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Os Mbanktu

Das muitas tribos que migraram de Katashaka ou o continente sombrio para as terras de Chult, havia uma particularmente orgulhosa da sua ancestralidade. Os Mbanktu tinham uma tradição muito peculiar e eficiente de transmissão oral da sua história e em sua liturgia, descendiam dos próprios deuses que cultuavam, que eram ao mesmo tempo divindades, pais, avôs e avós e guias espirituais.

Além disso, suas almas estavam presas a um ciclo de reencarnação que se quebraria apenas quando atingissem a iluminação ou Eru, podendo assim se juntar aos espíritos guias. A estrutura familiar da tribo, portanto, era afetada por esse ciclo de reincarnação que às vezes colocava como líderes das casas os netos ou primos (algo) distantes.

Eram esses líderes que eram capazes de ler as energias que circundam cada alma e determinar qual tipo de divindade ancestral aquele individuo estariam ligados, e caberia ao indivíduo nutrir essa relação com presentes, orações e frequência nos atos religiosos da tribo. Era também dos chefes ou Bata que indicasse, através da instrução dos espíritos ancestrais, os rumos e o futuro da tribo.

Assentamento Mbanktu

Quando os Eshowe, Tabaxi e Thinguth seguiram os Couatls para Faerûn, a indicação dos Espíritos ancestrais (ou Oinkis – Ô-in-quiz) era clara, Faerûn era aonde os Mbanktu deveriam seguir. Na península de Chult conviveram pacificamente com as tribos por centenas de anos, mas quando as tensões se acirraram entre os Eshowe e os Tabaxi, eles se isolaram e passaram quase mil anos sem se revelar.

Em tempos de paz, eles voltaram a se relacionar com seus vizinhos mas aos poucos foram percebendo que aquele lugar não era mais para eles. Com as bênçãos de seus ancestrais, construíram suas embarcações e rumaram para Calimporto onde desembarcaram e trocaram seus barcos por carroças e suprimentos e tomaram as estradas do grande continente.

O Nomadismo havia sido abandonado há gerações, mas os Batás, sob orientação dos Oinkis, voltaram aos velhos hábitos, afirmando que haveria um lugar para eles naquelas terras, bastaria que procurassem. Eles rumaram norte, pela costa da espada, fixando-se onde podiam arrumar trabalho mas nunca por mais de uma década. Em quase trezentos anos tinham passado por quase todas as nações da costa da espada e das nações banhadas pelo Mar das Estrelas Cadentes

Mbanktu Vuyani de Ngumo e Mutambo

Entre os anos que passaram na região de Impiltur nasceu Vuyani, um garoto consagrado a duas divindades ancestrais da batalha, Mukambo, Oinki da agilidade, caça e fauna e Ngumo, associado à força, a defesa e aos guerreiros. Recebido com muita alegria, Vuyani foi celebrado or muitos dias e cresceu sob muita admiração quando todos ao seu redor viam seu corpo crescer como nenhum outro, parecia-lhes que se tornaria um gigante e antes idade adulta já estava próximo dos dois metros de altura.

Vuyani na pratica da Agandu

Nessa época, sua tribo se movia pela floresta de Rawlin, rumo ao Grande vale e foram emboscados por um grupo de Demonistas de Nar. Os defensores da tribo logo se posicionaram para criar uma rota de fuga para os demais, mas os defensores estavam em desvantagem e precisaram que voluntários se pusessem à disposição. Com a sobrevivência de seu povo na balança, o Jovem Vuyani se pôs no front defensivo e com muito esforço (e muitas perdas) os Mbanktu escaparam.

Quando a caravana se reuniu novamente, já no Grande Vale, entre a contagem dos mortos e perdidos estava Vuyani e sob a orientação dos seus deuses, eles continuaram sua jornada.

Ocorre que os Demonistas estavam em busca de almas e corpos para barganhar com seus senhores do abismo e por dias a fio, torturaram os capturados e ofereceram os mortos como oferendas. Entretanto, a natureza espiritual da ancestralidade Mbanktu os protegeu da danação eterna e enfurecidos, os Lordes do Abismo lançaram sua retribuição sobre seus faltosos súditos.

