Uma das histórias mais complexas e dramáticas que já foi escrita e gravada em papiro antigo. Essa é a história que remonta séculos de uma civilização iluminada dos Vales. Tão ilustres e soberanos que o sol gravou em suas peles o brilho contínuo da luz da aurora, os elfos dourados.
“Ele era jovem, inteligente, versátil, desinteressado e livre, mas o dever, o amarrava pelo sangue. Harash tinha um grande dever”…
Esse é um texto original, escrito por Marcelo Guimarães, com contribuições pertinentes do Mestre da Masmorra – Diogo Coelho. Narrador do mundo de Forgotten Realms.
Revisão, Edição e Publicação: Bruno de Brito
Vamos a História…
A ORIGEM
Desde os tempos imemoriais, uma linhagem de elfos dourados vem transmitindo a arte da espada, da luta e da bravura na comunidade élfica de Cormanthor. Guardiões guerreiros de seu povo, a Casa Vanriel é sinônimo de lealdade a palavra de Corellon, além de sua entrega à causa que guiam suas espadas – a defesa do povo e das tradições élficas.
A singular Família de elfos dourados (não Ordem, pois seus membros são advindos pela da hereditariedade), tem seus feitos cantados em versos de belas canções e sua bravura é escrita em diversos poemas que atravessam gerações. Nessas memórias centenárias surgem citações e indicações de que estes poderosos e corajosos guerreiros foram abençoados pelo próprio Deus Elfo, que entregou uma missão a esta linhagem: Guiar a lâmina élfica contra o mal e seus inimigos. Daí a incomum associação de elfos dourados com espada (e não a magia) pois sabe-se também que eles (elfos dourados) foram os primeiros criados por Corellon.
Orcs, dragões e Drows, principalmente, já tiveram o desgosto de enfrentar os membros desta Casa, eventualmente encontrando seu fim, O que lhes apavora é a poderosa combinação de bravura, inteligência em combate, maestria com a espada e a posse da Lâmina da Lua por seus guerreiros. Uma dessas espadas ancestrais élficas faz parte da linhagem Vanriel, que lhe conferem poder e aderência a justiça, bondade e devoção a Corellon.
Dois desses elfos guerreiros são lembrados na história: Kordash Vanriel e Emirash Vanriel, o primeiro pai do segundo, ambos tiveram que lidar com desastres de proporções épicas que sozinhos não poderiam resolver.
714 C.V (Ano da Destruição)
Kordash Vanriel foi considerado o maior espadachim da sua época, sendo ele um dos 200 elfos sobrevivente da Guerra das Lágrimas, mesmo muito novo a relatos que devido a sua lendária habilidade com a espada que os 200 elfos conseguiram sobreviver, Kordash viu a queda de Myth Drannor e teve o árduo dever de proteger e liderar, os poucos remanescentes do seu povo.
1.185 C.V
Com a morte de seu pai, Emirash Vanriel tornou-se protetor dos elfos, o mesmo testemunhou o lento porem inegável declínio élfico em Cormanthor. Em 1344 C.V começa o Exílio dos elfos de Cormanthor tendo o seu auge 1355C.V, Emirash não concorda com a decisão do alto conselho élfico de partir para Encontro Eterno. Emirash passar a ser o líder dos elfos remanescentes em Cormanthor.
Campanhas da Corte
Anos atrás, antes do Exílio dos elfos, Cormanthor era assolada constantemente por ataques de todos inimigos – Drows impiedosos e ávidos por relíquias da corte élfica, orcs em vinganças passadas, monstros diversos que apareceram pela floresta e até humanos aproveitadores. Emirash, o Bravo, foi o protetor dos elfos nestes anos tortuosos, um grande nome que ajudou os elfos, salvaguardando seu povo e suas relíquias.
Estabelecendo-se em Árvores Enroladas, ele e um grupo iniciaram uma campanha para restaurar relíquias, documentos e pessoas perdidas no “Norte”, ou seja, na região da Corte Élfica, daí o nome Campanhas da Corte.
Estas campanhas foram realizadas longe das vistas da maioria do povo élfico, estabelecida em Árvores Enroladas e outras cidades dos Vales. Seu grupo retornou com uma grande quantidade de tesouros e relíquias, além de ajudar muitos do seu povo. Vingaram os que morreram e evitaram que muitos drows se apossassem de itens e artefatos élficos.
