Reequilíbrio de Poder: Como o Mestre deve balancear o poder dos Personagens em prol da saúde da Campanha

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Heróis estão muito poderosos? Saiba como fazer um reequilíbrio de poder de forma saudável!

Recentemente na mesa de Forgotten Realms, da campanha “A Insurreição dos Vales“, surgiu uma discussão que volta e meia atinge outros grupos de campanhas: o reequilíbrio de poder.

O que isso significa?

Basicamente os heróis estão poderosos demais, em relação a itens e armas mágicas e o mestre percebe que vai precisar equilibrar, ou sendo mais direto, tirar o poder daquele personagem.

Ah, mas isso é um saco, uma sacanagem, pipipi, popopo…

Sim, é verdade. Eu sou jogador e acho um saco mesmo.

Porém, eu já fui mestre e sei que há alguns pontos interessantes de discussão e que talvez seja possível chegar a um acordo saudável para todo mundo.

É disso que vou falar nesse artigo.

Reequilíbrio de Poder: Quando Surge a Necessidade?

Vou usar como exemplo o grupo em questão que eu havia dito no início do artigo.

São personagens de 14º nível no sistema Pathfinder 2ª Edição, jogando no cenário de campanhas de Forgotten Realms, da campanha A Insurreição dos Vales.

Esse grupo de heróis e a campanha que estamos rodando tem mais de 10 anos de existência e já passou por várias conversões de sistema, desde D&D 3.0, D&D 3.5, Pathfinder 1ª Edição e agora Pathfinder 2ª Edição (ufa! tenso né?).

Pois bem, como toda conversão de sistema, o DM precisa se lascar todo para conseguir adaptar o personagem. Em se tratando de D&D 3.5 e Pathfinder 1ª Edição até que não foi difícil, afinal são bem parecidos em vários aspectos.

Porém, as coisas “ficam feias” em Pathfinder 2ª Edição.

O Sistema Pathfinder 2ª Edição e o Equilíbrio de Poder

O sistema Pathfinder 2ª Edição é muito focado no equilíbrio dos personagens e nas aventuras.

Tudo foi muito bem planejado, calculado das mais variadas formas. E tem mestre que liga muito para o sistema e mecânica. Lembrando que isso não tem problema algum se ele perceber que vai trazer melhor desempenho para sua campanha e aventuras.

Em Pathfinder 2ª Edição os personagens e suas habilidades são tão equilibradas que os itens mágicos não fazem tanto “peso” assim como eram nas edições passadas. Pelas regras, cada personagem precisa se encaixar em um nível de riqueza e tesouros. Apesar disso também existir nas edições anteriores, nessa edição, onde os encontros foram planejados para ficarem mais aderentes, os itens de grande poder e nível causam forte desequilíbrio!

Por exemplo, nesse grupo de Forgotten Realms um dos personagens tem uma Bandana da Sabedoria Inspirada, um item de apogeu considerado de 17º nível, sendo que ele é um druida de 14ª nível. Outros personagens também tem itens de apogeu dessa mesma característica, tais como Cinto de Força do Gigante, Cinto da Regeneração, Diadema do Intelecto, Tiara da Persuasão e Tornozeleira da Vivacidade.

Todos eles são itens do 17º nível. É uma diferença de 3 a até 4 níveis!

Isso é muito! Um absurdo para Pathfinder 2 Edição.

Como isso foi acontecer?

Simples, durante a conversão de sistema!

Como o mestre não queria “nerfar” demais os heróis, foi deixando alguns itens antigos, conquistados em aventuras passadas. Ele acreditava que não faria muita diferença (inexperiência com o sistema, claro).

Somente com o passar do tempo e das aventuras, o desequilíbrio ficou evidente. Os encontros, antes planejados para um certo nível de poder, estavam ficando, digamos, “fáceis demais”.

Além disso, o DM viu um problema maior: ele não conseguia colocar mais itens e tesouros!

Isso porque o nível de tesouro, que deveria ser 9000 PO, estava beirando 30000 PO e, alguns personagens, com (pasmem) 54000 moedas de ouro!

Isso estava sendo causado não por um conjunto de itens, mas por 1 ou 2 itens desequilibrados.

O personagem tinha diversos outros itens muito mais fracos e um muito forte. O DM não podia colocar mais tesouros para não “enriquecer” demais esses heróis e desequilibrar mais ainda.

O mestre então viu duas soluções:

  1. Deixar como está e seguir
  2. Fazer uma mudança, ou seja, o Reequilíbrio de Poder.

O DM então optou por dar aos jogadores o poder de escolha (sim, ele é bem democrático, rs).

A maioria, claro, quer o bem do jogo, mesmo que isso seja chato. Então, optaram pelo Reequilíbio de Poder.

A pergunta agora era: Como fazer isso?

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Ah você não vai querer reequilíbrio não? Então peraí que vou meter esse vilão fodástico aqui.

Como fazer Reequilíbrio de Poder?

Bem, a resposta para isso pode ser simples ou complicada.

Tudo depende do grau de vontade do Mestre, obviamente. E também do quanto os jogadores ficarão mais ou menos chateados com isso.

Veja algumas possibilidades:

1 – Os itens somem do inventário do personagem

Isso mesmo que você leu. Os itens desaparecem, tal como mágica.

Assim os problemas acabam e o mundo segue feliz.

Nem precisa dizer que isso é péssimo na visão dos jogadores e narrativa do jogo, né?

2 – O Mestre “tira” os itens on game

Essa aqui tem um contexto.

O DM faz alguma coisa que força o personagem a perder aquele item. Simples e direto, doa a quem doer.

Pode ser através de criaturas que destroem itens, por exemplo (tal como pudins negros, gosma ocre, etc).