Ele não sabe por quanto tempo esteve ali, mas foi a queda que o acordou. Todo seu corpo estava dolorido e parecia-lhe que havia chegado ao Mandzê, o terreiro das almas, onde os Mbanktu mortos esperavam o nascimento de um novo ser para que pudessem voltar à terra e continuar sua jornada.

Mas não era aquilo. a terra calcinada a sua volta e a dormência nas mão e pernas foram devolvendo a ele as lembranças do ocorrido, a tortura, os gritos e o fogo. Sua face esquerda, como se estivesse em chamas, ardia e ele buscou se por de pé e simplesmente andou, e conseguia apenas pensar na sede que sentia.

Vagou até encontrar as margens do Grande rio Imphras, foi quando viu a imensa marca que ardia no seu rosto, tomando-lhe quase a totalidade da face esquerda, uma monstruosidade, uma mácula no trabalho dos deuses. Adormeceu aos prantos na marem do rio.

Acordou surpreso por ainda estar vivo. As dores do seu corpo haviam amenizado, mas a lembrança da marca no rosto o abateu profundamente. Tentou pensar em reencontrar os seus parentes mas ao ver a sua imagem refletida no espelho d’água, Rezou para seus deuses mas não obteve respostas. Sentou-se à margem do rio e pousou seus olhos vazios na direção das águas.

Marca deixada pelos demonistas de Nar

Num estalo, levantou-se e caminhou ao longo da margem, tentou pescar mas não sabia como, tentou fazer uma canoa mas não sabia como, dependia inteiramente de sua família para sobreviver, era um lutador – ao menos seria um no futuro – agora era apenas uma presa, um garoto perdido no mundo.

Caminhou até a exaustão e caiu sobre um pedaço de tronco que se projetava sobre as águas. pouco a pouco a correnteza foi deslocando os dois que começaram a descer a correnteza. Exausto, ele entregou sua vida aos deuses e certo de que sua morte não seria vista por eles como suicídio – um crime grave – se deixou levar.

Entre os Monges da Rosa Amarela

Foi aí que os Monges o encontraram. Uma caravana que voltava para o Monastério da Rosa Amarela depois de uma missão em Impiltur o encontrou apoiado sobre um pedaço de tronco que se prendera ao suporte da ponte. Recolhido entre as fileiras dos monges de Ilmater, o jovem Mbanktu teve suas feridas curadas e foi praticamente trazido de volta a vida.

Para sua surpresa, havia alguns monges que conseguiam falar sua língua, mas depois de um tempo percebeu que aqueles homens iluminados falavam a todos com o mesmo discurso e que todos o compreendiam, parecia mágica, mas após alguns meses no monastério (período em que conseguiu o domínio da língua comum) entendeu que aqueles homem possuíam uma habilidade que requeria grande disciplina mental e evolução espiritual.

Monastério da Rosa Amarela

Com o tempo Vuyani se adaptou ao monastério consagrado a Ilmater, não era estranho a longas horas de trabalho e possuía grande vigor físico. Se encarregava mais frequentemente de içar grandes pedras e gelo para a produção de água potável mas fazia qualquer tipo de trabalho, embora fosse pouco hábil com livros e filosofia (o máximo que conseguia era carregar grandes quantidades de livros).

Dividia o quarto com mais três jovens, e como a maioria dos outros monges em treinamento dois deles não lhe davam muita atenção Palin Drake e Uthbert Regal eram jovens nobres que foram mandados ao monastério para que suas famílias pudessem obter mais prestígio dentro de Impiltur e Damara respectivamente, já o outro, que respondia singelamente por Knob (nób), simpatizou (sem nenhuma causa aparente) pelo jovem Mbanktu.

Knob era extrovertido e ávido por conhecer toda as coisas daquele lugar e frequentemente ia dormir sobre os numerosos livros que estudava e acabava dormindo muito menos do que a maioria. Os monges admiravam a tenacidade do rapaz embora hora ou outra apresentasse desempenho abaixo do esperado nas tarefas cotidianas.

Os monges eventualmente o convocaram para uma reunião, onde terminaram por explica-lo o que a marca que cobria sua face esquerda era de um demônio e que aqueles que a fizeram provavelmente estavam tentando barganhar sua alma com as criaturas do abismo. Elas aparentemente não lograram êxito, mas haviam criado uma abertura em seus canais de chacra para a influencia abissal.