Desta campanha, porém, Emirash retornou com algo mais especial. Um bebê elfo dourado, seu segundo filho com a sua esposa a Alta Maga Lianna.
Lianna faleceu 20 anos depois do nascimento de Harash, pouco se sabe da morte da esposa Emirash, a única história contada é que Lianna foi morta em uma luta contra o Dragão Thraxata, o primeiro do seu nome.
1038 C.V (Ano da Fonte Dispersa)
Desta forma, houve festa entre os elfos. Aquele bebê era sinônimo de esperança, pois mais um macho da Casa Vanriel viria a este mundo e o mesmo seria treinado pelo melhor guerreiro que conheciam. Seu nome foi dado em homenagem a seu bisavô, Harash, que dizem as lendas havia sido o maior guerreiro elfo não divino que já caminhou por Faerun. Festa para todos, menos uma, Latinea, que pela primeira vez sentiu ciúmes de seu recém conhecido irmão. Sentimento normal para irmão mais velhos, mas isso era o início de uma história com contornos inesperados e que se refletem até o presente.
Uma promessa de Herói
Harash teve uma infância abastada e livre. O período de maiores perigos havia passado. Sempre foi muito curioso, disperso e fascinado pelos “porquês”, pelo conhecimento. Sua inteligência era notável, aprendendo a ler e decifrar enigmas de aprendizagem bem precocemente. E isso lhe deu uma certa solidão.
O treinamento de seu pai foi muito rígido, igualmente como ele recebeu de Kordash. A disciplina, o respeito e a devoção a Corellon era constante, além de lembrar sempre que o dever de Harash era para com os elfos e para isso ele seria um dia portador da Lâmina da Lua. O treinamento com artes da luta começou praticamente quando o pequeno aprendeu a andar. Mesmo tendo bom porte físico desde novo e sendo bom e atividades físicas, Harash gostava mesmo era de ler, aprender e correr pela livre natureza. Aprender como os animais viviam, porque um veneno matava, porque uma pele de pantera deslocadora era “borrada” – e daí, naturalmente, veio bem cedo o interesse pela magia. Uma amizade verdadeira foi-se criando desde muito jovem, com Sebihan Darghoim, guardião do conhecimento e da magia em Árvores Enroladas. No escritório de Sebihan, Harash passava horas e dias escutando histórias ou lendo contos élficos sobre magia, criaturas, o mundo e até sobre o seu pai e linhagem. Até subitamente se entediar e sair para fazer outra coisa (ou ser chamado por seu pai para o seu “treinamento”).
Harash, contudo, não foi o que Emirash era para Kordash. Enquanto Emirash tinha total atenção e admiração por seu treinamento e pelo próprio pai com uma cumplicidade latente, Harash era disperso e desinteressado. Reclamava que não queria estar fazendo aquilo, que preferiria estar estudando “magia” e dizia que a magia era obviamente mais poderosa que qualquer indivíduo, o que aborrecia e entristecia Emirash.
Harash desde logo cedo acreditou no poder da magia, que a mesma deveria ser aproveitada, mesmo que para isso aprendesse menos a ser espadachim. A Lâmina da Lua, que sempre Emirash prometia a Harash, era, contudo, objeto de fascínio pelo jovem elfo. Uma espada mágica, lendária e inteligente! Aquela espada era para Harash o sinônimo de perfeição, pois dava poder mágico a uma lâmina com consciência própria. Por vezes Harash achou ter visto seu pai conversar com a espada, e ele sabia que aquilo não era uma mera afeição.
Os gênios de pai e filho eram evidentemente diferentes, muitos conflitos ocorreram. Por vezes Harash queria saber sobre a morte de sua mãe, até para atingir, na raiva, o pai – as respostas eram vagas e que ela não pertencia mais a este mundo. Isso não satisfazia a mente inquieta de Harash.