Ou o item pode ser confiscado por alguma autoridade poderosa e influente.

Não importa, há um contexto dentro do jogo para remover aquele item apelão do mal.

3 – O PJ pode trocar os itens por mais fracos

O mestre dá a opção para o jogador fazer uma troca de itens, de forma automática ou entre intervalos da campanha (em uma cidade por exemplo).

O jogador precisa fazer isso em prol da continuidade saudável do jogo.

E o que isso significa? O mestre permite o jogador escolher alguns itens de uma lista (ou todos) e balancear de acordo com o seu nível ideal de tesouros.

Parece ser uma solução boa. Mas, ainda assim o item poderoso desaparece ou é apenas vendido.

4 – O item fica “travado”

O mestre opta por deixar o item mágico travado, ou inutilizado, até o personagem alcançar o nível mais alto.

Assim se evita o uso desses itens desequilibrados em níveis mais baixos.

Essa solução resolve temporariamente, pois quando chegar na época de usar o item, o personagem pode ficar “rico demais” e os problemas voltarem.

5 – O mestre e jogador fazem um “acordo” dentro do jogo para não usar o item

Nessa opção o o mestre e jogador conversam de forma amigável.

Assim o jogador para de usar o item ou então doa ele e pronto. Não tem nenhuma troca por outros itens, apenas fica subentendido que o jogador teve o bom-senso e aceitou de bom grado a decisão do mestre.

Esse parece ser menos pior. Ao menos em parte, para alguns jogadores. Outros vão achar uma merda…

Veja abaixo como isso pode ficar melhor ainda.

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As vezes as coisas podem sair do controle 😀

Reequilíbrio de Poder através de “Conversão Narrativa”

Bem, vimos que há diversas formas de fazer reequilíbrio de poder.

Certamente sentar e conversar com os PJs é a decisão mais sábia do mestre. E, no nosso caso da campanha em questão, foi isso que o DM fez (e ainda está fazendo, na verdade). Ele vai fazer isso de forma individual com cada jogador, conversando e entendendo seus pontos de vista.

Existe uma forma que pode ser benéfica para todo mundo, se chama fazer esse reequilíbrio de poder através de uma “Conversão Narrativa”.

O que isso significa?

Que faça tudo on game e que o item seja trocado por benefícios narrativos e que crie valor ao personagem.

Isso é, com narrativa, história, algo que crie valor para o personagem e a campanha. 

Podem ocorrer diversos motivos e situações que possa fazer com que deixemos de lado itens desequilibrados, mas ao mesmo tempo enriqueça a mesa em prol de um RPG saudável e maduro.

Exemplos:

  • Arcos de história importante para o background: o personagem pode resolver alguma pendência ou legado familiar, por exemplo, acabando com algum estigma de sua história.
  • Reputação social, Prestígio ou Fama: o personagem pode se desfazer do item para salvar uma cidade condenada por um magia necromântica, por exemplo. Isso vai ser ótimo para ele!
  • Progressão de carreira em uma organização: o personagem doa seu item ou arma para uma organização, em troca ascende no posto, obtendo mais status.
  • Terras e títulos em uma cidade/vale/Reino: o herói deixa o item para trás em troca de terras ao longo das montanhas ao sul do reino.
  • Troca de favores: o personagem devolve o item para uma família real em troca de favores, por exemplo
  • Pagamento de débitos: o herói paga a dívida pessoal ou de algum familiar, algo muito caro ou pesado, tendo que doar seu item.
  • Permissão de acesso a certos locais: o arcano doa sua tiara do intelecto maior para uma instituição para obter acesso a magias de alto nível!
  • Etc.

Entendeu a ideia né?

Existem várias formas de conversão narrativa!

O simples “reequilíbrio de poder” direto é muito mecânico e aquém de RPG de mesa. Fica parecendo MMORPG ou Diablo.

Porém, junto com uma conversão narrativa, que valorize o personagem, torna tudo muito melhor.

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O reequilíbrio de poder pode ser benéfico!

Conclusões

A ideia desse artigo foi levantar uma questão que vira e mexe ocorre em mesas de RPG (em especial, de fantasia medieval).

Esse tema certamente é longo e poderia render muito mais. Mas, a ideia central aqui é propor uma opção para o DM conseguir fazer o reequilíbrio de forma mais suave e benéfica para a mesa de jogo.

Nenhum jogador gosta de perder itens ou ter que se adequar para não parecer “forte demais”.

Afinal, tesouros e itens são ótimos! E ter que eliminar isso de forma “obrigatória” é sempre chato.

No entanto, para o bom funcionamento do jogo, é necessário.

O DM pode optar pela Conversão Narrativa nesse caso.

Assim, o personagem troca seus itens por benefícios digamos, mais interpretativos. E isso pode vim a ser ótimo! Podem ser favores, títulos, terras, status, fama, acessos, pagamento de dívidas. Enfim, muita coisa pode ser feita para que o efeito de “perda” do item seja compensado em prol de um bom RPG!

Logicamente essa solução não precisa ser geral e nem sobrecarregar o mestre (porra, vou ter que criar outra aventura ou background!).

Acho que no fim tudo se resolve com uma boa conversa, como sempre!

E você, o que você acha do tema de reequilíbrio de poder?

O que achou da solução proposta? Deixe seus comentários!

Ótimos jogos!

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Sobre o Autor: Bruno Gonçalves

Mestre Aposentado, criador do cenário de campanhas Arzien, jogador de RPG a mais de 18 anos nos diversos cenários dos mestres da Orbe dos Dragões. Atualmente escreve sobre RPG, Dicas de Mestre e Cenários de Campanha.

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