A história de Pharaeus começa com um pedido sincero, lamentoso e desesperado. As súplicas de uma criança eram ouvidas apenas pela igreja em ruínas, há muito destruída pelas guerras que irrompeu entre os homens e os ínferos. Muitas dessas criaturas extraterrenas, foram derrotadas, impossibilitadas de retornar ao seu plano natal, uma vez que este se fundira ao plano material, foram destruídas para sempre. Apesar de importantes vitórias, o que havia restado após os conflitos era um saldo devastador de destruição e que para qualquer um, a concepção de vitória era uma brincadeira de mal gosto, um erro grave de interpretação da realidade.

A fome, doenças e violência tomaram o lugar das civilizações do reino e agora pequenos redutos restavam incólumes, de alguma forma a toda miséria. Esse é o caso daquele templo moribundo, situado em algum ponto a leste da antiga capital do reino. No local sobrevivia um pequeno grupo de pessoas, elas usavam o subsolo do templo para poder se proteger da chuva e de perigos maiores que espreitava a região. Mas a pequena Nina estava alheia a esses riscos, e ignorando a chuva que desabava copiosamente, decidiu que iria pedir por tempos melhores ao seu “papai do céu”. Um símbolo alquebrado de alguma divindade solar, assim ela acreditava, era a única testemunha das preces da pequena menina de 7 anos.

Seus joelhos doíam, mas ela ignorava o incomodo e mantinha firme suas orações, não seguindo qualquer litania conhecida, ela improvisava seus pedidos e ofertava uma pequena boneca de pano. O misto do cansaço e a fome a fez desabar de sono. Não chovia mais, apenas o sereno balançava uma estrutura pendente do que fora um sino e o farfalhar de folhas secas permanecia como ruídos noturnos.

Foi quando a criatura das sombras veio se esgueirando, lenta e consistentemente. Para a criatura, Nina brilhava de forma resplandecente, um poço de vida e energia que satisfaria sua fome física e espiritual. O ser ainda chegou a duvidar de que aquilo pudesse estar tão fácil e disponível para saciar sua fome, mas ele estava sozinho, nada poderia se interpor entre ele e a sua vítima. Muito próximo da criança, a criatura foi alterando sua estrutura física, ganhando materialidade, forma e força, não que precisasse, mas para se satisfazer plenamente, ele precisaria estar em sua forma verdadeira.

Quando a transformação estava completa, ele tinha certeza que nada mais poderia salvar a criança e sua bocarra tomou a presa em apenas um movimento, engolindo-a por inteiro. A garota não reagiu, não esboçou qualquer sinal de despertar, e o suco da violência escorreu pelos dentes da besta enquanto se refestelava com a refeição fácil.

Concluído manjar, o demônio ainda sentia espasmos de um prazer psicótico, quando veio uma leve quentura em seu estômago, imaginou ser algum mal estar passageiro, mas o calor aumentou e foi ficando cada vez mais intenso, até se tornar insuportável, o urro do ínfero foi hediondo e ouvido a grande distância. As pessoas que estavam no subsolo da igreja destruída, acordaram sobressaltadas e com profundo temor.

O primeiro feixe de energia saiu rasgando o abdômen do monstro como uma lâmina fugaz, depois da luz, dedos de duas mãos em direção opostas, foram abrindo com a força de braços vigorosos o monstro, luz e força esgarçaram o demônio que ficou completamente irreconhecível, quando uma criatura muito maior foi “parida” do ínfero. O gigante estava banhando em sangue, que evaporava de sua pele pálida lustrosa, agachado com uma das mãos apoiadas no joelho e a outra no chão, o ser contemplou o solo e depois o céu e percebeu quando um pequeno globo dourado saiu de dentro do que restou do monstro e se posicionou a frente do homem celestial.

Seja bem-vindo Pharaeus, eu sou Nina e você o meu milagre.

Bruno de Brito

Mestre da campanha "Aurora dos Conflitos", ocorrida no cenário de Greyhawk. Entusiasta do sistema Pathfinder, fã de Magic: The Gathering e churrasqueiro nas horas vagas.

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Bruno de Brito

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