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Eu adoro bruxas. Muito em função da história e de como a luta das mulheres por sua independencia foi desfigurada nessas criaturas. No D&D as brujas sempre foram essas velhas horríveis que habitam pântanos e raptam criânças pra fazer mingau, até o advento da classe. Apesar de já existirem classes não-oficiais em edições anteriores. Sobre a icônica, Feiya é um exemplo de personagens cuja dor e o sofrimento não transformaram sua índole, um passado de tortura e maus tratos nas mãos das suas corruptoras machucaram mas não destruíram a futura bruxa. A icônica foi anunciada no blog da paizo no dia 27 de Outubro de 2011. Texto original de Andrew Vallas.

Tradução: Fred Torres
Publicação: Fred Torres


Nascida numa pequena vila ao norte de Lardostrolls¹, nas Terras dos Reis Linnorm a criança que viria a se tornar Feiya era filha de dois comerciantes Tianenses, vindos de Minkai que atravessaram a coroa do mundo até Avistan para começar uma nova vida. Viajantes por natureza, eles passavam os curtos invernos da região circulando entre Campina-da-Bruxa² e as Terras-dos-Senhores³, intermediando a troca de mercadorias entre os reinos. As memórias que Feiya tem desses tempo são felizes: o chacoalhar das carroças, o crepitar das fogueiras de acampamento, as caminhadas pelos campos e florestas se maravilhando com a natureza selvagem ao seu redor.

Essa felicidade foi abruptamente interrompida no dia fatídico em que um grupo de bruxas na fronteira de Irrisen pôs seus olhos sobre a garota. O conciliábulo local havia sido atacado por um esquadrão dos Corvosnegros4 que matou a mais nova dentre elas e sua líder Nysima, uma bruxa verde particularmente cruel, estava na busca por recompor seu grupo. Ao ver a jovem serguir um grupo de veados adentrando a floresta, abandonando a segurança do acampamento, as bruxas não hesitaram.

Não há como qualificar as inúmeras crueldades que sofreria a garota não fosse a perda recente das bruxas. Mesmo assim, outro destino terrível estava a sua espera. As duas velhas raptaram a menina e fugiram para o leste, seus cacarejos enlouquecedores sufocando os gritos de socorro da infante. No caminho, já planejavam como reaveriam seus poderes e ao chegar em suas cabanas cobertas de neve e palha, já haviam rebatizado a garota.

Os anos seguintes são um borrão de dor, terror e sofrimento. Feiya passou doze anos suportanto as tentativas das velhas sádicas de lhe ensinar suas artes profanas. Alternando entre sessões de aulas e de torturas, as bruxas deixavam sua natureza cruel tomar conta frequentemente, parecendo esquecer do real propósito que tinham ali, que era ensinar a jovem. Feiya, por sua vez, apesar na inegavel aptidão e potencial, mostrava uma rebeldia incomum que só os mais severos dos castigos poderia curar. Ela tentou escapar em muitas oportunidades, apenas para ser novamente capturada dentro de algumas horas. As consequencias dessas tentativas frustradas marcaram seu corpo e sua alma sobremaneira que nenhuma magia poderia curá-la.

Num belo dia de outono, depois de ser surrada por não conseguir produzir uma cozedura do veneno Lamúria Azul5, as bruxas mandaram Feiya buscar mais matéria prima. Enquanto colhia as raízes venenosas ela notou que do alto de uma pedra coberta pela geada, uma raposa a observava. Diferentemente das espécies locais, esse espécime era coberto com uma pelugem vermelha alaranjada, que contrastava com a imensidão branca. Havia algo no olhar da raposa que chamou a atenção de Feiya, ela se aproximou e ficou espantada com a aparente calma do animal. Cada vez que ela se aproximava a uma certa distância, a raposa se adiantava um tanto, voltando-se para trás como se esperasse que a jovem continuasse a se aproximar. Foi só depois de algum tempo que Feiya se deu conta de que estava novamente em fuga.

O crepúsculo deseu sobre as bruxas e ao perceberem o que acontecia se meteram furiosas à floresta, certas de que a busca seria, como todas as outras, célere. Mas dessa vez a garota tinha um guia. A raposa levou Feiya por recantos nunca desbravados por homem ou bruxa, se mantendo sempre um passo a frente de suas perseguidoras, sempre fora de alcance. Quando era necessário comer, o animal a conduzia até águas frescas e frutas maduras, quando precisava descansar, se mantinha em vigília. Dessa forma, Feiya conseguiu enganar as bruxas por mais de duas semanas.

