Os membros da tripulação vigente passam por momentos difíceis e mortais durante as missões. Algumas vezes esses traumas despertam uma lembrança, memórias ou até mesmo visões sobre o passado do indivíduo.
Os Neurolinks de Memória Pós-Traumática (NMPT) são um recurso narrativo que visa encaixar elementos da história com os personagens, trazendo à tona conflitos internos e traumas passados para dar profundidade na construção da persona individual e sua interação com o grupo.
É chegada mais uma noite de descanso na dura jornada pelas florestas de Ukulam. Logo depois de fazer suas preces noturnas, Obel se deita e começa um sonho muito peculiar.
Depois de revisar o plano de ação do próximo dia com Maenala e Vixen, Obel vai se deitar e logo começa a sonhar com uma grande aventura espacial. Um sonho recorrente na bem-aventurada mente desse ser de espírito simples. Ele pilota desviando de disparos laser em uma verdadeira guerra espacial de escala interplanetária. Toda a habilidade onírica do pequeno apressamandra sendo posta à prova enquanto ele faz manobras surreais e circenses para se esquivar de tiros que cruzam a negritude do espaço sideral.
Parecia mais uma noite comum coroada por sonho majestoso que faria Obel despertar com um inocente sorriso no rosto, mas à medida que o tempo passa e seu sono se aprofunda, ele percebe que não está mais no espaço. O apressamandra observa montanhas de cumes congelados à sua volta, bem como nuvens densas atrapalhando sua visibilidade e capacidade de realizar manobras. Ele rapidamente reconhece esse céu esverdeado e a geografia erma a qual ele sobrevoa. Trata-se do planeta Triaxus.
A ampla cadeia de montanhas com picos cobertos de neve apresenta um desafio maior do que a própria guerra, mas dessa vez não se trata de um simples sonho e sim de uma lembrança. Obel já atravessou os ventos fortes que varrem os cumes afiados das afrontosas montanhas da região. É difícil manobrar mesmo para naves estrelares mais bem preparadas. Ao virar a cabeça para o lado, o jovem apressamandra percebe que não está sozinho. Dois meio-elfos fazem companhia para o piloto destemido.
Ele não se recorda bem como esses dois meliantes conseguiram o convencer a fazer essa viagem insana, mas isso pouco importa agora, pois a nave está a um fio de sair de seu controle.
Obel tenta controlar o manche com seus seis pequenos braços numa disputa virtuosa entre carne e maquina. Comandos de voz reagem a seus gritos de desespero e o sistema de controle parece processar mais do que consegue. A nave começa a pender e emborcar na direção dos cumes mortais. Numa última tentativa de salvar a embarcação, Obel usa de toda sua força, física e mental, para arremeter na direção do céu, puxando o manche todo em direção a sua virilha peluda.
Para surpresa de todos, a manobra funciona! A nave começa a subir e logo passa por cima das nuvens, encontrando uma visão límpida e clara da estratosfera do planeta. Mas ao tentar retomar o domínio da aparelhagem, Obel percebe que a máquina havia se exaurido e o esforço excessivo tinha finalmente cobrado seu preço… A embarcação estava fora de controle. Nenhum comando reagia, inclusive a Inteligência Artificial que deveria auxiliá-lo.
Sem muitas opções, os contratantes vestiram seus trajes espaciais e já se preparavam para abandonar o engenho voador quando um baque ocorreu. A nave cruzou a fronteira entre a camada de vida do planeta e o espaço. Um grande solavanco seguido do barulho ensurdecedor de alerta dos sistemas críticos subitamente os atingiu. Era o fim, nada mais poderia ser feito, o maquinário voador estava morto aos olhos de Triune.
Os meio-elfos abriram manualmente a comporta lateral da nave, causando uma brusca queda de pressão interna na nave e, tão rápidos quanto surgiram na vida de Obel, eles sumiram na escuridão do espaço. Sem ar e sem conseguir pensar como poderia sair daquela situação, Obel abraça seu fatídico destino. Ele solta o cinto de segurança, abre seus braços e se ejeta em direção ao nada.
Uma explosão silenciosa eclode nas costas do lacônico apressamandra. O impacto foi forte o suficiente para fazê-lo perda a consciência. Enquanto flutuava no vazio, de olhos fechados, Obel, apesar de estar sufocando e do torpor latente do seu corpo, só pensava que o fim era inevitável, nada poderia fazer a não ser abraça-lo.
Ao abrir os olhos, uma pequena estrela, ao longe, começou a se aproximar. A cada segundo ela parecia estar mais perto, aumentando a intensidade e o raio de seu brilho. Ele sabia que isso não era possível, talvez as lendas sobre seguir a luz no fim do túnel depois da morte fossem realmente verdadeiras.
A estrela, à medida que se aproximava, adotava um formato peculiar. Asas iam se formando ao fundo da forma luminescente enquanto o brilho ia se achatando e tomando a forma de um inseto com antenas. A mutação resplandecente parecia adotar a silhueta de uma borboleta. Uma borboleta com estrelas em suas asas. Era uma visão magnifica, indescritível. O pequeno apressamandra foi inundado por todos os tipos de emoções, das melhores às piores, dá felicidade à raiva, da completude ao isolamento.
Uma voz feminina ressoou em sua mente, uma voz escutada em todos os anos vindouros de sua história. Mas de alguma forma Obel percebeu que a voz de Desna é a voz de Maenala.
“Compendioso ser senciente, acompanho sua jornada desde seu nascimento (…) sua fé, coragem e determinação transformaram seu percurso no Plano Material em uma aventura que merece ser apreciada com carinho (…) Essa não é a hora de interromper essa empreitada, você ainda tem muito a oferecer para os outros seres, ainda existem mistérios para serem resolvidos e segredos para serem revelados e isso fará parte de seu trajeto. Serei sua estrela guia e seu ponto de conforto. Serei, para sempre, a voz em sua mente que te guiará para um futuro glorioso. Acredite no seu potencial, pois, apesar de seu diminuto tamanho, no seu coração cabe o universo…”
O brilho tocou o apressamandra e ele retornou do seu estado catatônico, vivo e de alguma forma adaptado às intempéries do espaço. Obel não sabia explicar o que ocorreu, mas de uma coisa tinha certeza: deveria ouvir Desna e fazer o que sua voz clamava.
Ao acordar no dia seguinte, ele se depara com Maenala, já pronta para continuar a empreitada, a jornada na floresta. Ela serve o café da manhã, o ajuda a vestir a roupa e lhe faz um carinho rápido na cabeça, mas Obel não pode deixar de reparar que há um brilho diferente nos olhos da lashunta. Um brilho estrelar…
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