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A medida que Drigos se afastava, seguindo para dentro de uma floresta, não pode ouvir o restante da discussão.
Em meio a noite estrelada e chuvosa, sua vista foi se acostumando com a pouca iluminação. Seguindo por algumas horas, perpassou uma área com muito aclives e declives, onde teve que se agarrar em galhas e raízes para poder vencer o terreno, se sujou com terra e lama até chegar numa área mais aberta, onde pode divisar uma pequena propriedade, que exibia um ponto de iluminação, o que poderia significar pessoas.
O paladino sentiu sua barriga roncar, mas ignorando seus instintos mais primitivos, como o frio que fazia no local, observou o casebre. Percebeu que estava no centro de uma pequena fazenda, pois viu uma casa, um celeiro e algumas cercas espalhadas, contendo gado e cabras.
A chuva deu uma trégua, a medida em que ele foi deixando a floresta e se aproximando da propriedade.
Sem saber se o território em que estava adentrando era hostil ou favorável, se ajoelhou na terra molhada, fechou os olhos e orou com fervor, buscando uma benção em particular.
Ele convocou sua montaria sagrada. Quando um relâmpago caiu fazendo um clarão, o paladino ao abrir os olhos, viu o resfolegar de Vento Cortante, que com um hálito quente se mostrava bem a sua frente, com o focinho encostado e roçando em seu rosto.
A majestosa criatura havia atendido sua convocatória, se presentando ao aliado, em todo o seu esplendor e vigorosidade.
Emocionado com o reencontro, Drigos, teve o ímpeto de abraçá-lo mas se conteve, pois lembrou como sua montaria era geniosa, fez uma longa reverência, sendo igualmente cumprimentado pelo cavalo alado, que pareceu entender-lhe muito bem. Ao final, o paladino disse:
– Nobre amigo. Me aguarde aqui, se algo der errado, sairemos daqui rapidamente.
Assim, Drigos se aproximou da casa principal, onde deveriam habitar os proprietários daquele lugar. Ao chegar a soleira da varanda, ouviu ranger da madeira sob seus pés e percebeu uma abrupta movimentação no interior da habitação, quando ouviu uma voz masculina dizer:
– Saia daqui! Ou então arcará as consequências! Estamos em muitos aqui! – ele ouviu o que pareceu ser a mesma voz, mas modificada para parecer outra – Não existem mulheres ou crianças! – novamente a voz mudou para outra mais grossa – Estamos em sete e bem armados, fuja enquanto há tempo invasor!
Percebendo que aquilo seria o embuste de uma pessoa desesperada, Drigos respondeu para o habitante, com serenidade na voz:
– Calma homem! Não vim lhe fazer mal.
Antes que pudesse continuar, o paladino ouviu o som de um gatilho de besta e percebeu que a sua esquerda, há 12 metros de distância, olhos azuis lhe observavam sob um grande manto negro com capuz, a figura, mais baixa que Poderkaine, segurava a arma apontada em sua direção com braços finos e lhe disse com uma voz grave:
– Você está sob minha mira. Não se mova estranho!
Subitamente, abriu a porta e saiu da casa, um homem alto e magro, de olhos azuis, barba e bigodes castanho escuros, veio em sua direção apontando um garfo para feno, que portava com arma, e disse ao paladino:
– Não se mecha! Largue a arma, diga a que veio e depois parta, ou terá problemas.
Drigos, deixando suas mãos a mostra, as colocou para o alto e respondeu:
– Eu sou Drigos Poderkaine, paladino de Tyr! Não lhes farei mal. Gostaria de saber onde estou.
Quando se identificou como paladino, o homem fez uma careta e rebateu:
– Largue a arma! Você está mentindo! Não existem paladinos! Eles se foram a muito tempo. – nesse instante, uma garotinha saiu de dentro da casa e deu um leve trompaço na perna do homem, que com um olhar de preocupação continuou. – Laura! Aqui é perigoso! Vá para dentro agora!
Abismado com a declaração do homem – que percebeu dizer aquilo com convicção, Poderkaine olhou para a garotinha e percebeu que seu semblante demonstrava que ela estava enferma. A criança tossiu, enquanto se agarrava a perna daquele que parecia ser seu pai, e disse:
– Pai, ele disse que é um paladino. Nas estórias que você contou, paladinos são bons. Aqui fora está frio – a garota tossiu – Melhor entrarmos, ou o senhor ficará doente.
Subitamente, o jovem com a besta gritou em surpresa com algo que havia visto, após o lampejo de um relâmpago:
– Pai! Veja ali! É um cavalo alado!
O desconfiado homem, em choque viu Vento Cortante e disse:
– Pelos olhos de Tyr! É um vâniary (cavalo alado)!
Enquanto a dupla ficava perplexa e sem reação, compadecido com o estado da criança, Drigos se precipitou para a frente, largando sua espada no chão, se aproximou do homem e sua filha, dizendo:
– Aí está a espada. Mas lhe peço que me permita ajudar sua filha.
