Esse é o resumo da partida ocorrida no dia 25.11.18 em voo solo com Marcelo Guimarães, interprete do prodigioso mago adivinho Aescriel Saliezur. Esta é a história que ocorreu cerca de 4 dias antes da chegada dos Heróis da Ordem à Keristen. O mago deve mostrar que os erros cometidos por sua contraparte vampiro, não foram seus, porém o elfo dourado deve convencer os mais poderosos magos da Ordem Arcana de Greyhawk, os Cinco.
Este artigo é uma história original escrita por Bruno de Brito e revisada por Bruno Simões, fiel companheiro das pelejas literárias.
Um Quarto e um Tempo
07 de Preparos de 597 CY
escriel surgiu ao lado do Falwick, Conde de Möen diante de uma porta de madeira em uma parede de pedras bem cortadas e gastas. O Conde abriu a porta e revelou a Aescriel uma cozinha conjugada com adega e uma mesa para refeições. No aposento também havia uma escada que dava para um andar superior. O espaço era amplo e octogonal, feito da mesma pedra das paredes. “- Você deve permanecer aqui Aescriel, aguardando o julgamento pelos seus atos.” O elfo dourado observou o homem que respondia pela 4ª posição na ordem dos magos a qual Aescriel fazia parte.
A porta fechou atrás de, Aescriel e ele notou que o ambiente permaneceu iluminado. Havia ali uma luz não natural fria e pálida como o fim da tarde. Percorrendo o cômodo Aescriel encontrou carne seca, centeio, cereais, um barril com suco de uva, e outros barris com vinho, havia cevada também e frutas cristalizadas.
O elfo dourado subiu as escadas para averiguar o aposento superior e lá, iluminado pela mesma luz mágica, havia uma grande cama, com travesseiros de penas, uma escrivaninha e uma grande tina de cobre para o asseio. Era um aposento sobretudo confortável.
Tempo Ocioso
Aescriel ponderou sobre quanto tempo ficaria ali. Havia chegado um pouco depois do meio dia e as horas da tarde atravessaram morosamente. Com pergaminhos e livros que precisavam ser lidos, ele se pôs a trabalhá-los. Múltiplos pergaminhos haviam sidos comprados na Academia Tolariana, além disso o meio-elfo Riore havia lhes entregue dois livros de magia, também conhecidos como grimoires, contendo uma gama de feitiços de primeiro círculo em um, e de segundo círculo noutro.
Quando começou a estudar magias e migrá-las para o seu livro de feitiços as horas começaram a passar rápidos. O elfo de cabelos prateados era um entusiasta em magias e aquilo o encantava desde muito novo. A noite chegou. Ele desceu para o aposento inferior e começou carne seca com queijo duro e vinho. Retornando para os estudos logo depois.
Aescriel sabia que a noite avançava. Assim como os anões possuíam a capacidade nata de saber a que altura de uma superfície estava, os elfos conseguiam precisar que horário do dia era, manhã, meio dia, noite e madrugada, e como uma ampulheta natural eles identificavam a passagem do tempo.
A Espera Indefinida
08 de Preparos de 597CY
Aescriel despertou rodeado pelos seus livros, por hábito havia acendido uma vela que havia queimado até a base e se deu conta que havia adormecido na cadeira durante os estudos.
Se ergueu, esticou os braços, girou seu tronco testando suas articulações e deu um grande bocejo. A manhã parecia-lhe fresca lá fora, ainda que ali não houvesse janelas que lhe permitisse contemplar o lugar onde estava. Uma sensação de melancolia lhe invadiu e ele observou aquele cômodo na esperança de ver algo novo. Mas tudo estava no mesmo lugar, mexido e revirado apenas pelas suas ações.
O dia transcorreu silencioso, e Aescriel aproveitou para dar continuidade a seus estudos, adicionando novos encantos ao seu repertório.
Sondagem
A noite chegou e enquanto bebericava um café, Aescriel decidiu sondar como estavam os seus companheiros. Como um exímio especialista na escola de Adivinhação, o elfo dourado sabia como executar aquele feitiço com maestria.
