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Sandy estava preparada. Não havia tempo para lamentar ou sopesar os erros que a levou a perder o príncipe. O que era uma missão de resgate se revelou uma trama ardilosa do seu agora maior rival. Aescriel o elfo vampiro, juntamente com Lázarus havia planejado tudo desde o inicio, e por fim, ela, Nybas e Erzurel caíram no Ardil do Vampiro, e dele precisavam sair.

Esta é a continuação da aventura dos Heróis do Norte, que após a divisão do grupo maior em Nulb, decidiram rumar em direção ao norte e colocar no trono o herdeiro legítimo do Reino dos Cavaleiros. A aventura descrita a seguir foi jogada pelos seguintes interpretes/personagens:

Patrick Nascimento (Sandy Benelovoice – Paladina de Heironeous 10º)
Aharon Gonçalves (Erzurel Graysson – Clérigo de Pelor 10º)
Marcelo Guimarães (Aescriel – Vampiro Mago)

Sessão do dia 02.09.17

Sandy, Erzurel e o novo companheiro encontrado desacordado em uma jaula – Lester voaram no dorso de Silvertite rumo a Cidade Livre de Verbobonc. O sacerdote de Pelor sabia que por mais resistente que o dragonado fosse, não haveria condições de chegar à cidade sem pararem para descansar. A manhã já se anunciava no horizonte, e as lembranças das últimas horas pareciam eternidades a uma mera recordação dos eventos.

E foi Sandy que percebeu que a muito o pequenino, o halfling de nome Lester já estava dormindo a sua frente, amparado pelos fortes braços da paladina enquanto conduzia o dragonado.

O halfling havia sido um sobrevivente, em verdade o único na clareira de ilusões que Aescriel criou e se declarou um caçador do mago elfo. Lester houvera sido contratado pela Ordem Arcana de Greyhawk, a qual Aescriel fizera parte. Segundo o halfling, haviam assuntos inacabados que demandavam a captura do vampiro e sua entrega a ordem, vivo ou morto, ainda que a condição atual dele fosse exatamente essa (morto-vivo). Pensando a respeito a paladina não entendia como Lester pudera sobreviver ao encontro de Lázarus e Aescriel, dois perigosos e poderosos arcanos e ainda ter sobrevivido. Em seu íntimo a paladina temia que o halfling fosse mais uma pobre alma dominada por Aescriel, tal como foram  Müeller. E foi o pensamento no patrulheiro sentenciado a morte por ela, que lhe instaurou uma imediata melancolia, sem qualquer vestígio aparente de arrependimento.

E ela voou. Estava obstinada, a paladina queria ver no horizonte as árvores e construções que indicavam a presença da grande cidade. Houvera passado por ela muito rapidamente da outra vez e agora não seria diferente. E foi Silvertite que a alertou.

Erzurel dormitou na sela atrás da paladina e de susto parece ter recuperado o equilíbrio a tempo de evitar uma perda mais grave do equilíbrio. Uma queda aquela altura e velocidades,  seria fatal. E pensando na segurança de seu aliado, a paladina decidiu pousar no cume de uma colina. Lá o grupo descansou, alternando em turnos a vigília dos que descansavam.

Acordaram cedo com o cheiro agradável de sopa feita sob o improviso de Lester. Se prepararam e logo alçaram voo no inicio da tarde e sentiram como a temperatura esfrio rapidamente. Aquela tarde e certamente a noite seria mais fria no inverno que persistia.

A presença de fazendas, moinhos e animais de pasto revelaram aos heróis que eles haviam entrado no perímetro da cidade e não tardou ver suas primeiras construções. E tão logo avistaram a muralha de cerca viva pousaram e concluíram o caminho a pé. A noite já havia se principiado a algumas horas e tão logo chegaram foram recebidos por comerciantes e notaram a vida cotidiana do fim de um dia de trabalho para muitos feirantes, artesãos e sentinelas que trocavam os turnos.

Um comerciante em especial oferecendo tecidos foi agraciado com as moedas do grupo. Roupas grossas e confortáveis foram adquiridas, além do pagamento informações foram adquiridas. Aquele era o Viscondado de Verbobonc. Governada pelo Nobre Lorde, Visconde Langard de Verbobonc, e apesar de clamar para si o título de cidade livre, era um reino semi-independente, vinculado ao Arquiclericato de Veluna. A cidade possui livre comércio e uma política muito autônoma. Mas todos sabem que todo o território pertence hoje ao clero de St. Cuthbert, um total de 14 províncias dividem o território e são governadas por 8 “tutelas”. Os aventureiros também perceberam a mudança da cunhagem, ainda que muito familiar com a de Furyondy, eles chamavam o ouro de trigo, a platina de folha, e a prata de torre.