Enquanto isso, uma hábil elfa, sua irmã Latinea era a aprendiz de espadachim perfeita para Emirash. Apesar de ser a primogênita, não tinha direito de herdar a Lâmina da Lua pela natureza patriarcal da Casa; era preterida no treinamento em favor de Harash; foi obrigada a aprender um estilo de combate que não fosse o melhor para utilizar Lâmina; e mesmo assim era devota ao treinamento e a seu pai. Honrada, interessada, pontual, obediente e exímia aprendiz espadachim, Latinea se destacava como promessa de guerreira para os elfos e como o costume élfico, Latinea como a irmã do futuro líder dos elfos teria quer ser a guardiã dele. Ela amava seu irmão, mas os ciúmes lhe consumiam. Não entendia (e não entende até hoje) porque o favorecimento a Harash, sendo que ele não obedecia às leis e costumes élficos o oposto dela.
Harash também não teve uma juventude muito fácil. Os tempos não eram áureos para abastados elfos dourados. Seus colegas comuns, ou elfos da lua, lhe perseguiam. Talvez por inveja de Harash ser rico, dito escolhido, talvez por sua mentalidade mais avançada, quando ele conseguia entender e saber das coisas muito antes de seus pares, com inteligência superior; talvez até mesmo por seu baixo carisma pessoal. O fato é que Harash isolou-se pois não tinha com quem compartilhar sua visão de mundo. Para defender-se do assédio (bullying) ele valorizava com o que tinha, se dizia elfo superior e de linhagem, e desvalorizava seus detratores, dizendo-lhes que eram filhos de orcs. E se defendia também se isolando com sua leitura e sua visão de mundo. Por muito tempo Harash detestava o seu lugar e daí ele veio a possuir uma personalidade um tanto egoísta.
Ele tinha um amigo nessa época, Lilion Beriot, o único que Harash possuía bons relacionamentos, seu colega frequente na oficina de Sebihan. Lilion também era treinado por Emirash, que não treinava somente Harash e Latinea, mas era responsável também pelo treinamento militar da comunidade. Amizade de verdade, porém, Harash só sentia por Sebihan.
Um dia fatídico foi quando Harash, já adolescente, em mais uma discussão com seu pai lhe afirmou categoricamente que iria estudar magia e lhe demonstrou um truque que havia aprendido – com palavras e um estalo nos dedos ele fez Luz e afirmou que nunca mais precisaria de uma tocha. Enfurecido, seu pai não só o proibiu de manifestar aquilo novamente, pois aqueles incipientes estudos de magia atrapalhariam o treinamento (na visão de Emirash) como o proibiu de falar com Sebihan. Igualmente proibiu Sebihan de ensinar qualquer coisa para Harash, mesmo com os apelos do mago para deixar ensinar magia naquele que era uma promessa de poderoso mago (na visão de Sebihan).
Autoexílio e liberdade
A esta altura Harash já tinha 85 anos e estava prestes passar pelo ritual de passagem, quando partiriam (juntamente com Latinea e o grupo de treinados por Emirash) a uma campanha com perigos reais, onde deveriam demonstrar suas habilidades e mostrar que eram adultos, merecedores de seres considerados. É um ritual tradicional, quando os jovens guerreiros se caracterizam e vão mostrar para os pais que servem suas espadas e arcos a Corellon e a comunidade.
Sua cabeça, contudo, não estava nada bem. Harash estava confuso e infeliz com o seu destino. Porque ele teria que ser um guerreiro que nunca almejou? Porque teria que ser líder de uma cidade que muitos detestavam reciprocamente? Porque iria se sacrificar para nunca aprender o que sempre quis, que é a magia? Porquês e porquês diversos consumiam a mente do jovem elfo dourado. Ele, muito imaturo para compreender a dureza da vida, não aceitava a pressão para ser o Herói dos elfos (apesar de desejar a Lâmina), não queria ser o que lhe diziam para ser. Não gostava daquela província e queria conhecer o mundo além dos contos e histórias, além da floresta e dos vales.
Prestes a partir, quando no discurso de Emirash e Göthel Burlion, sacerdote máximo de Corellon em Árvores Enroladas, ele interrompeu e, como num transe, soltou tudo que estava preso em sua garganta por muito tempo. Afirmou que não desejava o seu dito destino, afirmou detestar muitos ali, disse que o estudo da magia não pode ser podado a um elfo que deseja compreende-la, perguntou (questionou) onde estava Corellon, que, apesar de noites e dias rezando suas preces, ele não lhe indicava um caminho.