E tão logo decidiu em quem lançaria a magia, ele preparou os componentes materiais e ritos exigidos pela magia. Quando concluiu todos os escritos mágicos e palavras especiais, lançou a magia sobre sua companheira – Sandy Benelovoice. A magia era capaz de permitir a sondagem de qualquer conhecido pelo conjurador, onde quer que estivesse, mas havia uma pequena chance do alvo “resistir” aos efeitos da magia e ela não funcionar.
E foi exatamente o que ocorreu. A paladina mesmo sem saber que estava sendo sondada “onde quer que estivesse”, conseguiu bloquear a sondagem de Aescriel, frustrando o resultado da magia. O elfo dourado logo percebeu que havia cometido uma falha. Sandy, como paladina possuía uma elevada força de vontade, oriunda de sua natureza sagrada, e isso dava-lhe grandes chances de evitar qualquer efeito mágico nocivo ou não, conjurado sobre ela. Ele concluiu que não poderia fazer sobre Gatts ou Kalin também, não por suas naturezas, mas por serem conjuradores, e assim como o próprio Aescriel, terem um treinamento especial para resistir a ações que confronte às suas vontades.
Ele decidiu então que amanhã, se fosse possível, o faria sobre Eophain, dentre os seus aliados, era o mais vulnerável. Aescriel esperava acompanhar o que o seus companheiros estavam fazendo para contornar a situação de Alvearnelle. Mal sabia o elfo, que o trio, composto por Sandy, Gatts e Eophain, estavam longe da cidade de Verbobonc, engajados na missão de encontrar Pyrus e o príncipe.
O Quinto
08 de Preparos de 597CY
Ao final do dia Aescriel recebeu uma visita incomum: um dos membros da ordem viera ao seu encontro. O elfo o conhecia, tratava-se de Slayn, o 5º. O mago era jovem para o posto ocupado. Aescriel sabia que dezenas de magos compunham a Ordem Arcana de Greyhawk, mas a gestão e liderança era regida pelos Cinco. Todos eles eram responsáveis por votar questões da ordem, sendo que o Primeiro era quem detinha o voto do desempate, Aescriel conhecia muito pouco sobre eles, mas seus postos eram amplamente conhecidos dentro da hierarquia da ordem.
“- Vim vê-lo, e saber se precisa ou falta-lhe algo, mago Aescriel”.
“- Estou bem, e aguardo pelo momento que possa explicar os motivos que me trouxeram até aqui”.
“- Esse momento chegará. Até lá, caso necessite de algo, apenas fale o meu nome”.
E sem esperar por qualquer retórica, ele saiu pela porta e ela se fechou. Aescriel o observou sair, e pensou quanto tempo mais deveria permanecer ali. Passado o momento de reflexão, ele seguiu com sua rotina de estudos.
Aprendizado Arcano
09 de Preparos de 597CY
Aescriel despertou no segundo dia, estranhou a princípio onde estava e logo sua mente o recordou da situação em que se encontrava. E como no dia anterior, iniciou sua rotina de afazeres. Mas antes do meio dia, preparou novamente todos os componentes para sondar magicamente Eophain. Esperava ter sucesso, o que não foi possível no dia anterior. Ele apostava na baixa resistência típica de guerreiros para com magia.
Aescriel recordou do dia da grande reunião dos heróis, na qual viu Gatts pedir a cada membro do grupo, um pedaço de cabelo ou tecido. À época, Aescriel achou algo incomum, mas sabia para que finalidade era aquilo, e entendia agora como era importante fazê-lo no futuro também.
Quando a magia foi concluída e o olho mágico tentou invadir a visão de Eophain, permitindo a Aescriel que ele pudesse ver e ouvir o que o kensai percebia, a magia falhou. Seja por sorte, ou por uma vontade de ferro, Eophain, resistiu ao efeito da magia tal como Sandy resistira. Aescriel bufou frustrado. Não havia conseguido descobrir onde seus companheiros estavam, se estavam bem ou se em perigo.
A Câmara dos Ossos
Passaram algumas horas após o meio dia, e quase próximo do fim da tarde, a porta do aposento abriu. Aescriel bebia vinho em uma caneca, enquanto folheava o livro de magias de Tamoreus, avaliando os efeitos de uma magia Área Escorregadia, que ele conhecia bem, mas as escritas de como Tamoreus havia registrado a magia lhe chamaram a atenção.
