A chama da fogueira crepitava alegre, e os olhos de Lester brilharam com a gordura do esquilo que Arzentop havia caçado para o jantar, antes de partir para a cidade de Pontyrel com Rathnar. O cheiro e a fome combinadas despertaram dentro do halfling, Jester…
“- Não, não, não Lester! observe o que aquela senhora velha está fazendo com o esquilo, daquela forma a carne não ficará suculenta e macia, iremos comer carvão, é isso mesmo, por Ehlonna!?”
Jester estava certo e a fome de Lester abriu espaço para a personalidade mais comilona entre as quatro. Jester pediu licença para a velha matrona Maria, e tratou de cuidar habilmente dos esquilos que seriam apreciados com um caldo de erva doce, um pouco de favos de mel, obtidos de uma colmeia e uma pitada de erva sidra, todos esses ingredientes foram coletados durante dias de caminhada do grupo pela selva de Celadon, Lester sabia que Jester era o responsável por sua sacola estar cheia de coisas as quais ele não fazia ideia de quando haviam parado lá. O fato é que o halfling glutão sabia improvisar excelentes iguarias.
As mulheres, aldeãs, Ororo, Maria, Eulina e Cris, no final agradeceram ao hábil halfling pela refeição de Esquilo com Caldo Doce, mas não conseguiam entender como Lester havia mudando tanto, suas roupas, cabelo, fisionomia, o halfling estava diferente de instantes atrás, deste momento em diante elas imaginaram que Lester na verdade, poderia ser uma fada da floresta, que como diz o folclore, prega peças e ilude olhos comuns. Enfim a fome era maior que as dúvidas.
Satisfeito e relaxado, Jester tomou um leve susto quando ouviu uma de suas contra-partes:
“- Vamos mesmo ficar aqui no relento, Jester? A minha magia pode nos proteger do vento e do sereno, vamos sai “daí”, que você não sabe nada de magia!”
E foi a vez de Chester, o Erudito assumir. Com suas palavras mágicas, gestos corporais e sua varinha, terra e madeira começaram a se amontoar para dar a forma de uma pequena casa de apenas cômodo, era a obra prima da magia, no final as palavras de Chester pronunciou:
” – Eu invoco o Abrigo Seguro!”
E assim, a magia do halfling havia trazido conforto e segurança para as mulheres e o próprio halfling. Uma vez acomodados em seu interior, trouxeram brasas e mais madeira para a pequena lareira que havia no local. Logo trataram de se prepararem para dormir.
Próximo da primeira gota de sono, Lester ouviu:
” – É isso mesmo? Vamos continuar vivendo como há 700 anos, sem saber onde Elza ou Fierna, minha filha foram enterradas, ou mesmo o que se deu de nossos netos, bisnetos, tataranetos, tatatarentos, tatatataranetos, tatatatataranetos e tatatatatataranetos estão vivendo em Bolsa Gaivota? Para mim isso é um absurdo! Vocês estão pouco ligando para nossa família, um só pensa em comer, outro em estudar, outro em curiar o que não deve. Resultado, eu sou o único preocupado com nossa família aqui!”
” – O que você está falando Fester, eu sou o mais interessado, a culpa de ter ficado tanto tempo preso naquele espelho não é minha, a culpa é de Chester, ele foi o primeiro a querer saber se na pilha de tesouro haveria alguma coisa interessante, foi ele, não eu! E Elza é MINHA esposa e Fierna MINHA filha, não sua!”
Lester havia se irritado profundamente com Chester, o Erudito e com Fester, o Carrancudo.
” – Senhores, para quê tanta briga? De nada adiantará, acabamos de comer um esquilo delicioso, e estamos aqui deitados em um chão limpo que não é terra, muito menos mato, e vocês estão aí se esbofeteando, a troco de quê? Para onde essa raiva vai nos conduzir? Fester do que adianta sairmos daqui agora no meio da noite, em uma floresta com feras sombrias, orcs, gorilas e coisas piores, ou você acha seguro adentrarmos em uma cidade povoada por orcs, e onde as pessoas estão sendo tratadas como animais escravos? Chester realmente nos colocou em uma enrascada há 700 anos atrás, onde ficamos presos dentro daquele espelho, tendo apenas um a companhia do outro, mas o que isso tem demais?”
Fester e Lester retrucaram uníssono:
” – O que isso tem de mais, seu gordo irritante!?
E Fester continuou:
” – Perdi a infância e a maturidade de minha filha, não a vi se casar, ter filhos, não pude aquecer os pelos de meus pês na lareira de nosso bolsão e fumar um cachimbo de erva leão, contemplando a chuva lá fora. E você sabe por quê? Por que continuamos com o mesmo comportamento aventureiro, envelhecemos rapazes e a troco de quê?!”
” – Poder!”
Retrucou Lester, e Chester concordou.
“- Era isso que eu queria desde o principio, foi para dar uma vida de bonança para nossa família, para conhecer locais nunca antes vistos, ser reconhecido como um poderoso arqui-mago, foi para isso que nos arriscamos e agora seu velho halfling carrancudo, vem me dizer que também não queria isso?!”
