HERÓIS DO NORTE – O CAMINHO DOS HERÓIS
Breves palavras do autor
Essa é uma daquelas histórias que merecem talvez ser contada em um livro. É possível que seja assim que eles nascem. Nos dias que sucederam a escrita do resumo a seguir, algo entre 27.11.17 e 31.12.17, me peguei refletindo inúmeras vezes sobre o que aconteceria com os personagens, a aventura foi projetada para ser vivida pelos personagens protagonistas Sandy Benelovoice, o sacerdote de Pelor Erzurel Graysson e o elfo vampiro Aescriel, e por motivos especiais não pôde ser jogada, mas aqui e agora será contada. Há ainda como personagem do mestre o necromante Lázarus e o príncipe herdeiro Thrommel, alvo da busca do grupo pelos esgotos e uma masmorra nos confins do subsolo da grande cidade de Verbobonc.
Preciso realizar um agradecimento especial a minha esposa Daniele. Ela não é versada na arte do jogo de interpretação de papeis, entretanto inúmeras foram as vezes que ela me pegou escrevendo e com seu nobre conhecimento em ortografia e gramática, me ajudou com as passagens finais da história. Engraçado que ela se pegou curiosa com o que aconteceria com os personagens, em especial Erzurel, apenas pude dizer-lhes: acesse o blog www.orbedosdragoes.com para saber o resto (risos).
Espero que apreciem a fantástica aventura que o quarteto de heróis e por que não anti-heróis, viveram nos 2 dias que exploraram esgotos de Verbobonc.
Essa é uma história original escrita por Bruno de Brito
Contribuição na revisão: Daniele Sotero
Uma goteira constante caia de algum lugar, em verdade de muitos lugares, e parecia que ali embaixo todas elas se somavam. Havia cerca de pouco mais de algum tempo mensurável que o quarteto mais improvável de se ver unido em comum propósito estava ali reunido. Sandy Benelovoice, Lázarus – O Necromante, Erzurel Graysson e Aescriel, o elfo vampiro.
O grupo observou um extenso e largo corredor, cerca de seis metros de altura por 4,5m de largura. Pedra antiga e coberta por uma umidade esverdeada e escura cobria o rejunte e cantos. Um vapor úmido e constante era expelido continuamente pelos locais de abertura ao longo do trecho. Ali embaixo o frio do inverno condensava o ar criando uma névoa branca e cinzenta. A temperatura era mais amena ali embaixo. O grupo avançou, e a medida que a caminhada foi adquirindo consistência, cada membro do grupo foi se mostrando silencioso e pensativo.
Erzurel observava preocupado Sandy, a paladina visivelmente estava abalada, confusa e com um semblante melancólico e incomodo, era como se não fosse a mesma paladina. Erzurel segurou a mão dela transferindo um calor fraternal e sorrindo ainda que parcamente. Ele queria que ela soubesse que estava ali, ainda que não sentisse que ela depositava nele, confiança para sentir a firmeza daquele olhar. O clérigo tinha certeza que a paladina o julgava inexperiente, alheio a gravidade das coisas e talvez até negligente, mas a ela faltava a sabedoria dos sacerdotes de Pelor, para que pudesse ver que a luz sempre procede a escuridão, e ali, eles dois eram talvez a única luz. Thrommel precisava disto, em verdade essa era a sua única salvação.
Sandy Benelovoice orava continuamente, silenciosamente e sozinha em seus pensamentos. Suas bênçãos de paladino se foram, uma a uma: sua capacidade de Detectar e Punir o Mal, Graça Divina, Cura pelas Mãos, Saúde Divina, Misericórdia, Canalizar energia positiva, Magias, Elo Divino e a Aura da Determinação. Sandy se sentia traindo todo que acreditava, definitivamente ela não estava bem, sentia falta de uma orientação, de uma voz que dissesse o que era o certo a fazer, todo seu treinamento, estudos e vivências até aquele ponto não havia a preparado para aquele momento. E ela pensava em sua senhora, sua tutora – Justine, o que ela faria? Sacaria sua espada e ceifaria a vida do vampiro e seu amigo necromante, seguindo ela e Erzurel rumo ao desconhecido em busca do seu príncipe, por onde, sem informações do inimigo? A vontade era grande, mas a tolice possivelmente o seria também. Ela não tinha alternativa, havia entrado em um labirinto complexo e se sentia perdida. Um toque caloroso a fez sair dos seus pensamentos, absorta ela observou a mão e quem a tocou – Erzurel. O clérigo a observava com um olhar de empatia e compreensão nunca antes notado pela paladina. Algo em seu íntimo subestimava o sacerdote, mas o olhar dele era diferente, um olhar de confiança, de fé, de certeza. Era o otimismo que ela precisava. Acenou positivamente ao clérigo e voltou seu olhar para frente.