Em uma noite particularmente fria, sua sorte acabou. As bruxas estavam próximas e de seu guia não havia sinal. Feiya se viu então presa entre um rio e três montanhas intransponíveis. As promessas de terror e tortura cresciam em sua mente com o cacarejas das velhas mocréias vindo em sua direção. Foi até uma pequena gruta atrás de uma queda d’água que alimentava o rio, na parede às suas costas, uma singela borboleta esculpida na pedra, adornava a moradia. Feiya, como um animal acuado, tentou se acalmar e achar forças para o inevitável confronto. Pensou que dessa vez tinha ido longe demais, longe demais para voltar, não se renderia sem lutar. Ali, na solidão da pequena caverna, decidiu que seus dias sob o jugo de outrem acabaram, ela teria sua liberdade, nessa vida ou na próxima.

Foi nesse momento que a raposa reapareceu, entretanto havia algo diferente nela. Ela sempre teve um ar quase inteligente, mas quando Feiya fitou seus olhos, viu consciencia, algo que a assustaria verdadeiramente se já não confiasse tão completamente no animal. Ainda com os olhos sobre a raposa, sua mente foi invadida por um turbilhão de sensasões. Atordoada, ela encontra o chão da caverna enquanto os sentimentos tomam forma dentro dela. Ela nunca ouviu palavras exatamente, mas o que lhe foi prometido era claro como as águas da cachoeira a sua frente, bem como seu aceite.

O que sucedeu iria para sempre assombrar os sonhos de Feiya. Gritos de promessas de dor, tortura e sofrimento se ergueram sobre o som das corredeiras e o martelar das àguas sobre as pedras abaixo. As bruxas se aproximavam da entrada da gruta, carregadas de ódio. Feiya podia ver suas silhuetas bruxuleantes atrvés do véu de águas da cascata a frente, mas antes que pudesse agir, um outro som se ergueu. Começou como um rufar leve, mas rapidamente ganhou intensidade, ofuscando rapidamente os sons das bruxas e das águas, fazendo tremer o interior da caverna. Então o vale todo parece ter sido engolido pelo som equivalente ao grito conjunto de todos os animais da floresta, entrecortado ocasionalmente por um xingamento amaldiçoado de uma bruxa.

Longos minutos passaram enquanto Feiya se mantinha imóvel, paralisada de medo. Gradualmente, assim como começara, o som diminuia, até que tudo o que se podia ouvir era novamente o martelar da cachoeira e os animais da noite. Ela buscou então abrigo em um baixio pedregoso, temendo deixar a proteção da gruta. minutos viraram horas e a exaustão apoderou-se dela e apesar da ansiedade caiu em sono profundo.

Feiya achou coragem na aurora e saiu de seu esconderijo com os primeiros raios de sol. Uma renovada camada de neve cobria o solo e qualquer pista que ela poderia ter dos eventos da noite anterior. Mesmo assim, a sensasão de alívio era quase sólida. A raposa reapareceu e se pôs a seu lado. Ela inspirou o ar frio da manha profundamente. Finalmente estava livre.

Feiya nunca fala sobre os eventos daquela fatídica noite, nem de detalhes sobre o estranho pacto que fizera. Ela pode algum dia tentar encontrar seus pais de quem mal se lembra, mas por enquanto ela está satisfeita com a ideia de vagar pelo mundo, aproveitando sua recém conquistada liberdade para conhecer lugares e pessoas além de desenvolver seus recém descobertos poderes. Muito embora anseie por companhia, seus anos passados longe da civilização a deixaram sem muito tato para ocasiões sociais o que acarreta frequentemente em mal entendidos.

Entretanto, sua natureza boa prevalece quase sempre e seus eventuais acessos de humor são contrabalanceados por sua lealdade irrepreensível para com seus amigos e aliados. Feiya adora viajar e depois de ter identivicado a borboleta da caverna como o símbolo de Desna, ela abraçou a fé da Mãe Lua, na esperança de suas andanças revelarem mais sobre quem ela é e sobre o patrono de seus poderes.

O próximo icônico é Imrijka, a Caçadora

Fred Torres

Ilustrações de Wayne Reynolds (caixa) e ?? (topo)

*Traduções não oficiais*

¹ Trollheim
² Hagreach
³ Thanelands
4 Blackravens
5 Blue Whinnis

Dom Freddonci

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