Sem dizer mais palavras ele se abaixou, ficando frente a frente com a menina e orou, pedido a intervenção e graça de sua divindade, a tocou. Após um breve instante, percebeu a infante corar novamente, exibindo um aspecto saudável, foi quando percebeu que havia conseguido curar a criança de sua enfermidade, deixando o pai e o filho estupefatos com o auxílio inesperado que receberam do cavaleiro sagrado.
Ao notarem, por suas ações, que Drigos fala a verdade, o agradeceram pela graça concedida, o convidaram a entrar e se aquecer na casa, enquanto, com a autorização do paladino, o filho conduziu a montaria sagrada dele até o estábulo.
Uma vez dentro, o homem se identificou como Wenishy (mesmo nome do irmão de Drigos), e apresentou seu filho Jarry.
O paladino comentou com o dono da fazenda que ele havia recebido o nome de um herói. O homem contou a Drigos que ele estava nos arredores da antiga Caminite, hoje uma vila pouco habitada e assolada por kobolds. Explicou que sua família, resistente em permanecer naquelas terras, ainda professava a fé em Tyr, mas que muito poucos tinham essa fé naqueles dias. Ademais, quando consultado sobre a existência de Ecnor, o homem lhe havia dito que nunca ouvira falar de tal reino, para o estarrecimento do guerreiro sagrado.
A chuva voltou a cair do lado de fora da casa, enquanto todos jantavam. Parecia a Drigos que a muito tempo não experimentava uma refeição tão saborosa. Enquanto saciava sua fome, aquecendo-se no interior daquele casebre, ele soube da localização de um pequeno santuário construído pela família do fazendeiro a muitos anos, que era usado para orações ao deus da justiça.
Infelizmente o lugar havia sido conspurcado por kobolds, que haviam tomado a área, o tornando um covil.
Um dos irmãos mais novos do fazendeiro, e outros homens corajosos, haviam se levantado para expulsarem as criaturas no passado, no entanto foram vencidos e seu irmão havia sido morto nos confrontos. Após esse conflito, a área não era mais adentrada pelas pessoas, que agora viviam sob constantes ataques das criaturas, que periodicamente os saqueavam, destruindo e até matando aqueles que se punham em seu caminho.
Ainda aturdido com tantas informações que conseguiu colher durante a conversa com aquela família, Poderkaine solicitou um local para descasar. O dono da fazenda ofertou um quarto em sua casa, mas Drigos recusou, solicitando dormir no celeiro. A contragosto, o dono da casa consentiu, pois para ele o guerreiro sagrado deveria permanecer na casa, onde poderia ficar mais confortável, mas Drigos queria ficar a sós com sua montaria para decidir o que fazer.
Wenishy lhe ofertou um conjunto de novas roupas, um cobertor, saco para suas roupas sujas, e uma bolsa contendo pederneira, isqueiro, vela e um candeeiro, pedindo à Jarry para levá-lo ao celeiro e acomodá-lo no lugar.
Uma vez no celeiro, enquanto conversava com sua montaria, olhou atentamente para a ampulheta, decidiu que usaria seu heroísmo para libertar o santuário do domínio dos kobolds e possivelmente utilizar o local como refúgio para poder se alinhar com os equipamentos que portava e assim executar o ritual para usar a Ampulheta de Chronus.
Drigos dormiu brevemente, pois mesmo num sono sem sonhos com presságios, sua inquietude advinda de todo o que havia vivido e ouvido naqueles breves instantes em que havia retornado a vida, naquele tempo, o fizeram despertar antes do amanhecer.
Durante a madruga, lembrando dos rostos de medo, desconfiança e desesperança daqueles três membros da família que havia lhe dado abrigo, ele, por um instante, chorou ao perceber o que um mundo sem paladinos poderia gerar.
Ainda chovia lá fora, a madrugada ainda se apresentava, mas Drigos pretendia levar a justiça aos kobolds o quanto antes, pois não sabia se Alucard havia tido êxito em deter seu oponente e não poderia arriscar todo o plano CaLuCe com algum eventual atraso.
Percebendo que a chuva atrapalharia e poria em risco sua montaria, caso decidisse voar com ela, partiu a pé e sozinho rumo ao local onde os kobolds estariam.
Após alguns minutos de caminhada ele encontrou uma trilha que o levou até o alto de uma colina de onde pôde divisar o bosque descrito pelo fazendeiro, onde se localizava o santuário.
Ao descer a colina, rumo a floresta, viu de perto a trilha que levava para o interior dela. Um raio caiu dos céus, no momento em que o Drigos, sacando sua espada começou a entrar na mata.
Poderkaine, já no início da trilha, olhou para trás ou ouvir o som do trovão que veio atrás do raio e disse em voz baixa, como um pensamento que escapava pela boca do guerreiro sagrado:
– Em breve, os kobolds descobrirão o que é um mundo com pelo menos um único paladino!
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Criação e elaboração: Patrick, Diogo Borges.
Fontes de imagens: internet
Autoria da imagem da capa do artigo: Shin
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