Os membros da tripulação vigente passam por momentos difíceis e mortais durante as missões. Algumas vezes esses traumas despertam uma lembrança, memórias ou até mesmo visões sobre o passado do indivíduo.
Os Neurolinks de Memória Pós-Traumática (NMPT) são um recurso narrativo que visa encaixar elementos da história com os personagens, trazendo à tona conflitos internos e traumas passados para dar profundidade na construção da persona individual e sua interação com o grupo.
Referência
Ao voltar da sua empreitada na Acreon, enquanto desembarcavam nas docas da estação Absalom, Kuronik é assombrado por um antigo familiar que aparece em sua frente para cobrar uma dívida de sangue e ódio.
O irmão perdido
Kuronik se arma e olha para a direção do tiro. Sua mente se perde naquilo que seus olhos veem, um Vesk. Uma sombra parece tomar conta do seu corpo, seus músculos não reagem, sua visão fica embaçada e suas pernas tremem. Kuronik pisca e quando retorna da visão turva, não está mais na doca… ou sequer na estação Absalom.
Você sente como se uma inocência juvenil tomasse conta do seu corpo, uma alegria e descontração que há tempos não sentia. Você se sente uma criança. Uma criança em Vesk Prime, seu planeta natal, em meio a relva da grama da casa de seu pai. Você sente a grama pontiaguda tentando atravessar, sem êxito, o seu couro e isso te traz um relaxamento que nem você se recordava de ser tão bom.
Mas tudo isso é quebrado quando você ouve um urro. Seu pai grita por seu irmão, “Moga”. Nesse momento você se levanta e consegue observar a antiga casa de seu pai, o local rustico e sujo onde você cresceu. Seu pai está puxando seu irmão pelos pês, enquanto Moga se contorce pelo chão para tentar desvencilhar o tornozelo da empunhadura do forte Vesk. “ Lutar só irá deixar tudo mais difícil… Resistir é inútil! ” – declama o grande Vesk, visivelmente fora de si, completamente suado, trêmulo e com o olhar perdido.
Você observa sem reação enquanto seu irmão pede ajuda. Grita, esperneia e xinga tentando chamar por alguém, mas só tem você ali perto. Você sabe qual será a punição de seu pai… Você sabe que se você se intrometer, você também irá ser espancado e torturado.
Moga é puxado pelas escadas abaixo até o porão, onde seu pai trata, estripa e limpa os animais que caça. Aquele lugar cheira a sangue e suor. Você ouve os ossos da cabeça de seu irmão baterem nos degraus da escada, você sabe qual a punição de seu pai, você sabe que nada pode fazer para impedir.
Minutos se passam e finalmente os gritos de sofrimento cessam. Seu pai sai do porão, parece relaxado, com aparência tranquila e semblante calmo. Suas mãos meladas de sangue e ele olha para você como se nada de errado tivesse ocorrido: “Nik, irei preparar o jantar… ajude seu irmão…” – aquelas palavras saem de um pai tranquilo, que te pede algo como “arrumar o quarto” ou “ajudar seu irmão com atividade de casa”.
Você desce o porão escuro e úmido da casa, sente cheiro de mofo, decomposição e suor. Seu irmão está de joelhos, com a mão no rosto. Você vê muito sangue por entre os dedos dele e quando vai ajudar, percebe o que ocorreu. “ Você é um covarde Kuronik… Você é igualzinho a nossa mãe… Ainda me vingarei de todos. Covarde! ” – Então você abaixa a cabeça e quando a ergue percebe que se passaram vários anos e Moga está em sua frente, segurando um rifle em meio a inocentes.