” – Calem-se todos, seus idiotas mesquinhos, há alguma coisa errada aqui, ouço sons vindo de lá de fora…”
E uma sombra escura se abateu sobre Lester/Fester/Chester/Jester, todas as personalidades ficaram em silêncio. Maria e as demais mulheres estavam chocadas e com um verdadeiro semblante de medo com a cena que testemunharam. Há cerca de uma hora, elas acordaram com o som de diversas vozes dentro do abrigo e quando se acostumaram com a penumbra da pouca brasa que ainda aquecia o recinto, viram o halfling discutir com a parede, volta e meia olhando de soslaio para elas e voltando para uma discussão interna desesperada, gritos, tapas e perdigotos eram lançados em uma cena estranha, esquisita que fez com que as quatro mulheres se amontoassem no canto do cômodo mágico, elas não entendia, mas estavam testemunhando um ataque de insanidade de Lester Winchester, diagnosticado por Chester com o que ele chamou de “Distúrbio de Personalidade Esquizoide”. Ororo começou a chorar em desespero quando a conversa entre os diversos halflings silenciou e ele se virou para elas com o dedo indicador nos lábios claramente mandando elas ficaram em silêncio.
” – Shiiiiiiiiii iiiiii iiii iii ii i”
Aquele que havia assumido o corpo do halfling era um total desconhecido para as quatro personalidades de Lester/Fester/Chester/Jester. Houvera momentos de desespero e solidão dentro do espelho em que Lester não conseguia identificar quem estava no comando e isso perdurava por uma quantidade de tempo indefinida, Lester sentia um medo e uma melancolia residual e passava dias se recuperando de uma fadiga inexplicável, quem assumia era quem estava no comando agora: Dankester.
Dankester era a quinta quinta personalidade, uma identidade oculta dos outros, um halfling amargurado, infeliz, fruto dos momentos mais sombrios de quando Lester esteve preso no espelho, quando ele surge, não há interação com as demais personalidades, elas simplesmente recuam para um espaço de medo dentro do halfling. Dankester é um halfling rancoroso e vingativo, de interesses estranhos, e notória dificuldade em fazer amizades, é uma figura com constante instabilidade emocional, seu nervosismo e sua paranoia são os traços mais marcantes. Ele é zombeteiro, sonso, mas muito inteligente, aprecia poder mágico e é perigosamente ambicioso, das demais personalidades está é também a mais poderosa e errática.
Dankester após silenciar as mulheres que imediatamente obedeceram, ouviu sons de conversas entre goblinoides, a conversa era claramente entre orcs que aproximaram cautelosamente da construção que outrora não estava ali em suas rondas esporádicas.
O líder dos orcs bateu a porta solicitando abertura imediata, ele sabia que a fumaça da chaminé denunciava que haviam habitantes em seu interior e eles obviamente queriam saber quem eram.
Eis que inesperadamente em meio aos orcs surge um ser de quase 3m e feito estritamente de Rocha!
Dankester invocou Rocha, e a surpresa que o elemental invocado causou aos orcs, ceifou a vida de 3 deles no primeiros ataques, socos foram a resposta silenciosa de Dan frente aos inimigos.
Rocha era uma força sobre a qual os orcs não tinha a menor chance e os dois sobreviventes trataram rapidamente de bater em retirada, Rocha não os perseguiu, simplesmente cruzou os braços e ali em frente a porta permaneceu enquanto a magia permitiu.
Com a ameaça rechaçada, as mulheres agradeceram a Lester que rispidamente lhes falou que ele não era aquele que elas chamaram, seu nome era Dankester.
O grupo dormiu sem mais problemas perturbarem a conturbada noite, e o cheiro de um café da manhã improvisado pelas mulheres despertou o que havia de melhor em Lester e ao abrir os olhos ele não se lembrava de nada do que havia ocorrido…
Não tardou Arzen e Rathnar com o raiar do dia chegarem ao ponto de encontro e despreocupados pois tudo parecia ter corrido bem na ausência destes, e logo se preparem para unidos seguirem rumo ao interior de Pontyrel. Lester não soube explicar o que significava os 3 corpos duramente mortos a frente de seu Abrigo Seguro, e esse fato ficou sem uma resposta satisfatória, mas pouco importava, todos estavam bem.
Os aventureiros seguiram para Pontyrel.
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Um artigo sobre Varinhas, por Winchester L.
Velho, muito bom.
Não sei nem o que escrever, só sentir.
Personificar esse personagem, que na verdade é um conjunto de diversas personalidades totalmente diferentes tem sido muito prazeroso.
Sem duvida essa narrativa se mostrou fiel ao acontecido e demonstrou exatamente como foram as sensações de cada momento ocorrido.
Incrível como em uma sessão de apenas uma hora tenha rendido material para tanta coisa.
Curtindo muito. Vamos em frente porque tem muita coisa pra rolar ainda!
Puxa! Que personagem hein? kkkk Em um pacote vc agregou cinco?! Fantástico e desafiador! Observarei esse pj com entusiasmo e curiosidade, pois vcs (jogador e mestre) estão trazendo um conceito diferente de qualquer outro já visto. Desejo muito sucesso nessa caminhada. Parabéns!
Aweee…
Muito bom, continue assim.
Quero ver essa interpretação toda na ativa.
Personagem muito interessante.
Alan está sabendo interpretar muito bem.
Rathnar vê Lester Winchester como um importante aliado.
Porém, é excêntrico e cheio de complicações psicológicas.
Tomara que isso não atrapalhe sua cruzada para erradicar o mal de Celadon e Demesnes.