Verbobonc não é apenas uma cidade humana, ela representa um lar para muitos elfos e gnomos. Na colina em que se situa na cidade ainda podem ser encontradas grandes árvores de carvalho imaculadas pelos madeireiros e que servem de lar para casas sobre as árvores de alguns elfos. Os gnomos constroem suas casas em “rendas”, pequenas e confortáveis construções escavadas na terra e que permeiam pequenas colinas dentro da cidade. A cidade é rica com o comércio. O rio traz bens de todas as cidades e produtores próximos, caravanas e balsas carregadas de mantimentos e cobre lota as embarcações. O metal vem de minas locais. Em Verbobonc os gnomos ferreiros são famosos em toda Flanaess (principalmente por produzir as moedas Reais de Furyondy que são cunhadas nestas forjas).

Após a breve conversa o grupo pediu a indicação de uma boa estalagem e quiseram saber um pouco mais sobre o porto, onde já haviam recebido pistas do local onde poderia encontrar Aescriel. A estalagem de qualidade recomendada fora a Gamo de Madeira. E com as novas roupas o grupo partiu ruma a ela, para tirar o pó da viagem e se preparar para encontrar Aescriel.

Não muito longe dali, uma figura magra e de roupas leves corria inerente ao frio que fazia naquela noite. Levando até o seu senhor a mensagem de que os “convidados” chegaram finalmente, e tão logo os preparativos foram iniciados.

Uma vez na estalagem Gamo de Madeira o grupo pediu uma refeição e enquanto se refestelavam, discutiam discretamente o que iriam fazer. Lester não ficara para a conversa, preferindo seguir para um dos quartos reservados para remover o pó da viagem e se limpar. Erzurel e Sandy ainda sabiam muito pouco daquela figura, entretanto, a mesma parecia alheia ao que  a paladina e o sacerdote decidissem, ele iria atrás de Aescriel e o entregaria vivo ou morto para ordem. Esta obstinação tranquilizava a consciência de Sandy, haveria ali poucas chances de uma traição voltar a ocorrer.

A conversa com Erzurel foi breve, eles não iriam dormir até encontrar o príncipe, essa era a prioridade deles. E decididos seguiram para o quarto do pequenino. Ele parecia que seria uma valiosa ajuda. E ao bater na porta não perceberam que a voz que autorizava a entrada era um tanto quanto diferente da já familiar de Lester.

Shester Winchester, O Erudito

O halfling que se revelava para o grupo próximo a uma mesa de centro se servindo de um chá era totalmente diferente de Lester. Mais engomado e com feições carrancuda e enfezada o halfling falou:

Já era hora de vocês virem.

Oferecendo o assento a borda do centro para Sandy, tanto a paladina, bem como Erzurel estavam confusos. Quem era aquele halfling, o que ele fazia ali, onde supostamente era o quarto de Lester?

É sempre a mesma coisa… Eu sou ele e ele sou eu. Me chamo Shester Winchester, também conhecido como o erudito e tenho algumas coisas a serem ditas sobre o vampiro que vocês estão indo encontrar. A primeira delas, não contem com Lester para qualquer tipo de negociação. O halfling é cabeça dura e ele vai querer cumprir o acordo feito com o conselho da ordem. Outra coisa importante…

Neste momento uma mudança repentina ocorre em em Shester e ele desaparece para revelar em seu lugar o halfling original – Lester.

Mas que banana Shester, você não tem nada que se meter onde não é chamado!

Bem meus caros, já é hora de partir?

Ainda confusos, o grupo se preparou e se puseram a ir até uma taberna onde provavelmente aguardariam o sinal do vampiro.

Após algum tempo caminhando pelas ruas de Verbobonc os grupo foi percebendo as casas indo se escasseando e dando lugar a galpões erguidos para guardar coisas trazidas pelas embarcações que atravessavam o grande Velverdyva para chegar até o porto. E junto com essas construções, outras estalagens e tavernas de aspectos mais simples serviam de entreposto para muitos marujos e viajantes. Em uma estalagem em especial o grupo entrou, era a Cachoeira Aguardente.

Uma verdadeira cacofonia reinava ali, pessoas conversando, um bardo usando um alaúde entretinha um grupo de espectadores. Ainda assim uma figura em especial notou com cautela a chegada do trio. E assim que Sandy, Erzurel e Lester sentaram-se a mesa daquele local aguardando atendimento, o lacaio saiu para levar até o seu mestre a mensagem de que seus “convidados” chegaram.

Os aventureiros foram servidos de um pernil amanteigado com cevada e pão, e apesar do aspecto sujo e suspeito dos frequentadores do local, a comida era boa, farta e barata. E quase que como se estivesse aguardando eles terminarem o jantar, uma figura se aproximou do grupo e solenemente falou:

” Meu mestre os aguarda, se já terminaram vossa refeição, queiram por favor me acompanhar.”

