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Nome: Haliax, O Filho de Ninguém

Jogador: Rodrigo

Idade: 72 anos

Raça/Etnia: Humana

Classe: Clérigo

Cabelos/Olhos: Crespos/Bicolores

Cor da Pele: Pálida

Altura/Peso: 1,62 m/60 kg

Gritos de dor ecoavam numa noite gelada de inverno em Águas Profundas, mas o frio era suficientemente intenso para que ninguém deixasse o aconchego de suas casas para ajudar. Helena, uma jovem meretriz, dava a luz ao filho bastardo de algum nobre numa viela escura. O parto custou-lhe a vida e a criança nasceu deformada. Aquecida pelo sangue e pelo corpo de sua mãe, ela conseguiu sobreviver até que uma estranha figura veio ao seu encontro, guiada pelo seu triste choro, tão lúgubre como aquela cena cinzenta .

A estranha figura chamava-se Tandor, um homem largo de braços fortes e estatura ameaçadora, mas que possuía a expressão medrosa e aparvalhada de alguém que sofre com as doenças da mente. Tandor cuidou do infante nos esgotos da cidade, assim como cuidava de muitos outros órfãos.

Haliax, como fora chamada a criança, tendo Tandor como uma referência, cresceu com um bom coração, mas era tímida e sofria agressões das outras crianças da rua devido à sua aparência horrenda. Xingavam-no de “filho de ninguém”, ainda que a maioria dos ofensores também não conhecesse seus pais. Além disso o chutavam e arremessavam-lhe comidas podres. As agressões na maioria da vezes era feita por Pit, a líder de uma gangue que roubava no mercado. Numa dessas brigas ela quase matou Haliax, que ficou um dia inteiro desmaiado no mesmo beco frio em que nascera. O pequeno menino corcunda aprendeu a ficar atento, sabendo que agressões poderiam vir de qualquer pessoa e sem nenhum aviso, apenas por não possuir uma aparência agradável. Todos naquela cidade pareciam odiá-lo, menos Tandor, que sempre lhe dava carinho e tratava de seus ferimentos .

A morte de Tandor finalmente chegou, consequência de suas sequelas mentais. As agressões aumentaram e não havendo mais ninguém para cuidar de suas feridas físicas e emocionais Haliax fugiu da cidade. Nada mais o prendia ali. Ele seguiu por três dias na estrada até chegar em Amphail. Lá tentou arrumar algum trabalho nos estábulos. Em um deles foi respondido com um grito de susto e um pedaço de esterco jogado na cara. Acuado, recuou para o subúrbio da cidade e acabou arrumando abrigo numa lápide do cemitério, onde passou a sua primeira noite naquela vila.

Pouco antes do alvorecer, Haliax foi acordado pelo coveiro, que perguntou seu nome — “Meu nome é Haliax, senhor”– o garoto respondeu. –“Haliax filho de quem?”– retrucou o velho –“Haliax, filho de ninguém”– respondeu. O coveiro abriu um sorriso e recepcionou a criança deformada na cripta que usava como um templo de Myrkul. O velho fazia suas preces em segredo. Myrkul era mal visto pela nobreza local. Haliax aprendeu rápido sobre ofício de tanatoproxia e mais rápido ainda sobre a palavra e os dogmas de Myrkul. Ali no cemitério Haliax passou toda sua adolescência. Quando alcançou a maioridade o clérigo que lhe dera abrigo teve sua vida ceifada pelo deus que cultuava e assim Haliax herdou o cemitério.

Nos seus dias solitários na cripta Haliax aprendeu que o conhecimento é uma arma poderosíssima, por isso passou a reunir um conjunto de livros que lia para esquecer seu sofrimento. Os livros acumulados logo transformaram-se numa biblioteca. Haliax afeiçoou-se por línguas e alquimia, mas no geral sabia de tudo um pouco.

Certo dia, quando quase foi atropelado por um nobre mimado que cavalgava imprudentemente pelas ruas, Haliax acabou caindo num alçapão que dava acesso aos alicerces do salão de festas da vila. Lá ele descobriu uma galeria de túneis que acabou o levando ao laboratório de Dalroz Kothont, um nobre de Águas Profundas que fora rejeitado pela família pela sua excentricidade e pelo seu interesse nas artes necromânticas. Ali ele havia montado seu covil até ser descoberto e queimado vivo pela ordem dos Cavaleiros de Samular.

No laboratório de Dalroz Haliax descobriu, além de sua história, um conjunto de tomos que descreviam parte da pesquisa do antigo necromante. Lendo os tomos acabou se apaixonando por aquilo e, sentindo um afeto inexplicável pelo necromante que um dia atuava no local, decidiu dedicar sua vida a terminar sua pesquisa.

Seus estudos se deram na cripta do cemitério, local que chamava de casa. Aos poucos fora transformando aquilo que era uma capela de Myrkul num verdadeiro laboratório. Num de seus primeiros experimentos envolvendo a necromancia de Dalrozs, Haliax, tentando compensar a leve assimetria entre seus braços, quase perde seu membro esquerdo. A magia consumiu todo de seu bíceps e atrofiou ainda mais o braço.

Anos mais tarde, depois de aperfeiçoar sua pesquisa o coveiro de Amphail conseguiu alguns avanços adicionando um terceiro olho em alguns rato, e fazendo uma cabeça de um cachorro se manter viva e consciente por meses, desconectada de seu corpo. Ele nunca conseguiu recuperar seu braço, mas nessa altura da pesquisa, ele não estava mais tão focado em ter um corpo normal…

Os nobres de Amphail acabaram descobrindo que os túmulos de seus antepassados foram profanados e logo suspeitaram de necromancia. Haliax havia retirado os corpos para seus experimentos. O cemitério foi cercado por aldeões com tochas e ancinhos em mãos. Acuado, Haliax incendiou seu laboratório para não revelar os segredos de sua pesquisa e fugiu por um túnel que levava da cripta do cemitério até o laboratório de Dalrosz, levando os tomos consigo. E assim O profanador de Amphail estava outra vez sem um lar, mas isso era um ótima oportunidade para descobrir os mistérios do mundo e para aperfeiçoar sua pesquisa, a única coisa que tem sua atenção numa vida tão conturbada.

 

Sandro Moraes

Mestre das campanhas "O Segredo Enterrado no Gelo" e "Tirania dos Dragões", ambos ocorridos no cenário de Forgotten Realms. Mestra também no cenário de Golarion, em "O Mestre da Fortaleza Caída" e mais recentemente O Chamado de Cthulhu. Entusiasta do sistema GURPS, em especial High Fantasy, mestra e joga Pathfinder, Starfinder e D&D 5ª Edição.

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