Os membros da tripulação vigente passam por momentos difíceis e mortais durante as missões. Algumas vezes esses traumas despertam uma lembrança, memórias ou até mesmo visões sobre o passado do indivíduo.
Os Neurolinks de Memória Pós-Traumática (NMPT) são um recurso narrativo que visa encaixar elementos da história com os personagens, trazendo à tona conflitos internos e traumas passados para dar profundidade na construção da persona individual e sua interação com o grupo.
Referência
É chegada mais uma noite de descanso na dura jornada pelas florestas de Ukulam. Enquanto discutia e estudava os planos para o próximo dia de jornada, Maenala encontra um artigo que a faz relembrar sofrimentos desvanecidos em sua mente.
O Vazio Interior
No apagar das luzes de mais um dia cansativo de viagem, enquanto estudava e se preparava para o próximo dia de viagem, Maenala se deparou com algo que chamou sua atenção: um artigo encontrado em uma revista de sobrevivência que estava salvo no seu Datapad pessoal.
“A picada de uma Usqui, uma mosca viciada em sangue nativa das florestas tropicais de Naleobaseq, inocula um parasita que torna as vítimas psiquicamente mudas e surdas. Seus efeitos nas raças telepáticas são bastante profundos. O silêncio resultante, um frigido exílio psiônico de amigos e parentes, choca tanto os infectados que eles já foram encontrados em posição fetal conversando consigo mesmos para não se sentirem tão sozinhos.“
– Pesquisa entomológica da Vastidão, vol. 131.7
Ao ler esse trecho do artigo, Maenala olha para Obel e percebe que não ouve nem consegue falar nada com o pequeno apressamadra. Uma descarga de adrenalina parece subir pelo corpo da lashunta, o desespero e pânico vão tomando conta de seu semblante normalmente confiante e a angustia torna-se grande demais para ela aguentar… Repentinamente, Maenala desmaia!
Em meio à febre e ao delírio provocados pela súbita constatação do insuportável silêncio telepático que a assaltou, Maenala se recorda de onde sentiu o poder do verme da mosca Usqui. Ela era um pouco mais jovem e havia ingressado no rígido treinamento para se tornar uma pacificadora diplomática, uma Comissária.
Ainda acostumada com a vida relativamente luxuosa e calma que recebera de seus pais em Castrovel, a lashunta precisou se mudar para a Estação Absalom para dar continuidade ao seu treinamento. Depois de muito estudo e esforço físico, era chegado o momento do seu teste psicológico. Seria posto em prática o rompimento do cordão umbilical que ainda a ligava ao seu mundo natal. Maenala não sabia o que esperar… Afinal de contas, não era mais uma prova escrita ou uma maratona exaustiva que iria enfrentar. Nesse caso, não havia como prever e nem se preparar para o que a aguardava.
Deitada em uma maca na enfermaria, a lashunta observava uma shirren de pele verde-azulada e grandes olhos amarelos vindo em sua direção. Tratava-se da Comissária responsável por efetuar sua avaliação. Ela trazia consigo um frasco de vidro transparente. Dentro dele havia um enorme mosquito, repulsivo, gordo e cheio de brotoejas que pareciam verrugas de sapo. Quando alcançou a maca, a Comissária Salask abriu um pequeno compartimento que envolvia as pernas de Maenala e encaixou o recipiente na abertura lateral.
Foi uma picada letárgica… No começo houve muita dor, mas depois o anestésico produzido pelo mosquito começou a fazer efeito. Enquanto sugava o liquido vital da lashunta o inseto murchava, algo muito estranho de se observar. As pequenas verrugas iam ficando intumescidas, demonstrando que na verdade eram bolsas de estoque de sangue, mas o ventre do animal parecia diminuir.
Alguns minutos depois, ainda um pouco sonolenta, Maenala tentou se comunicar com a Comissária e percebeu a falta de voz telepática. Ela estava psiquicamente muda e surda. Era algo novo para a lashunta… Ela nem sabia que isso era possível! A Pacificadora Salask parecia estar se deleitando com o sofrimento de Maenala. Apesar de ser difícil ler o semblante insectoide de uma shirren, a alegria com que suas placas quitinosas e suas antenas se mexiam deixava claro o seu lado sádico.
Maenala se levantou cambaleante e saiu desesperadamente à procura de ajuda, apoiando-se nas paredes dos corredores, tentando se comunicar telepaticamente com qualquer um que ela encontrasse no caminho.
Os poderes telepáticos de um lashunta são mais intrínsecos do que Maenala poderia imaginar. A sua comunicação não são só palavras, ela vê formas, sente cheiros, consegue trocar pensamentos e até emoções. É uma experiência sensorial muito rica e complexa, e mesmo sem querer, ela fazia contato telepático com criaturas mais simples só para estimular os sensores localizados na ponta de suas antenas.
Maenala nunca tinha percebido quão importante era seu elo psíquico e como isso afetava a forma como via e encarava o mundo. Ela não iria suportar aquilo, havia chegado ao seu limite e sabia que teria que desistir de seu treinamento. Salask parecia relutante em livrar Maenala de seu sofrimento, deixando-a sofrer por mais algum tempo enquanto preparava a retirada dos vermes da mosca.
Tão rápido quanto se fecharam, os olhos da lashunta voltaram a se abrir… Ao olhar em volta, ela vê o pequeno Obel desesperadamente tentando reanimá-la. A lashunta nunca ficou tão feliz por conseguir ouvir a voz de um simples apressamandra em sua mente…