Diante dele, novamente surgiu Slayn. E este disse: “- Venha Aescriel, iremos julgar o teu caso”. Slayn pôde ler na expressão de Aescriel, algo como “finalmente”, e exibiu um discreto sorriso.
Os dois caminharam por um longo corredor, e Aescriel pôde ver através das seteiras um belo pomar e sobre uma vasta colina, uma incontável quantidade de casas e construções. No topo da colina um castelo repousava. Ele estava em Greyhawk, a Cidade Livre, a maior e mais rica cidade do mundo conhecido.
A caminhada terminou em uma porta dupla que quando aberta revelou, mostrou escadas descendo. Após um tempo, Slayn e Aescriel chegaram até uma câmara iluminada por dois braseiros. Aescriel se espantou com a quantidade de ossadas espalhadas pelo chão, e um arrepio eriçou os pelos dos braços e da nuca. Aqueles ossos não eram humanoides, isso ele poderia ter certeza.
O Julgamento sob Observação
Á frente, havia uma única passagem no alto, acessível por uma escadaria. Slayn orientou o local onde Aescriel deveria permanecer e notou seu olhar assustado, mas nada disse. O próprio Quinto ocupou um local na câmara e Aescriel viu quando Falwick saiu da passagem do alto descendo as escadas e se posicionando no local. Da passagem logo atrás do Conde de Möen, saiu um halfling vestido de preto e de cor pálida, Aescriel reconheceu de imediato, aquele era Evard, o famoso mago criador da magia Tentáculos Negros. Evard desceu as escadas e se posicionou. O último a sair permaneceu no topo da escada. Um homem de longa barba e roupão bastante gasto, segurando um grosso tomo, aquele era Vimm Vivaldi, o Primeiro.
Aescriel podia contar nos dedos a quantidade das vezes que viu o líder da Ordem. O mago adivinho não sabia o que esperar, mas iria apresentar todos os seus argumentos. Aescriel foi uma vítima do vampiro, tanto quanto a Ordem sofrera.
Uma vez posicionados, foi o Conde de Möen que abriu a sessão. “- Aescriel, você sabe os motivos e razões pelas quais está aqui hoje. Não você, mas o vampiro que você já foi, é responsável pelo maior dano que a Ordem já sofreu nos últimos séculos. Se apropriando da energia mágica da Pedra Arcana (e ele aponta para o alto), você sorveu mais energia do que a ela foi possível, tornando uma sombra pálida do que fora outrora.”
A Observação da Ordem
“- Durante esses dois dias estivemos observando os passos de seus companheiros, ouvindo e vendo tudo que eles faziam, e diziam a seu respeito. Ouvimos e sondamos outros também com os quais você teve contato, para que pudéssemos reconstruir a história até esse ponto, inclusive sua “amizade” com o necromante Lázarus. E ainda que nossa constatação seja evidente quanto a sua inocência como elfo, você sabia e tinha plena faculdade mental sobre as consequências que seus atos como vampiro trariam para a ordem, e neste ponto tivemos pleno consenso. O que você pode dizer em sua defesa?”
Aescriel observou todos os líderes da ordem e após respirar fundo, olhou para o teto da câmara e notou a pedra da ordem. Ainda que seu brilho estivesse opaco, sua beleza era hipnótica.
Após ponderar, disse:
“- Vocês sabem tudo sobre mim, meus companheiros e sobre as pessoas com as quais convivi como elfo e também como vampiro. Ainda que os meios não justifiquem os fins, eu queria minha purificação e entregar o príncipe aos meus companheiros, retirando-o do controle de Anacrael. Ainda me pergunto, como tudo aconteceu e o milagre que permitiu eu deixar de ter a natureza que possuía, mas não tenho muito a alegar além da minha inocência. Sei que causei muitos danos a ordem e principalmente a Pedra que dá significado a nossa existência enquanto membro. E por isso, estou disposto a tentar reparar os danos causados.”
Compensações Inócuas
Aescriel retirou um bordão, que estava preso as suas costas e o depositou no chão.
“- Este é o Cajado do Mago, sei que vocês, sabem as propriedades mágicas deste nobre artefato e gostaria de poder oferecê-lo como símbolo de reparação dos danos que causei como vampiro.”