Os ilmatari tentaram convencê-lo de que aquilo era uma bênção e que o caminho do Deus Lacrimoso era a iluminação através da superação da dor e do sofrimento. Ao relato dos monges ele respondeu, sem muitas papas na língua, que ele já tinha seus deuses ancestrais protetores que habitavam dentro dele e eram seus guias e que não precisava do pai dos mártires.

Nada contentes, embora sábios, os monges o dispensaram por hora, mas volta e meia o convocavam para dar lições e testar o conhecimento do jovem sobre O Sofredor, e em que pese o conhecimento dos fatos não ter sido nada satisfatória, a filosofia subjacente parecia estar criando raízes no garoto.

Com o tempo, o jovem que já era mais alto e forte do que todos os iniciantes (e boa parte do monastério), ganhava cada vez mais espaço dentre seus pares pela tenacidade e devoção aos treinos marciais. Ele era uma verdadeira força da natureza, até que foi longe demais.

Numa luta especialmente difícil contra um oponente significativamente mais experiente que ele, algo se apossou do jovem Mbanktu que quase matou seu oponente quebrando-lhe alguns ossos. Para evitar o pior, os monges que observavam a luta interviram e apesar de não terem tido dificuldades em domar “a besta”, não encontraram lucidez naquele olhar.

Vuyani foi aprisionado numa cela improvisada no subsolo do templo e passou ali algumas semanas, sempre alimentado mas quem quer que levasse o alimento nunca lhe dirigia palavras. Foi eventualmente convocado pelos monges, que lhe repassaram o resultado dos quase dois meses de discussão sobre o ele.

As Catacumbas do Monastério, subsolo do templo

Na visão dos Ilmatari era uma “conversão total”. uma série de rituais consagrariam sua alma a Ilmater e ele gozaria das bênçãos d’O Sofredor, o que lhe permitiria estar livre da Besta e dos impulsos demoníacos que o atormentavam.

Ele negou veementemente e argumentou que daquela forma não poderia reencontrar os seus após a sua morte e que sem a possibilidade de chegar ao Eru, sua alma onde estivesse, se esvairia e sua existência não teria alcançado seu propósito. Os Monges franziram seus rostos em desaprovação mandando-o novamente para sua cela improvisada.

Liberdade

Um mês após o último encontro dele com os monges ele foi convocado novamente. E antes que lhe fosse dada a palavra já estava cuspindo ódio e se negando a seguir aquela “merda” de fé. No meio dos insultos notou uma figura amistosa que que lhe sorria, Knob estava também diante dos monges e sua presença silenciou Vuyani.

Os monges então lhe expuseram a sua nova visão das coisas. Baseado na defesa do aprendiz Knob, eles concluíram que apesar de sua recusa significar o fim dos treinamentos naquele lugar, ele não poderia ser privado da sua liberdade. E é da vontade de Ilmater que todos lutem e se esforcem para superar seus sofrimentos e agruras e não ficarem aprisionados em uma vida sem provações.

Eles entregaria seu destino à Ilmater e o concederia a liberdade. A notícia veio lenta, em princípio ele achou que fosse mais um dos infindáveis sermões dos monges, mas depois de quase um minuto de silêncio ele entendeu o que ocorrera. Ficou sem reação por mais algum tempo dizendo apenas, “posso ir?” ao que os monges responderam positivamente com a cabeça.

Voltando ao quarto que dividia com os outros aprendizes pegou pouco dos pertences que tinha e levou consigo (nada além de uma sacola com moedas e uma muda de trapos). Na saída era esperado por seu salvador, Knob, que caminhou com ele por parte das escadarias da saída do monastério.

Logo ao se encontrarem Vuyani notou que ele estava com uma mochila de viagem às costas e um grande escudo redondo de metal, além da sua usual sacola de livros. Ao passar por ele, o Mbanktu perguntou se ele iria a algum lugar, ouvindo como resposta um “só até ali”.

Eles conversaram um pouco no caminho Knob falou a maior parte do tempo, dando todo tipo de informação que parecia relevante para que ele chegasse até Hallisfrane, uma grande cidade próxima, e formas de obter trabalho que favorecessem sua aptidão marcial.