O grupo percebeu um leve tremor e daquele ponto em diante a aventura de fato começou.
Aescriel e Lázarus guiavam o grupo pelos corredores e caminhos até onde conheciam, ratos atrozes e enxames de ratos foram os desafios iniciais, criaturas perigosas e carregadas de doenças, que foram vencidas sem muita dificuldade pela magia do grupo. Em outra passagem, grande tanque em que o grupo tinha que mergulhar para chegar a uma outra sessão dos esgotos, os heróis tiveram que usar de inteligência para atrair para fora dois grandes crocodilos. Répteis fortes e extremamente perigosos que atacou o grupo conforme eles haviam planejado. Neste confronto Lázarus acabou sendo surpreendido por um terceiro réptil e para o espanto de todos, o ataque lacerou completamente o seu braço esquerdo. A fera o mordeu firmemente e com um giro mortal estraçalhou o membro do necromante.
Aescriel foi em socorro do necromante que acabou sendo jogado na água suja do tanque. Enquanto isso Sandy e Erzurel confrontava outra besta. O combate foi duro e por fim os três crocodilos foram vencidos pelo grupo. Lázarus gritava de dor mesmo sob os cuidados urgentes de Erzurel que lhe prestava os primeiros socorros.
O necromante havia perdido muito sangue e a consciência no processo. Iria sobreviver, mas o braço havia se perdido para sempre. O sacerdote de Pelor conseguiu amenizar e estabilizar a saúde de Lázarus, ele foi levado até uma câmara já visitada pelo grupo e deixaram ele lá. Nas condições em que estava haveria grave risco dos pontos feito no toco no ombro se romperem, e para o grupo também seria um risco por conta da vulnerabilidade.
Havia ali um misto de preocupação com o estado do necromante, e um quê de abandono em deixa-lo ali, mas o grupo não tinha alternativa, precisavam seguir adiante. Sandy até conseguiu sentir uma breve preocupação com o moribundo necromante que tanto atazanou suas missões e tanto mal fez aos mortos e aos vivos.
O grupo voltou aos tanques agora manchados com o sangue frio dos répteis derrotados. Eles teriam que mergulhar ali para chegar até o outro lado.
Havia uma sensação diferente no trio que seguia câmara após câmara, desafio após desafio. Por pior que fosse ter deixado o necromante para trás havia um “alívio” no clima daquele grupo. A presença de Aescriel ainda perturbava a Sandy e Erzurel, mas o vampiro se esforçava para ser uno em seus pensamentos, estratégias e comportamento nas adversas situações que se apresentaram ao grupo, fosse como fosse, ele era uma companhia ainda que antagônica, melhor que a do necromante.
Sozinho em uma câmara fria, Lázarus teve a certeza que precisava continuar, seu plano indômito, dependia de movimento. De dentro do robe, o necromante retirou uma poção pastosa de cor lilás, aplicou no ombro cujo braço havia sido decepado pelo crocodilo, derramando a substância no toco vermelho e escuro de sangue coagulado, ele também bebeu do unguento. Aquela tinha sido uma poção ganha de presente do próprio Anacrael pela missão realizada com Aescriel que culminou no rapto bem-sucedido do príncipe de Furyondy.
Uma dor lancinante percorreu lhes todo corpo e ele achou que perderia os sentidos. Do ferimento pequenos seres brancos com a cabeça preta, vermes começaram a brotar profusamente do ferimento e um braço totalmente composto por aquelas criaturas se fez no lugar, ele não possuía a capacidade de total de movimento para empunhar uma espada ou arma, mas conseguiria realizar os movimentos somáticos que suas magias demandavam, e para isso ele serviria. Havia um constante formigamento no toco, mas a dor havia se ido. O necromante se pôs de pé, abriu um pergaminho retirado de sua algibeira e tomou um rumo diferente do qual o grupo havia ido. Ele arriscaria um “atalho” por aquela masmorra e chegaria primeiro ao local onde Aescriel estava conduzindo os seus companheiros.
