crianças que não eram mortas ao nascer eram aprisionadas e suas mães monstruosamente torturadas para a diversão do Rei Supremo. Com o pescoço de seu pai fora do alcance, estas crianças praticavam seriamente carnificina Naelax em suas amas e governantas. Algumas sobreviventes destas crianças infelizmente chamaram a atenção do Rei Supremo e ingressaram seu instável e sempre dinâmico estábulo (isso mesmo) de concubinas. Depois de um breve galanteio ou interlúdio agradável, estas mulheres sumiam nas profundezas das masmorras dos torturadores: o Rei Supremo amava mais a dor do que a paixão.
Por outro lado, o reinado de Ivid IV pouco realizou. O Rei Supremo caprichava em depravação, não administração. De forma perene ele lançava campanhas militares para retomar Almor e Nyrond, mas conseguia apenas mudar as fronteiras em poucas milhas, para um dos dois lados. Mas isto não importava – as batalhas providenciavam um espetáculo de verão para ocupar o Rei Supremo, que estava mais interessado em fúria e trovão do que um ganho militar real.
Enquanto Ivid IV galanteava, seu futuro sucessor, Ivid V, trabalhava. Segundo entre os filhos do Rei Supremo, Ivid V pensou em simplificar o anúncio de um herdeiro ao exterminar antecipadamente os seus irmãos[11]. Apesar de Ivid V ter completado seu trabalho com perícia e rapidez, o seu pai ainda se recusava a ceder o trono. Foi daí que o aparente herdeiro contratou a última favorita do Rei Supremo para que esta derramasse ácido no ouvido do imperador[12].
[11] Ivid IV foi um genitor muito prolífero. Antes que sua ascensão pudesse ser assegurada, Ivid V teve que eliminar 123 irmãos e irmãs. Apesar de bebês latentes serem uma presa fácil, o irmão mais velho de Ivid V facilmente se equiparava a ele. Por muitos anos, a dupla empenhou uma guerra de assassinato e intriga em seu palácio-prisão antes que Ivid V enfim prevalecesse.
[12] O papel de Ivid V neste evento é indubitável: um novo monarca gabava-se de um ato impiedoso. Todavia, percebendo o perigo de manter uma concubina traiçoeira por perto, Ivid V sentenciou sua cúmplice para a Roda da Dor.
Ivid V ascendeu ao trono em 556 CY e o manteve por 30 anos[13]. Apesar de ser fraco e dissoluto como comandante de exércitos, Ivid V governava impiedosamente o seu império como um gênio quando se tratava de maquinações políticas. Inegavelmente, as poucas campanhas que ele lutou terminaram em desastre, mas a loucura não nublou sua capacidade diplomática. As Províncias do Norte e do Sul novamente se alinharam sob o estandarte do Rei Supremo e o seus emissários conseguiram até criar laços mais fortes com as tribos de goblinoides do Marquesado dos Ossos junto ao governo imperial. Com a sua força crescente, o Rei Supremo procurava por uma desculpa para novamente afirmar sua posse sobre as terras rebeldes do leste (Almor, Onnwal e o reino independente de Nyrond).[13] Depois das Guerras de Greyhawk, muitos outros eventos ocorreram. Não tenho como citá-los todos, mas em relação ao Grande Reino, após uma guerra civil que teve sua apoteose em 586 CY, Rauxes, a capital imperial, caiu sob grande ataque mágico e ela se tornou hostil e inabitável até hoje, com estranhos fenômenos mágicos e sobrenaturais abundando em seu perímetro. Ivid V desapareceu e deixou de ser Rei Supremo. O Grande Reino se dividiu em dois: O Grande Reino do Norte e o Reino Unido de Ahlissa, ao sul.
Continua em:
Os Antagonistas – O Pai da Obediência.
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La familia real de los Rauxes era muy cruel, és una suerte que no estan mas entre los vivos...