Com um verdadeiro e insólito espetáculo, Harash disse que iria partir dali, que iria para o seu lugar, para a Corte Élfica onde iria encontrar sua mãe. E assim ele o fez. Do jeito que estava, foi-se. Os que quiseram conte-lo foram repreendidos por seu pai. Emirash parecia saber o que estava fazendo. Talvez deixara-o partir para amadurecer. Talvez acreditava que ele voltaria logo. Talvez não tinha ideia do que estava acontecendo, mas todos obedeceram seus comandos.
Assim Harash partiu para o norte. Tinha algumas provisões e estava armado. No caminho logo encontrou dificuldades. Animais selvagens, criaturas de toda sorte, fome e frio; assim ele caminhou com habilidade e sorte para não morrer. Por cerca de um mês o elfo foi em direção ao que achava ser a corte élfica. Não tinha vontade nenhuma de voltar, mesmo que tivesse que morrer, iria caminhar a frente. Suas habilidades como guerreiro e seus conhecimentos lhe valeram de grande utilidade, mas era uma missão quase suicida sair sozinho pela floresta. Não tão sozinho, talvez, pois por vezes ele achava que estava acompanhado. Seriam fadas? Druidas? Seu pai? Corellon? Não sabe, mas a morte lhe pareceu muito perto algumas vezes e mesmo assim não lhe tomou.
Assim, um dia, faminto e fraco, a caminho do que ele achava ser a corte élfica, Harash encontrou alguns homens. Foi cercado e, moribundo, foi levado dali. Eram lenhadores do Vale do Arco.
Descobertas
Harash, sem forças e condições, foi resgatado por coletores e lenhadores do Vale do Arco que por pura compaixão, não lhe deixaram na floresta para morrer. Ele havia desviado do seu caminho e já estava perdido. Trazido para os arredores da metrópole de Selgaunt na Sembia, acabou sendo cuidado por Cibelle, uma senhora de seus 45 anos que teve compaixão com o elfo e o alimentou e cuidou de seus ferimentos.
Insólito e pitoresco para ambos, um contato entre dois mundos muito diferentes, ocorreu uma ligação forte entre os dois. Ela estava ali comprando tintas e insumos para tingir os tapetes que produzia e o convidou para ir com ela para o outro lado da baía, onde morava, uma pequena vila entre Calaunt e Tantras.
Harash foi, conduzido pela curiosidade de conhecer lugares novos e por algo que o atraia em Cibelle. Ela era mais velha, quase como uma mãe que cuidava dele. Mas lhe atraia de outra forma também. Ela era uma mulher solitária e sem família, já havia peregrinado muito, e se sentiu atraída pela força e jovialidade de Harash. Assim surgiu um insólito e improvável relacionamento.
Uma mulher órfã e que já teve de se prostituir para sobreviver, uma renegada da sociedade que teve que aprender um ofício numa terra distante (costura e tecelagem) com um auto exilado elfo. Ele lhe dava assistência em proteção nos negócios, ela lhe cuidava, alimentava e lhe dava amor tanto materno e carnal, qual ele nunca tivera antes. Assim viveram como um casal cerca de 15 anos. A aflição que sentia em Cormanthror havia passado e o tempo ali parecia não passar.
Esse período Harash amadureceu, se acalmou, conheceu lugares diferentes de que estava costumado, viu conviveu com a malícia dos homens e, por fim, sentiu saudade de casa. Seu aprendizado com espada e magia ficou praticamente estagnado.
Como o tempo é diferente para elfos e humanos, Harash viu sua companheira envelhecer e adoecer. A vida foi muito dura com Cibelle e Harash esteve com ela até o fim. A esta altura Harash sentia saudades de casa, mas tinha mais vontade de conhecer parte do mundo. Após a morte de Cibelle, Harash partiu de novo, foi para um lugar que ela havia falado que haviam muitas pessoas e oportunidades, a Sembia.
Um grupo de pretensos heróis
Antes partir para a Sembia, Harash conhece em Procampur uma dupla de aventureiros, Geil Limber e Sonia Winter, um sacerdote de Mystra e uma especialista em armadilhas, obter informações e furtividades. Circunstancialmente formaram um grupo para achar um bastão que a igreja de Geil almejava, Harash e Sonia precisavam de dinheiro. Nesta aventura encontraram Galamond Rogers, até então humano e mago transmutador. Todos firmaram amizade e companheirismo, fazendo muitas aventuras juntos.