E como se aguardassem apenas esse sinal o grupo largou algumas moedas por sobre a mesa e seguiu a figura  magra, pálida e com roupas maiores que sua forma física. O homem conduziu o grupo por dentro da cozinha daquela estalagem e ao seu final abrindo uma porta de onde desceram escadas escuras e mau iluminadas até o que parecia ser a adega do local. A área cheira a vinho azedo, barris de carvalho formavam uma parede de destilados de onde o cheiro provinha.

Aescriel já estava ali dentro, ele estava invisível aos olhos do grupo e observava com grande curiosidade a chegada de seus “companheiros”. E assim que os aventureiros se acostumaram a iluminação da penumbra o elfo vampiro, ex-membro da Ordem Arcana de Greyhawk se revelou. Ele estava mais pálido que nunca e magro, mas exibia um olhar com órbitas vermelhas carregados de uma maldade inominável.

Aescriel: “Que bom que vieram meus caros. Sei que os infortúnios que lhes trouxeram até aqui foram produzidos por mim, no estratagema que custou a segurança do príncipe e lhes geram uma ansiedade por resgatá-lo. Não vi uma forma de vocês me ajudarem, que não fosse desta forma. Sei que é desleal, mas peço que compreenda Sandy, eu não tive alternativas, precisava de sua ajuda e não sabia como lhe convencer a ajudar-me de outra forma.”

Sandy: “Quando irá parar com esse jogo e nos dizer onde está o Príncipe Thrommel. É por ele que estamos aqui, e se presa pela sua não vida, deverá nos dizer o mais breve possível.”

Erzurel: “Não iremos mais cair em seus jogos e falsetes Aescriel, aprendemos a lição lá nas Colinas Kron. E nossa paciência se esgotou, você possui poucas ou nenhuma alternativa que não nos dizer: Onde está o príncipe?!”

Sentindo o calor das veias de Erzurel e o rubor raiva de Sandy com as palavras do sacerdote de Pelor se elevar, Aescriel sentiu que precisava trabalhar com a verdade, ou aquele encontro terminaria de uma forma perigosa, se não fatal para um dos lados. E assim ele decidiu colocar as cartas na mesa.

Aescriel: “Recebi uma ordem de meu senhor. Um prêmio deverias ser lhes entregue como prova de meu valor, fosse um nobre importante de Verbobonc, um membro do conselho gnomo das Colinas Kron, fosse o próprio regente desta cidade. Aberain ansiava por uma prova de meu valor. E eu poderia ter atendido ao pedido dele, mas preferi fazer algo diferente, algo mais arriscado, porem que traria valorosos heróis para um lado da briga que poderia representar sua liberdade do controle do lich. Assim armei o ardil o qual vocês caíram. Para poder conduzi-los até aqui, com um proposito que pode muito bem atender à expectativa de todas as partes. A sua, bem como a minha.”

Sandy: “E o que é agora?! Vai nos dizer que para nos entregar o príncipe, precisamos fazer algum favor para você? E com qual garantia teremos a certeza de que nos entregará o príncipe vivo? Achas que sou tola Aescriel?

Erzurel: “Onde está o seu parceiro em tudo isso?”

Aescriel afrontado por todos os lado não tinha alternativa a não ser jogar limpo com seus antigos companheiros. Para alcançar seus objetivos pessoais, precisava valorizar a astúcia e sabedoria de seus antigos companheiros. E assim ele abriu o jogo.

Os detalhes da continuidade desse dialogo, bem como suas nuances irei deixar para ser lido no livro: O Diário de Sandy Benelovoice, no qual todas as verdades foram colocadas a mesa, e por fim sem terem uma alternativa melhor, Sandy e Erzurel cederam a proposta do vampiro. No fim, ele e Lázarus os ajudaria a encontrar Thrommel, e Sandy e Erzurel apoiaria eles na missão de encontrar Aberain e com as forças combinadas  destruí-lo.

Enquanto o grupo se aventuraria pelos esgotos de Verbobonc, o halfling Lester buscaria informações sobre Aberain Melquisedec, a mera menção do nome sugeria que era antigo e possuía uma história profunda e entrelaçada com as origens do Condado e Ducado de Urnst. Se houvesse alguma informação na biblioteca de Verbobonc que esclarecesse quem era aquela figura, ele encontraria.

Continua na próxima sessão.

Bruno de Brito

Mestre da campanha "Aurora dos Conflitos", ocorrida no cenário de Greyhawk. Entusiasta do sistema Pathfinder, fã de Magic: The Gathering e churrasqueiro nas horas vagas.

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