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Este texto é a continuação da fantástica história de um guerreiro de força e renome sem precedentes – Fharagauwer Thurull, o Guerreiro de Tempus.

Texto Original: Fabrício Nobre e adaptação: Diogo Borges.

Para ler os artigos anteriores, clique nos links abaixo:

Fharagauwer Thurull – Capítulo IA Criança Fera

Fharagauwer Thurull – Capítulo IIJovem Guerreiro

Fharagauwer Thurull – Capítulo III | Guerreiro de Tempus

 

Sonhos e Realidades

“- Você é lento como uma tartaruga, meu pequeno irmão – Graceja Amon, enquanto ajeita a cela de seu garanhão – lhe vencerei com facilidade.”

Mestre e aprendiz tinham finalizado a ronda diária nos arredores de Essembra. Estavam agora se preparando para voltar a capela e finalizar seus afazeres daquele dia. Costumavam apostar corridas de cavalos com frequência, apostando a maior porção do jantar para o vencedor. Eram irmãos, sim. Mas o espirito competidor entre eles posto à prova sempre que possível.

“- Seu cavalo é mais rápido e resistente, irmão – Lamenta Fharagauer – Minha pobre égua nunca conseguiu vencê-lo.”

Amon possuía o melhor cavalo da cidade. Foi presenteado por seu pai na noite de sua formatura na academia militar de Essembra. O velho Gangaster dizia que um capitão além de uma boa espada precisava também de uma boa montaria. Ao garanhão, Amon deu o nome de Thurull que, segundo ele, significava forte, robusto em algum dialeto que ele havia aprendido no meio acadêmico.

“- Se prefere atribuir sua derrota a um cavalo, vai parecer mais ridículo quando eu chegar na sua frente, irmão.” Graceja novamente Amon, sabendo que despertava em Fharagauer o fogo do desafio em seu peito.“- Aceite logo essa disputa! A noite já começa a cair e quero comer seu jantar ainda quente!”

Consentindo ao desafio com um sorriso, Fharagauer sobe em sua bela égua, também presente do pai. Tinha a crina vermelha como sangue e era chamada de Dama escarlate por seu dono.

“- Não cante vitória antes da chegada, velho irmão. O que a égua escarlate tem de bela pode ter de surpreendente!” E antes que Amon pudesse montar, Fharagauer sai em disparada em sua frente! Gargalhando Amon grita: “- Primeiro as damas! Aproveite a vantagem, vai precisar!” – E montando seu garanhão, dispara perseguindo a dianteira.

Thurull, um genuíno puro sangue, era um cavalo magnifico. Veloz e imponente, forte e robusto como seu nome já dizia. Guiado por Amon, um eximo cavaleiro, eram uma dupla implacável em qualquer corrida. Fharagauer se dava conta disso ao ver, quase que instantaneamente, ambos emparelharem ao seu lado, pouco antes de dar a largada. A noite caia suavemente e o vento anunciava uma chuva a caminho. A poeira subia abaixo dos cascos daqueles magníficos animais que galopavam sob o comando e seus donos, intrépidos guerreiros de Tempus.

A disputa é acirrada. Ambos os cavaleiros dão seu melhor pela vitória, instigando seus animais ao extremo da força e velocidade. A dianteira é roubada várias vezes naquele que era um percurso mediano até sua casa. O chão de barro é violentamente cavado pelos cascos fortes das montarias. A poeira em suas costas sobe densa e rubra, e ao longe aqueles que passavam eram obrigados a cobrir o rosto para não serem cegados naquela corrida amistosa.

Em um rompante de força e velocidade, Amon arranca a frente, ultrapassado Fharagauer que já sonhava com a chegada apontando no horizonte. Fharagauer sabia que o irmão não admitiria uma derrota e provava mais uma vez por que ele e seu cavalo eram invejados. Determinado porem a não perder, tendo suas vistas encobertas pela poeira causadas pelo galopar de Thurull, o guerreiro de Tempus fecha os olhos e segura com firmeza na crina de sua montaria. Imprimindo força nas mãos e rapidez em seu animal, mesmo de olhos fechados ele percebe que a égua ganha velocidade, fazendo seus longos cabelos voarem ao vento.

Fharagauer abre os olhos. Não há mais poeira em seu rosto. Ele galopou tão veloz que atravessou a linha de chegada sem perceber. Feliz por ter vencido sua primeira corrida, ele comemora:

“- Viu irmão? Fui mais rápido dessa vez e esta noite você dormira de barriga vazia!”

Gargalhando, o guerreiro gira seu cavalo a procura de seu oponente. Alguma coisa está errada. Parado na linha de chegada esta Amon. Montado em seu cavalo ele não atravessa os portões de casa. Sério, ele encara Fharagauer que aos poucos vai perdendo o sorriso que lhe cobria a face.

“- O que houve Amon? Porque não avança? Vamos, entre!”

Amon continua sério. O olhar parece fixo em Fharagauer. O clima fica tenso. A brisa fria sopra mais forte, causando calafrios no jovem soldado. A noite caiu densa e escura, parcamente iluminada por uma lua tímida no céu. O cavalo de Amon recua. Sem entender o que ocorre, o guerreiro de Tempus apenas observa com estranheza. Amon abre um discreto sorriso e diz:

“Cuide de nosso pai. Proteja nossa casa. Ajude quem necessitar.”

Ainda sem entender o que ocorre, Fharagauer vê seu irmão dar meia volta no cavalo. Ele avança para a escuridão e nevoa que ficou se formou no caminho que percorreram. Atônito, Fharagauer apenas sussurra.

