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Das brumas do tempo e do espaço um caleidoscópio de imagens se desvela a um espectador desconhecido, que parece sonhar o mundo a partir de um outro mundo muito distante…
A primeira figura que ele vê nesse rodopiante reino onírico é uma bela e altiva mulher. Seus cabelos dourados, presos em uma longa trança, descem-lhe pelas costas de forma elegante, combinando com a cor viva e brilhante do seu vestido. De alguma maneira o sonhador sabe que se trata de Tymora, a Deusa da Fortuna. Ela está conversando com um homem enorme e de aparência rude, cuja expressão aparvalhada e confusa parece indicar graves problemas mentais. Tymora lhe diz algumas palavras gentis e acaricia seu rosto sujo. Em seguida, o conduz até um beco escuro de uma grande metrópole, onde uma criança recém-nascida e de feições abjetas chora desconsolada sobre o corpo inerte e ensanguentado de sua mãe. A deusa toma o infante nos braços e o entrega ao homem, pedindo que cuide dele…
Repentinamente o sonhador se sente dragado por uma massa de sombras que dançam ao seu redor em um frenesi macabro. Um frio intenso atravessa seu corpo, congelando seus ossos. Ele é abandonado em uma caverna coberta de gelo e chamas púrpura. À sua frente um enorme dragão moribundo aguarda, resignado, o fim do seu sofrimento. Tymora adentra o covil da fera cuidadosamente e a toca com suavidade. Nesse momento ela adormece e seus ferimentos começam a se curar. A deusa então se apossa de um imenso ovo e deixa o local com a mesma calma e graciosidade com que chegou.
As sombras se avultam outra vez sobre o sonhador. Quando elas finalmente desaparecem, nosso espectador percebe que foi deixado em algum ponto de uma bela floresta. O som de passos, gritos e grunhidos chama sua atenção, Uma mulher desesperada parece fugir de um grupo de criaturas horrendas, mas é atingida por uma flecha no exato momento em que alcançava os braços de um jovem elfo perplexo que procurava ajudá-la. De algum modo o sonhador sabe que na verdade a mulher é ninguém menos do que Tymora disfarçada. O elfo foge das criaturas, mas as sombras arrastam o sonhador para as suas entranhas antes que ele possa presenciar o desfecho dos fatos.
Atirado pela misteriosa mortalha de trevas em uma caverna escura e pútrida, nosso espectador percebe um facho de luz brilhante mais à frente. Avançando resoluto em sua direção ele se aproxima o suficiente para perceber que se trata de Tymora. A Deusa da Fortuna iluminava a desolação lúgubre daquele lugar abandonado pelos deuses como um lampejo repentino de esperança costuma reavivar um coração esmagado pelo desespero. Diante dela grandes rochas se amontoavam sobre o corpo de dois elfos. Um deles parecia estar morto. Tymora toca seu peito e fecha os olhos. O halo de luz que a envolve desliza pelos seus dedos e parece se infiltrar no corpo do elfo, que estremece por um momento e volta a respirar com dificuldade, tossindo muito. Os olhos da deusa então se abrem. Com um simples estalar de dedos ela liberta os jovens elfos de sua prisão de pedra e os leva para a entrada da caverna.
O sonhador não se espanta quando as sombras furtivamente retornam e o arrebatam do local. Ele as recebe com uma certa alegria, pois não suportava mais a dor e sofrimento impregnados naquela caverna maldita. Conduzido dessa vez ao interior de uma casa em chamas, nosso espectador nota um bebê repousando dentro de um berço. Protegido por uma energia azulada e tenebrosa, ele parece alheio ao perigo que o cerca. Em seu pescoço pende uma bela gargantilha de fabricação élfica adornada com uma opala negra… Temendo pela vida da criança, o sonhador ergue aos céus uma prece angustiada, que parece ter sido atendida quando a figura esguia de Tymora desponta por entre as chamas. Ela toma o bebê em seus braços e desaparece. Em um piscar de olhos nosso espectador também é transportado para as portas de uma casa insuspeita em meio ao setor portuário de uma grande metrópole marítima. Despedindo-se da criança com um beijo, a deusa a entrega a uma velha de olhar duro e inflexível.
A mortalha de trevas cai sobre o sonhador uma derradeira vez. Quando ela se desvanece, nosso espectador está diante do trono resplandecente de Tymora, construído em ouro puro e sustentado pela coragem, esperança e ambição de todos os mortais de Toril. A deusa lhe mostra uma moeda. Em uma de suas faces está escrita a palavra “Destino” em belas e delicadas linhas. No outro está escrito “Boa Sorte!”…
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