Do ponto de vista da simetria da mecânica do jogo uma classe divina espontânea era quase natural. Mas Oráculo traz ao jogo muito mais do que um mero complemento de simetria. através de suas fraquezas intrínsecas, a classe permite explorar elementos narrativos normalmente ignorados pelos jogadores. Além disso, o oráculo preenche uma lacuna no universo de fantasia, o espaço do abençoado divino desvinculado a uma divindade específica, que nas mãos de um Mestre criativo e um grupo inspirado, pode gerar cenas de memoráveis debates sobre religião e moralidade. Mais ainda, Alahazra, a oráculo icônica, vem de Rahadoum, uma região de Golarion onde o culto ao divino é banido. Mais oportunidades numa só personagem é difícil de achar. A Oráculo icônica foi anunciada no blog da paizo no dia 23 de Junho de 2010. Texto original de James L. Sutter.
Tradução: Fred Torres
Publicação: Fred Torres
Alahazra nasceu numa pequena cidade Rahadoumita a leste de Manaket, uma das muitas estâncias para caravanas na famosa rota dos Caminhos de Sal, que começa em Azir e vai até a distante Sothis ao sul e tem esse nome por causa do salitre do mar interior, que margeia a rota e as lágrimas secas dos muitos escravos que por ali são arrastados. Filha de um rico dono de uma oficina de carroças e vagões, Alahazra sempre teve tudo. Foi treinada pelos melhores professores da região, preparada desde pequena para um casamento vantajoso ou para uma vaga no Occularium, prestigiosa escola de magia de Manaket.
Tudo mudou aos dezesseis anos, quando Alahazra acordou súbita e inexplicavelmente cega. Seus olhos cobertos por um véu leitoso, que permitia apenas uma vaga noção das silhuetas a seu entorno. Amargurado, seu pai chamou os melhores curandeiros daquelas terras atéias para descobrir que a situação era pior do que ele imaginava. Quando os bardos se aproximaram para aplicar as técnicas de cura sobre a enferma infante foram repelidos por uma explosão de chamas, que queimou a cama da criança, deixando-a magicamente ilesa. Tudo isso seria tolerável, não fosse a revelação final dos bardos, as chamas que protegeram a criança não eram de origem arcana. O pai de Alahazra, ateu convicto, não podia acreditar que sua tradicional casa Rahadoumita abrigava uma sacerdotiza.
Confrontada por seu pai, Alahazra gritou por sua inocência. Seu pai, traído e enfurecido não deu ouvidos à filha mas mesmo enojado, conseguiu encontrar em seu coração forças para uma última gentileza. Mandou Alahazra embora com apenas a roupa do corpo, antes que a Legião dos Puros viesse para levá-la. Agora os deuses seriam sua família, já que não mais teria uma em Rahadoum.
Apenas os que se recusam a ver são realmente cegos.
(Alahazra, noiva do sol e profeta das areias calcinantes.)
Cega e alquebrada, chorando de frustração e raiva, Alahazra rumou sudeste para o deserto, procurando por qualquer pouca sombra ou água que as terras baldias pudessem oferecer. Ela vagou por dias, procurando apenas distanciar-se de seu antigo lar e de qualquer um que buscasse vingança por sua suposta heresia. Finalmente no sopé de uma duna ela sucumbiu à desidratação e foi ao chão. Ela estava morrendo.
Foi ali, olhando para um sol enturvado pela névoa leitosa que impregnava sua visão, quando o vento a cobria com as areias quentes do deserto, que ela teve sua primeira revelação. Através daqueles olhos inutilizados, uma explosão de cores construiu uma visão. Alahazra se viu não alquebrada e doída como estava, mas como viria a ser, altiva, orgulhosa e poderosa. Naquele momento, Alahazra entendeu que não era uma garota ordinária. Ela era uma força do deserto – a voz do sol, da areia e do fogo – e ela mostraria sua verdade ao seu povo, estando eles preparados ou não. Ardendo sob o poderoso sol e sobre as areias calcinantes do deserto de Garundi, Alahazra conheceu a si, absorvendo os poderes do fogo mágico que ardia dentro de seu coração.
Com suas recém descobertas habilidades, Alahazra rumou para o leste, cruzando Thuvia e seguindo o Caminho de Sal até chegar em Osirion, onde finalmente se estabeleceu. Lá, ela andou pelas grandes cidades e extensas planícies, oferecendo cura e sabedoria aos justos e purificação através do fogo para os perversos. Com o tempo, ela ganhou notoriedade, o que lhe permitiu transitar nas camadas mais elevadas da sociedade. Rumores dão conta de que ela tem admiradores e consortes entre os homens mais poderosos da região e que conseguiu acesso à corte do príncipe Rubi. Alahazra não fala do seu passado, e se preocupa apenas com o futuro. É sua missão de defendê-lo, usando todas as suas habilidades.
Já adulta, e ainda atraente o suficiente para chamar atenção de qualquer tipo de homem, Alahazra é gentil mas distante, frequentemente embarcando nos cheiros e Sons do ambiente em detrimento de conversações. Quando fala, entretanto, sua voz grave e pesada, é uma voz de comando. Alahazra tem pouca paciência para os tolos – notadamente os que deixam dinheiro ou orgulho distraí-los do caminho da justiça e da verdade – e tem um fraco por órfãos, se sentindo um tanto quanto mãe de seus companheiros de aventuras.
Ainda que sua fé não tenha como objeto uma divindade específica, o epicentro do desentendimento com seu pai e nação , ela guarda respeito por muitas divindades, se referindo a elas como “aliadas poderosas e estratégicas”. E embora seja vista como fria pelos seus detratores, em batalha, sua fúria flamejante – especialmente contra injustiças e intolerância – se manifesta implacável na forma de ondas de fogo divino.
O próximo icônico é Alain, Nobreza e Sangue.
Fred Torres
Ilustração de Wayne Reynolds