Geil e Sonia acabaram por ter uma relação próxima. Jovens, acabaram sendo namorados aventureiros. Galamond se tornou efetivamente o primeiro mentor de magias de Harash, ensinando-lhe as artes da transmutação.
Esse grupo enfrentou muitos desafios, foram pela Floresta Cinza, Mar das Estrelas Cadentes, Ilhas dos Piratas, Turmish, Costa do Dragão e Sembia. Por muitas vezes Harash os convidou para ir a Cormanthor, onde ele iria apresentar sua família, algo que ele estava caminhando a fazer, mas sempre encontrou resistência de Galamond. Nesse meio tempo foi descoberto pelo grupo que Galamond não era humano; em uma aventura o mago caiu quase morto, sendo salvo pelo clérigo. Porém quando caiu entre a vida e a morte, Galamond assumiu uma forma diferente, sendo a forma aparente de um drow. Finda aventura e vitória nos resultados, Galamond informou que realmente não era humano, que possuirá um anel da transmutação permanente para dissimular sua real natureza.
Ele era um meio-drow chamado Maeluk Liege e vivera em Cormanthor no passado. Mais precisamente em um subterrâneo que ligava a floresta a um portal de ligação para a cidade de Menzoberranzan. Era escravo por sua natureza impura e tinha conseguido fugir. Geil não sentia maldade nem mentira nos meio-drow. Harash e Sonia tinha compaixão por sua natureza excluída. Ambos já sentiram algo semelhante.
Assim o grupo continuou suas missões, enfrentando criaturas, trazendo relíquias das mãos de malfeitores para o seu devido lugar e ganhando dinheiro e experiência. Nada com um grande propósito, mas sempre fazendo o bem, sem roubo ou trapaças. Foi o período áureo na vida de Harash.
Até uma missão na Sembia, quando o grupo foi enganado por supostos clérigos de Helm. Asseclas de um necromante (Gulior Bestaban) enganaram o grupo, que resgatou um cajado e sofreu uma armadilha. Geil e Sonia pereceram. Morreram sem chance de serem resgatados ou ressuscitados. Harash e Maeluk conseguiram fugir.
A tristeza foi imensa
Assim, Harash consegui convencer Maeluk a conhecer sua família. Assegurou que nada lhe aconteceria e que poderia pedir ajuda para, de alguma forma, vingar ou trazer seus amigos de volta, além de trazer informações do front inimigo (drows) para os elfos de Árvores Enroladas. Hesitante e temeroso, Maeluk aceitou. Harash também queria aproveitar os conhecimentos de Maeluk, que sabia caminho de portais e subterrâneos Drows. O conhecimento é a melhor arma, na mente de Harash.
Retorno ao lar
Harash, mais maduro e muito mais experiente, retorna para Árvores Enroladas sem as dificuldades que teve para sair. Tinha saudades da comida, das roupas, da música e da aparência élfica. Mais maduro, estava determinado a mostrar seu pai o que tinha aprendido e que estava disposto fazer as pazes com todos.
Acompanhado dos sentinelas que lhes encontraram bem antes de chegar a Árvores Enroladas, Harash estava acompanhado por “Galamond”, que andava transmutado para evitar conflitos. Uma multidão se formou para recepciona-lo, mais por curiosidade. Estavam lá, dentre outros Emirash (com sua fiel escudeira, Latinea), Sebihan e Göthel. Quando se viram, a emoção foi grande. Harash aproximou-se de seu pai, que lhe deu um forte abraço. Um momento que não haviam ressentimentos. Uma fração de segundo eterna, de respeito e admiração mútuas.
“Mas que companhia é essa, Harash? ”, perguntou Göthel. “Seu par não é o que pensa”, afirmou Sebihan. Não haviam dúvidas da natureza da Maeluk. A Lâmina Vanriel tremia na bainha de Emirash.
Tudo, porém foi explicado no momento. As magias de Göthel e Sebihan não encontravam mentiras, mal ou trapaças. Maeluk falava a verdade. Naquele momento, aquela era a verdade, até para Maeluk…
Uma festa tomou conta de Árvores Enroladas. Harash tinha feito o próprio destino, estava forte, com muitos itens e armas mágicas. Ele tinha feito o próprio treinamento.
