Essas são as histórias que envolveu durante um tempo um pródigo sacerdote de Pelor e que hoje está muito mais endurecido por tais vivências do que muitos aventureiros. Poucos testemunharam a perfídia de Iuz tão perto, quanto ele…
594 CY, 25° dia de Patchwall, Dia de Iuz
Antes da caravana de capturados seguir para Ikruk, paramos em Forte Beiralago. Afinal, estávamos no território de Iuz e hoje era dia dele, então, haveria comemoração. Meu temor era: como os seguidores de Iuz comemoram seu dia? Eu estava prestes a descobrir…
Forte Beiralago era realmente pequeno, construído aparentemente de forma a não chamar a atenção. Até mesmo seu porto é escondido, em um recuo do Nyr Dyv. Antes mesmo de entrar no forte, senti um cheiro forte, seguido de gritos sofridos. Na abertura dos portões, entendi do que se tratava: escravos eram torturados na praça que ficava imediatamente além do portão, e o cheiro era de carne queimada misturado com sangue. Ali, definitivamente, eu estava em território hostil. Seria estupidez avançar sozinho contra um exército inteiro, e, mesmo que eu fosse poderoso o suficiente para ganhar tal batalha, atrairia toda a atenção do Império de Iuz, o que seria outra estupidez. Desta forma, o jeito seria pensar, e exercitar muito minha paciência. O resto deste dia, passaríamos na masmorra, ou assim eu pensava.
Afinal, eu fui um dos 5 escolhidos para as atividades de “Encerramento” do festival.
Enquanto discutia com Tan algumas estratégias, a porta da masmorra abriu num rompante, e eu, mais quatro (o halfling não foi escolhido) fomos agredidos até desmaiar.
Quando recobrei a consciência, estava lado a lado com os outros quatro homens, numa plataforma alta no meio do salão. Na minha frente, o “público” se dividia em dois: mais próximos, alguns homens aparentemente de patente mais alta, entre eles, os capitães dos navios que atacaram a “Benção de Velnius”, e Kutshev. Mais ao fundo, os demais seres (humanos, orcs, etc), com vestes comuns.
Na plataforma, além de nós, estavam dois homens com chicotes, e um outro individuo, que não consegui reconhecer, que ostentava um grande símbolo de Iuz em suas vestes. Assumi que fosse um clérigo. Este individuo falou, com sua voz grave profunda:
“Valorosos habitantes do Forte. Saudamos o retorno de nossos bravos companheiros que navegavam no Nyr Dyv, justamente no dia mais importante para o Supremo Iuz! Dou-lhes às boas vindas, e, de forma a reconhecer seus exímios serviços, gostaria de convidar o Senhor Kutshev em pessoa à derramar o primeiro sangue nesta cerimônia exclusiva.”
“Tenho aqui comigo, uma unção, que será aplicada após as primeiras chicotadas. Esta unção faz que o fogo queime a pele de forma mais lenta, de forma a prolongar a dor. Esta cerimônia deve durar até o fim do Dia de Iuz!”
Tenho que confessar: qual mente doentia criaria uma unção dessas!? Respirei fundo, pois sabia que aquilo seria lento e doloroso.
Orador de Iuz
Kutshev aplicou as primeiras chicotadas, e dois dos homens não suportaram e desmaiaram. Ao receber a minha chicotada, entendi o motivo: ele era muito forte. Em seguida, o clérigo aplicou a tal unção, que, como não poderia deixar de ser, ampliou a dor causada pelos cortes. E logo depois, o fogo. Não consigo descrever a dor que senti naquele momento, mas, quando estava prestes a perder minha consciência, ouvi uma sequencia de palavras que reconheceria em qualquer lugar: alguém estava conjurando uma magia de cura. E eu era o alvo. A magia me recuperou um pouco, o suficiente para que eu virasse a cabeça e visse o clérigo utilizando uma varinha. Claro que seria uma varinha; afinal, ele não pode conjurar magias de cura, só de infligir dano.
Não sei quanto tempo passou, mas me pareceu uma eternidade. Ao fim da cerimônia, eu estava mentalmente exausto, e meu corpo em frangalhos. E dos outros homens, apenas um ainda estava vivo.
No dia seguinte, implorei que Tan pedisse algumas coisas básicas, como água, vinagre ou vinho e panos limpos, para que eu começasse a me recuperar do trauma da noite anterior. Se o Império de Iuz fazia questão de me ter como inimigo, eles estavam conseguindo, com maestria.
A ideia era usar os poucos banhos que eu teria direito nos próximos meses, para usar meus poderes de cura, e me recuperar completamente da noite de ontem. Isso, no fim das contas, funcionou bem. Enquanto isso, água, vinho e pano iriam servir de paliativo. E então, seguimos para Ikruk.
Continua em: Diário de um sacerdote do Sol – Parte II