Entre gurnidos e olhares de soslaio o grande homem de ébano pensava em sua tristeza de ter perdido um segundo lar, mas ao passo que o ar fresco da liberdade ganhava seus pulmões ele se sentia mais certo do que nunca da decisão.

Escadaria que dá acesso ao monastério

Do falatório de seu amigo algumas coisas ficaram em sua cabeça, dentre elas, em Hallisfrane cabeças de goblinóides valem ouro, não comercialize calcedônias e as pessoas podem não gostar de você. Knob pode não ter usado exatamente essas palavras (ou frases assim curtas) mas foi isso que ele entendeu.

Em um dado momento, seu salvador parou e ele o acompanhou. Desatou as alças da mochila e a abriu, mostrando algumas coisas lá dentro, entre elas um corselete de couro batido, pequenas armas mais facilmente ocultáveis, alguns manuais de viagem da região, além de criaturas das redondezas e rações de viagem.

Ele entregou tudo a Vuyani desejando boa viagem e que a força de Ilmater o guiasse, virou-se e saiu, sem esperar resposta. Oprimido pela altruísmo de seu ex colega de quarto não conseguiu dizer nada no momento. Quando deu por si estava sozinho nas escadarias olhando na direção do monastério.

Ele deu então um meio sorriso e tentou agradecer em voz alta e dizer que aquele garoto era um bom amigo, mas nada saiu de sua garganta. Vestiu a armadura, empunhou o escudo e rumou escadaria abaixo.

Em sua longa descida pelas montanhas se sobressaltou com sons de batalha. rapidamente correu na direção da peleja e identificou homens com distintas capas azuis combatendo goblinóides. As criaturas pareciam prevalecer sobre os seus oponentes e já haviam conseguido desbaratar a formação dos combatentes.

Correndo para a batalha conseguiu agarrar um dos Bugbears, que foi isolado do combate. no susto os Goblinóides tentaram atacar o novo integrante da peleja, mas sem sucesso. A distração foi o suficiente para os capas azuis se recuperassem e voltassem à ofensiva. Os goblins tentaram fugir mas três dos quatro foram interceptados por flechas e lâminas.

Um outro Bugbear tentou um último ataque para livrar o companheiro antes de fugir, mas aquilo se mostrara fútil quando o punho cerado do gigante de Ébano quebrou o que ainda havia de rosto do bugbear, enquanto o primeiro jazia no chão com o pescoço quebrado.

Entusiasmados com a improvável vitória, os homens, que se identificaram sendo caçadores ofereceram um lugar na companhia, prometendo-lhe parte dos ganhos da equipe com as cabeças dos goblinóides. Como os caçadores estava indo em direção a Hallisfrane, pareceu ao Mbanktu que as coisas estavam indo muito bem pra seus primeiros dias fora do monastério.

Os dias seguintes foram pouco emocionantes, os caçadores, mais atentos desde a última emboscada não foram mais surpreendidos pelos bugbears e goblins e apesar da esperança de encontrar um gigante não ter se confirmado, voltaram para Hallisfrane ricos em cabeças de goblinóides.

No caminho para Hallisfrane já próximo à estrada do rio, eles viram algo que os deixaram bastante confusos. uma criança caminhava sozinha pela estrada, rumo à cidade. Ao ver os homens, a menina hesitou, mas um dos caçadores tinha uma língua particularmente doce e conseguiu que a criança aceitasse ajuda.

Entretanto, durante o caminho os homens pareceram crescentemente ansiosos e incomodados com a presença da menina. Apesar de sentir o mesmo estranhamento, no julgamento de Vuyani ela nada havia feito pra levantar suspeitas e fez questão de sempre estar ao lado dela tentando não fazê-la se sentir desprezada (apesar da sua capacidade de realizar tal feito seja, no mínimo, objeto de debate).

Ao chegar na cidade, os caçadores tentaram convencer Mabanktu a abandonar a garota bizarra e seguir com eles, mas Mbanktu recusou. Depois de receber sua recompensa, se instalaram na taverna do Vento cortante e no dia seguinte procurariam uma pessoa na universidade, a pedido da estranha garota. na cabeça dele, precisava arrumar um trabalho sério. por mais que a menina dissesse que podia pagar pelos serviços, babá não fazia parte de seus planos.

Dom Freddonci

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