Apesar de ser completamente diferente do que pensava, Emirash estava extasiado. Seu filho era poderoso e virtuoso. Todo o remorso que sentia antes estava superado e logo a espada teria um novo dono. Quem sabe até, não seria uma linhagem de guerreiros magos? Emirash estava tão feliz que esquecera de ensinamentos e dogmas ancestrais. Feliz também estava Sebihan, um orgulho discreto de alguém que se considerava um segundo pai. De alguém que sabia que o destino do elfo era para a magia – ele via Harash mais como seu sucessor do que de Emirash.
Duas mentes eram mais reticentes: Göthel percebia que o elfo tinha virtudes, mas sua fé em Corellon não era plena. Desde sempre o jovem Harash tinha mais fé em seus atos do que no Deus. Ele sempre percebeu que Harash não compreendia o poder de Corellon nem sabia o que era a bondade pura e crua. Isso era um pré-requisito para um verdadeiro herói; e Latinea, que abraçou e chorou de emoção ao ver seu irmão. Ela também sentiu saudade e temor por sua vida, mas acompanhado de um meio-drow… muito esquisito para ela, inaceitável na verdade….
Tragédia e novo exílio
Os dias se passaram como festa em Árvores Enroladas, afinal a Casa Vanriel tinha novamente seu futuro protetor de volta. Todas as mágoas do passado pareciam desaparecidas e superadas. Muitas conversas foram colocadas em dia. E assim Harash soube da situação oportuna que havia retornado.
Muitos drows estavam sendo vistos por toda Cormanthor e pelos Vales. Os filhos de Lolth novamente arquitetavam algo nas sombras da floresta, os elfos descobriram partes de um plano dos drow, que queriam através de rituais, reativar um antigo portal selado e assim libertar um poderoso demônio, o remanescente do Exército da Escuridão.
Como um encaixe de quebra-cabeça que faltava, numa coincidência, Maeluk como já tinha sido um escravo dos drow sabia de caminhos subterrâneos desconhecidos pelos elfos, e através de missões nestes dutos o local exato do ritual foi descoberto. O ritual aconteceria em algum lugar perto da Pedra do Acordo.
Maeluk, conhecia o local do ritual, na sua vida de escravo ele já tinha estado neste local. Assim como uma provisão divina, um renegado drow deus informações chave para uma investida de Emirash e seu grupo eliminar, mais uma vez, tentativas de invasão e corrupção de Cormanthor.
Partiram, então, uma comitiva liderada por Emirash, junto com Harash, Latinea, Maeluk e outros. O caminho estava certo e eles encontraram um portal em execução por corruptos drows, aliados a aranhas de Lolth e muitos orcs e gnoll aparentemente enfeitiçados. Como os elfos estavam ao lado de Emirash, que empunhava sua lâmina épica, a moral era alta.
Um grande e esperado combate se iniciou, talvez tardiamente pois do portal saiu uma figura diferente da esperada, de tamanho mediano, semelhante mesmo a um humanoide, diferente da enorme e criatura aterradora que se esperava.
Poucos viram, quando o ser apareceu pelo portal, Maeluk de onde estava urrou e se curvou. O combate estava intenso e Harash admirava seu pai ao tempo que lhe mostrava como havia evoluído na magia e na espada. Como em um piscar de olhos, uma flecha brilhante e profana, voou em direção do líder elfo. Não era uma flecha normal, na verdade era um virote de besta pelo que Latinea percebeu. A flecha atingiu Emirash nas costas e o calou. O líder élfico caiu e Maeluk, autor do disparo, faz gestos e palavras mágicas, como num ritual restrito, obscuro. O meio drow pegou o virote que estava cravado no corpo de Emirash. Harash viu a espada de seu pai no chão, e percebendo a intenção nos olhos de Maeluk possuí-la, correu em direção da lamina da Lua, mas o meio-drow foi mais rápido, pegou a espada, e em um forte clarão rompeu, ofuscado pela luz o traidor tentou evadir-se rumo ao portal, a espada após o clarão havia desaparecido. Todos os elfos estavam desnorteados com a provável morte de seu líder, e corriam em direção ao corpo de Emirash, menos Latinea, que desesperadamente correu em direção ao algoz de seu pai, em vão, ela conseguiu atingi-lo, com uma das suas espadas, mas antes que pudesse atacar novamente, um raio disparado pelo drow no portal rechaçou a elfa para longe. Maeluk consegue fugir pelo portal, juntamente com o drow que surgiu apenas por uma silhueta, que nem chegou a sair por completo do portal.
