Os fragmentos de texto reunidos nessa compilação estão repletos de símbolos dotados de uma estranha beleza alienígena que formam padrões perturbadores ao longo do pergaminho onde foram lançados. Trata-se do Nam Bal Sharai, também denominado de “Livro da Escuridão Perpétua”, escrito por Cassandra, a Sombra Escarlate, durante a sua longa e infame existência. Ele é considerado uma das mais completas obras acerca da arte negra da necromancia em toda Faerûn, embora também aborde encantamentos, adivinhação e a magia do povo do Norte. Contudo, após o fim da guerra contra o Rei-Bruxo de Vaasa e o desaparecimento de Cassandra, todas as cópias conhecidas do Nam Bal Sharai foram destruídas para que as blafêmias contidas em suas páginas não contaminassem a mente de magos jovens e inexperientes.
07 de Targakh de 1270 CV
Sinto que ainda não realizei nenhum avanço substancial em compreender como o ritual utilizado pelos espécimes estudados é capaz de impedir que eles se esqueçam da Ascensão da Estrela Errante. Não se trata de uma alteração de natureza física. Já me certifiquei desse fato ao observar a realização do denominado “Ritual da Eterna Lembrança” em espécimes vivos e conscientes enquanto tomava nota do que acontecia aos seus cérebros ao longo do procedimento. A princípio, o referido ritual parece criar intrincados padrões quadridimensionais de proteção que se estendem através de todos os Planos de Existência e talvez até mesmo ao início e ao fim do Tempo, preservando a memória da criatura dentro de determinados limites.
Contudo, assinalo que o conhecimento acerca dos horrores escamoteados pela elaborada simbologia utilizada na Ascensão da Estrela Errante é perigoso. Muitos dos espécimes submetidos ao ritual enlouqueceram lentamente com o passar do tempo, em especial as mentes mais frágeis e simplórias. Até mesmo aqueles espécimes que nunca tiveram qualquer contato prévio com a ominosa composição passaram a acreditar fervorosamente em suas palavras, a despeito de ignorarem por completo o seu real significado.
De qualquer sorte, embora os efeitos produzidos pelo Ritual da Eterna Lembrança sejam prodigiosos, o feitiço que preserva o enigma da Ascensão da Estrela Errante certamente desafiaria a compreensão do próprio Karsus. Nem mesmo o infame Arquimago Netherense conseguiu formular um encantamento capaz de alcançar tanto a mente dos mortais quanto à dos deuses! Talvez a compilação do Crepúsculo dos Titãs do Inverno feita pela minha nova amiga lance alguma luz sobre o tema, em especial no que diz respeito ao Quinto Portal. Suas cartas são deliciosas, repletas constatações interessantes e ilações inesperadas, embora ainda elementares e pouco sofisticadas… Tão ávida para aprender… Tão desesperada para desvendar os segredos do Universo… Em breve devo encontrá-la pessoalmente.
No que diz respeito ao procedimento do Ritual da Eterna Lembrança propriamente dito, ele deve ser realizado durante uma noite de outono ou do início do inverno, quando a Nebulosa Galeão estiver flutuando no céu noturno. Além disso, Iaras precisa estar alinhado à Marcha do Mago. Satisfeitas essas condições, o Suplicante deverá recitar determinados trechos da Ascensão da Estrela Errante enquanto os entalha em sua pele utilizando um instrumento feito de obsidiana e uma tinta especialmente preparada, cuja fórmula incluiu extratos de ervas nativas das Montanhas Galena, ácidos e o próprio sangue do Suplicante. Uma lista completa dos ingredientes é fornecida mais adiante. O ritual consome aproximadamente seis horas e é extremamente doloroso. Por isso, demanda uma vontade férrea ou uma mente obstinada para ser concluído. Se o Suplicante não conseguir terminá-lo ou o executar de forma equivocada, sua sanidade fatalmente será despedaçada no processo. Muitos enlouqueceram por completo, perdendo todo o contato com a realidade.
Uma última observação: o Ritual da Eterna Lembrança não é eficaz se o Suplicante utilizar uma linguagem diferente do Jotunalder. Interessante notar que não encontrei referência à nenhuma outra variação desse encantamento, nem mesmo entre os elfos e os dragões. Ao que tudo indica, foram os descendentes de Ottar que o criaram para se protegerem do feitiço que preserva o enigma da Ascensão da Estrela Errante.
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