O halfling de preto, que até então estava apenas observando olhou o cajado e como uma clara irritação disse:
“- Incontestável é sua culpa e você nos poupa tempo em determinar o melhor veredito Aescriel. O que você fez perturbou o equilíbrio da Gema da Ordem de forma praticamente irreversível, e isso foi grave. Entretanto podes reverter esse cenário. Você deve escolher sua pena Mago Aescriel:”
“Se tornar um Querante. E assim se tornar um ser impossibilitado de utilizar magia de qualquer natureza ou recuperar o poder da Gema da Ordem.”
“- Se desejar saber como recuperar o poder da gema, será Slayn que dirá, mas antes deve escolher a sua pena.”
Aescriel ouviu o halfling com atenção e sua escolha era óbvia, ele iria atrás da recuperação da gema da ordem, como dito pelo halfling. E uma vez manifestada a sua escolha, Slayn disse:
“- Aescriel a Gema hoje se encontra restrita de suas funções e capacidades, o poder que você sorveu, baixou muito o seu o nível, a gema é apenas um belo artefato brilhante, não serve de nada. Consegue me compreender? Somente um feito compensatório pode recuperar o poder da Gema da ordem e na verdade coloca-la em um novo patamar, acima dos limites que conhecemos.”
A Missão
” – Aescriel, você deve nos trazer a Bixbite (Na língua anã), ou Berilo Vermelho (tradução para comum), ou A Esmeralda Escarlate (nome comercial). Essa gema, mais rara que diamante, somente existe em lendas, ainda que vestígios de sua presença tenham sido registrados por marinheiros da pequena cidade de Keristen, uma pequena vila a leste de Dyvers, cerca de 3 dias a cavalo.”
Devido ao sigilo desta missão, você poderá contar com a ajuda de apenas 3 de seus companheiros, podendo projetar sua imagem daqui e caso eles se disponham em te ajudar, Falwick irá busca-los. Você irá decidir – Aescriel. Além disso, um especialista em gemas lhe encontrará em Keristen. Esse contato será o responsável por atestar os seus feitos e nos reportar magicamente qualquer desvio de conduta.
Slayn entrega a Aescriel uma pequena caixa, que uma vez aberta ele nota dentro uma joia élfica. Aescriel observa a joia enquanto o mago continua. “- Deves colocar esse colar, ele será absorvido pela sua pele e caso ativemos o seu poder você se tornará um nulo, e isso ocorrerá caso você fracasse nesta missão.
O Um
A última figura nas sombras fecha o livro e todos se calam. Aquele era Vimm Vivald, conhecido como o Rei dos Magos, um apelido mais que um título, mas respeitado por inúmeros magos. Aescriel sabia que ele era o suelita mais proeminente de Flanaess e mais famoso modelador de magia existente, fundador da escola do Vazio, ou também conhecida como Vácuo. Até onde se tem registros, sabe-se que 3 arcanos (incluindo o próprio Vimm), são os únicos capazes de dominar essa técnica. O que ela produz, os efeitos, são um absoluto mistério, mas é sabido que mexe com as energias cósmicas que formam a matéria.
Dentre seus reconhecimentos, Aescriel sabe que ele é fundador da ordem e a preside há cerca de 790 anos. Sua idade verdadeira é um mistério, muitas lendas falam que ele é sobrevivente do Império Suel, que existiu a cerca de 1.000 anos atrás, mais especificamente por volta dos de -485 CY, ele é considerado uma lenda viva. Entre as suas criações mais notáveis estão a Pedra da Ordem e a Magia Parar o Tempo. E a única coisa que ele diz é:
“- Suas escolhas definem o que você é e será. Muito pouco se deve ao aleatório ou predestinação. Escolhas seus caminhos com sabedoria, e resgate sua própria identidade como membro desta ordem. Esse julgamento está encerrado. Falwick busque os aliados do elfo para essa missão”.
Ao fim do julgamento, algo passou despercebido por Aescriel. A ordem era regida por cinco membros, mas ali presentes em seu julgamento havia apenas quatro…
Aliados
Falwick e Aescriel caminharam até o aposento original e uma vez lá o mago se dirigiu para Aescriel e disse:
“- E então Aescriel, irei projetar a sua imagem, e posso fazê-lo simultaneamente. Quem de seus companheiros você irá querer contatar?”
“- Projete minha imagem para Eophain, Kalin e Rathnar”.
Continua…