O combate se sucede brevemente até a eliminação restante dos drows, orcs e criaturas correlatas. Muitas mortes por ambos os lados, até pela eliminação precoce de Emirash, mas os elfos saem vitoriosos. Todos se vão ao corpo de Emirash ao fim do combate e veem um elfo pálido, sem vida e inerte.
Latinea reclama para si, o comando da comitiva. Acusa seu irmão de traição no calor do momento, mas ordena que todos voltem para Árvores Enroladas levando quantos corpos puderem. Ao chegar em Árvores Enroladas, atônitos, todos se dão conta que caíram em uma armadilha. A comoção é geral. O elfo guardião, líder de combate, a lenda, havia sido morto por drows. Pior, devido a traição de seu filho (era a história murmurada por todos). Seu corpo estava sem alma, não havia como ressuscitá-lo.
Latínia, a Senhora da Guerra, Dama forte dos elfos
Harash ficou atônito pela atitude de seu então aliado, procura Sebihan, com que tem uma longa conversa. Este acredita em Harash e lhe tenta elucidar possibilidades para o ocorrido. Mesmo assim, enquanto Harash conversava com Sebihan, Latinea o convoca.
A confusão era total na cidade, a maioria, senão todos acusavam Harash pelo fato. Traição premeditada imperava nas opiniões. Como num julgamento improvisado todos acusavam Harash de ter planejado para matar e tomar a espada do pai. Estar com o meio-drow assassino era determinante para as opiniões vigentes. O passado do jovem elfo dourado também pesava. Harash apelou defesa para Göthel, que negou lhe defender, apesar de não lhe acusar. Apelou para seu amigo de infância, Lilion, que também não lhe defendeu, até apoiou sua morte. Todos menos um. Sebihan era o único que defendia Harash.
Sebihan temendo por Harash, pediu para que o elfo fugisse e de alguma maneira obtivesse as provas de sua inocência. Harash percebendo que iria morrer na mão de seus irmãos de forma injusta, destruído por ter perdido seu pai e de certo modo participado da morte do mesmo, pois havia confiado num traidor durante anos, parte para seu segundo exílio.
Peregrinação e recomeço
Ao sair de Árvores Enroladas, Harash vai até local do combate, encontrar pistas sobre o que aconteceu. Está destruído, desolado, só e exilado. O elfo parte de Cormanthor, ele sabe que seu povo não vai esquecer, mas ele precisa de tempo para entender tudo o que aconteceu. Harash parte com um vazio no coração e com o ultimo conselho de seu amigo Sebihan em mente.
“Busque a espada, pois só os honrados possuem o destino de usa-la, se a lamina da lua o aceitar, niquem poderá contestar sua lealdade. Aquele que possui a espada lidera os elfos. ”
Se buscar o significado da palavra “penitência” irá descobri-la como exemplo o caminho que esse nobre elfo trilha.
Harash algum dia foi um tolo, jovem, imaturo e livre, com grandes responsabilidades o amarrando desde muito cedo. Todos nós fomos assim um dia, e aqui digo-lhes, tal comportamento não foi muito diferente em minha juventude. O problema é que para Harash, ou Príncipe Harash, a inconsequência de seus atos teve um preço muito alto, e admito – talvez injusto.
Eu – Kirkmund, admiro muito o elfo, sua resiliência, força de vontade e desejo de consertar os erros cometidos no passado. Foi um engodo mágico, disso não tenho dúvida, mas sei tão bem quanto o elfo, que a armadilha foi potencializada pelo seu próprio comportamento de espírito livre e baixa força de vontade e experiência.
Ainda hoje o vejo muito susceptível a ofertas de poderes misteriosos, que o seduziria aos mais tenros heróis, mas Harash precisa mostrar que aprendeu a lição, e eu sigo ao seu lado como um humilde conselheiro, guardião e amigo.
Quero estar ao seu lado quando refizer seu caminho penitente de volta a Árvores Enroladas e puder mostrar a toda Corte Élfica que seu sangue vibra com a fibra mais forte e poderosa do sangue de um verdadeiro herói de Corellon, em nome de Amaunathor (“rs”).
Ass. Kirkmund