“- Não vá” – Clama o guerreiro, sem saber porque faz aquela suplica. Sorrindo mais uma vez, ele escuta seu irmão mais uma vez:“- Lhe ensinei tudo o que eu tenho de melhor. Use para o bem. Honre nosso Deus. Honre a mim. Sentirei sua falta.”

E recuando de vez, ele adentra a escuridão. Fharagauer tenta correr até Amon, mas não consegue se mover. Aos poucos, recupera sua voz, chamando pelo irmão.

“- Amon!”-Ele grita, sem ouvir resposta, Ele chama mais uma vez e há lagrimas em seus olhos e um nó em sua garganta.“- Irmão”- É a última palavra que consegue pronunciar antes de ser tomado completamente pelo choro…

“- Senhor Fharagauer, acorde!”- Alguém lhe sacode o corpo.“- Temos que seguir viagem. Ainda é perigoso aqui. Acorde senhor, estava tendo um pesadelo.”

Abrindo os olhos Fharagauer vê Beltor tentando acorda-lo. Olhando ao redor ele vê Heitor preparando os cavalos, afivelando os sacos de dormir e mantimentos daquele acampamento improvisado. Eles estavam cavalgando a horas e somente pararam para dar descanso aos animais porem todos também estavam exaustos da viagem e do recente combate.

Beltor Travel

“- Acredito que estava delirando, Senhor.”- Avalia Beltor tocando-lhe a têmpora afim de averiguar uma possível febre.”- Chamava por seu irmão.”

Conclui baixando os olhos, sentindo também a dor de ter perdido seu capitão tão recentemente. Heitor aproxima-se, colocando a mão em seus ombros. Ambos eram irmãos e haviam escapado juntamente da emboscada Drow que ceifara tantas vidas amigas. Ambos sabiam da dor que o guerreiro de Tempus sentia. Sendo irmãos, eles estariam tão piores quanto se tivessem perdido um ao outro naquele ataque.

Heitor Travel

Aos poucos, o trio de sobreviventes retoma o amargo regresso. Em silencio eles galopam rápido. Suas montarias fazem esforço extra, atendendo as preces dos três cavaleiros. Em seu íntimo, todos sofriam. As dores do corpo nada eram diante da dor que sentiam na alma. Perderam amigos e irmãos de armas. Companheiros corajosos mortos covardemente numa armadilha Drow. Lamentavam em silencio sua dor. Entreolhando-se, os irmãos Beltor e Heitor sabem porem que dor maior sente ali seu Tenente, agora responsável por carregar consigo para casa a tragédia de ter perdido o irmão.

De baixo de chuva e sol eles seguem. Dias e noites passam sem que se tenha noção. Feridos, famintos, debilitados eles chegam ao pôr do sol na cidade natal. Escoltado por seus aliados, Fharagauer os conduz até a entrada da capela de Tempus. As pessoas os observam. Sussurram de ouvido em ouvido enquanto os três desmontam e sobem as escadarias da capela. Eles caminham devagar até a porta principal. Mal lhes sobra forças para andar. As grandes portas de carvalho estão abertas, fazendo com que o crepúsculo invada todo o salão com uma luz alaranjada e avermelhada, iluminando ao fundo um homem diante do imenso símbolo sagrado na parede.

Ajoelhado está o velho Gangaster Yeats, senhor da capela de Tempus em Essembra. Em suas mãos repousa duas pequenas esculturas de mármore. Dois pequenos soldados de arma e escudo em punho. Uma das pequenas estaturas parece quebrada ao meio, sendo segurada com firmeza visível para aqueles que agora adentram o salão. Erguendo-se o velho clérigo se vira para contemplar aqueles que verbalizarão a dor que seu coração de pai já pressente.

“- Há algumas noites, quanto dormia, um corvo atingiu a janela de meus aposentos”- A voz sai da garganta do clérigo levemente rouca, em tom sério.”- Em seu pouso desgovernado o pobre pássaro atingiu minha estante. Lá, entre outros objetos, estavam essas duas pequenas estatuas, esses dois pequenos soldados. Cada um deles representa um de meus filhos e com elas rezo por eles todas as noites.”

Heitor e Beltor ficaram na entrada. Eles reverenciam não somente o local, mas o velho clérigo que vos fala naquele momento. Sambem que são portadores de tristes notícias e desejam força para seu tenente que avança. Em seus braços repousa a velha espada de seu capitão, carregada tal qual um corpo e caminhando lentamente naquela marcha fúnebre que se segue salão a dentro.

Fharagauer avança temeroso. Tão doloroso quanto ter perdido seu irmão era ter que entregar a notícia, além da única coisa que restara de seu falecido capitão para o próprio pai. Em seus braços estava estendida a Lâmina fria, a espada da família Yeats, dada a ele por seu irmão, como último ato de sacrifício afim que seu poder os salvasse da morte certa. O guerreiro de Tempus está quebrado. A dor daquele momento era insuportável.

“- Ao ouvir o barulho, me levantei e vi o pobre pássaro no chão. Morto. De seus ferimentos o sangue se esvaia. Ao seu lado esses dois pequenos objetos também jaziam. Porem com a queda, somente uma se partiu. Naquele momento senti.”

Diz o velho sacerdote, como se estivesse apenas pensando em voz alta. Já de frente para Fharagauer e estendendo a pequena estatua quebrada nas mãos para o guerreiro de Tempus, com a voz embargada e uma tristeza crescente, ele clama:

“- Digam-me. Digam-me como seu capitão, como meu amado filho morreu?”

Diogo Borges

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Diogo Borges

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