Após enfrentar criaturas semelhantes a polvos saídos de câmaras rasas nos locais por onde passaram, Sandy, Erzurel e Aescriel desceram estreitas escadas em espiral e chegaram ao que parecia uma biblioteca, o local estava totalmente tomado por mofo e umidade, o grupo pensou logo que quaisquer títulos de papiro ou papel que houvesse ali estaria completamente destruído, condenado ou ilegível, porém para a surpresa dos heróis, as estantes estavam repletas de tabuletas de pedra, tecidos de tonalidade especial e até mesmo livros com páginas feitas de ferro ou algum metal resistente àquelas condições.
Com a luz trazida pelo grupo, eles começaram a vasculhar o local. Aescriel sabia que lugar era aquele, havia visto em um registro dos mapas guardados por Melquisedec. Aquela era uma parte da biblioteca élfica que ele possuía, e o lich havia se apoderado de títulos antigos para obter informações sobre magia e ocultismo. Não era incomum haverem bibliotecas pequenas criadas pelo lich par consulta e em todas elas havia um guardião. Antes que pudesse alertar o grupo sobre essa lembrança o grupo estava diante de um. Uma grande estatua de um escorpião na parede. De tão realista ela criou um medo instintivo no sacerdote que conseguiu reagir antes de um ataque advindo de suas costas pelo ferrão do escorpião gigante. A besta tinha cerca de 3 metros de comprimento e derrubava estantes enquanto se movimentava em ataque ao grupo.
Diferente de um escorpião comum, a criatura serpenteava no solo e era desprovida de patas, possuindo apenas duas pernas que mais se pareciam com nadadeiras. Com uma mordida extremamente poderosa Sandy sentiu quando as presas de pedra do monstro fincaram em sua perna e o sangue jorrou intensamente, dali em diante ela mancaria certamente por um longo tempo.
Enquanto Erzurel prestava auxílio a paladina que perdera os sentidos com o ataque, Aescriel atraia a atenção do monstro para longe dos aliados. E com magia e suas poderosas pancadas o elfo vampiro enfrentou o escorpião. Após estabilizar a paladina Erzurel se somou a peleja flanqueando com Aescriel a criatura. E com uma sucessão de ataques bem-sucedidos, o grupo conseguiu derrotar a poderosa fera de pedra.
Sandy havia sido ferida gravemente, e segundo o sacerdote de Pelor, ela precisaria de algumas horas de descanso. O ferimento perna fora grave, mas não rompeu o osso ou artérias importantes, ela andaria, ainda que mancando por um tempo, não poderia correr ou investir, mas poderia lutar. Ali naquele local, o grupo descansou, Erzurel já havia esgotado a maior parte de suas bênçãos e o descanso era bem-vindo. Aescriel por outro lado não precisava dormir ainda que o repouso fosse necessário para recuperar suas magias, e aproveitou as horas que se seguiram para vasculhar o local, e nessa busca ele encontrou um livro feito de papiro ainda conservado, capa de pele com um aspecto medonho. O vampiro sorriu, aquele não era qualquer livro, mas um que o necromante Lázarus buscava – O Livro dos Mortos. Um título sobre o qual seu conteúdo não poderia ser lido por qualquer mortal, sob pena de perder a sanidade. O Livro dos Mortos era um guia de como se transformar em um bruxo morto-vivo, ou comumente conhecido como Lich.
Guardando em sua mochila, o vampiro queria ter certeza que aquele título jamais caísse nas mãos erradas, principalmente de Lázarus. É claro que se tornar um lich não era uma tarefa simples, requeria uma série de ingredientes complexos, rituais de difícil execução, algo que certamente consumiria anos dedicados a missão, mas havia uma possibilidade, e somente pensar em um novo Anacrael eriçava os pelos da nuca do vampiro, Lázarus era um necromante com ambições perigosas e era o tipo de vilão que heróis como Sandy e Erzurel combatiam.
Continua em Tríplice Coragem
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