O texto “As Brumas de Stalmaer” conta sobre o conflito entre elfos e licantropos, numa situação em que a vila de Stalmaer mergulhou e que os heróis Thrommel, Gillius, Talglor, Eophain, Dikstra e Sandy se viram envolvidos irremediavelmente. Em uma condição inusitada, o grupo foi dividido em dois, com o desdobramento de ações que trazem os acontecimentos para um plano completamente inusitado.
Essa aventura foi desenvolvida via one-shot através do Whatsapp, com a participação de Fabrício Nobre e Patrick Nascimento até certo ponto.
A revisão fica por parte das hábeis mãos do nobre Bruno Simões.
O LADO KENSAI
18 de Preparos de 592CY
Eophain percebe com surpresa elfos saindo das árvores, ruas e casas próximas, todos com armados com lâminas élficas, armaduras feitas de couro, capas verdes e muita raiva nos olhos. É uma percepção de uma guerra irrompendo muito próximo de onde o trio composto por Gillius, Eophain e Talglor está.
Imediatamente, como que esperassem que fossem ser atacados, os heróis percebem todos os habitantes de Stalmaer se transformando em lobisomens, tal como aqueles rhenee se transformaram quando estavam para entrar nessa vila.
Imediatamente Eophain ouve Talglor falar:
“-Senhores, não sei quanto a vocês, mas não acho sadio estarmos no meio desse conflito, vamos reagrupar aos demais e dar um fora daqui!”.
Eophain ciente de sua maior prioridade de proteger Thrommel, fala aos companheiros:
“Caro mestre Talglor, assim que assegurarmos o bem-estar de Thrommel, não pense que uma batalha nessas proporções passe despercebido. Se não nos precavermos, aqueles que invadem nos tomarão também como inimigos. Mesmo sem assumir lados, seremos obrigados a nos defender!
A COBRANÇA DE UMA DÍVIDA
O trio começa a mobilizar para regressar para onde deixaram Thrommel, Sandy e Dikstra. Quando como que por um estalo, Eophain ouve em sua mente uma voz.
“- Não tardou tanto quanto eu esperava Eophain Al Durkan, tal como lhes prometi, não lhe colocarei contra seus aliados, mas neste momento peço que cumpra sua palavra, ajude o meu povo contra os elfos de Sobanwych. Assim como você fez outrora, eles entraram em nosso território e afronta contra nossa integridade sem nada termos feito. Cumpra a sua palavra de homem do Oeste e defenda Stalmaer até que o último elfo seja escorraçado. Isso não é uma ordem, é um pedido de ajuda em troca das vidas que sua espada ceifou e com as quais não posso contar para defender minha vila. Isso feito, eu Lytta Neyd, a bruxa de Stalmaer o livro do débito para comigo e a escama de prata.”
Eophain não sentia compelido magicamente a atender o pedido dela. Ele tinha livre arbítrio sobre a decisão. E essa sensação ao mesmo tempo que era estranha, lhe era contraditória pois por toda a sua vida ele sempre sentiu um senso de dever até cego. Mas desde o Templo do Elemental Maligno, isso havia mudado.
Mantendo em mente a segurança do príncipe, Eophain esperava na primeira oportunidade, relatar para Thrommel o pedido de Lytta Neyd. Todos sabiam como ele havia conseguido sair da cadeia da cidade. Assim, o fato de não se sentir compelido a atender o pedido lhe causava estranheza. Ele sentia que deveria falar com o príncipe a respeito, antes mesmo de agir em prol ou ignorar o pedido da Bruxa de Stalmaer.
A Decisão de Eophain
Lytta lia todos os pensamentos de Eophain e vendo seu dualismo e necessidade de consultar o seu superior disse:
“- Que seja então, vá e garanta a segurança dos seus, mas feito isso venha cumprir a sua palavra. Sem a sua ajuda as chances de sermos massacrados é elevada e lhe garanto que se não cumprir com a sua palavra, ela de nada valerá para qualquer um que dela dependa: amigo ou inimigo. Você carrega um débito não quitado, pague protegendo a minha vila e nada mais haverá de dívida entre nós.”
Eophain ouviu em sua mente as palavras e correu com Gillius e Talglor para o local onde estava o restante do grupo. No caminho eles se veem em meio a um conflito inevitável entre licantropos e elfos. Buscando se defender da melhor forma possível eles respondem contra os ataques tanto dos elfos, bem como dos lobisomens e após perceberem a força dos heróis, eles passavam a evitá-los continuando peleja entre si.
O trio chegou até os estábulos onde deixaram Dikstra, Thrommel e Sandy e não os encontrou. Pelo contrário, era nítido que a refrega se alastrava com muito sangue e destruição pela área. Elfos conjuraram magias que queimavam os licantropos e outras magias aprisionavam os lobisomens ao solo. Aqueles licantropos que conseguiam chegar corpo a corpo aos elfos exibiam grande brutalidade e selvageria.
A Batalha
Diante do desparecimento do rei e das meninas, os anões e Eophain consideraram se dividir para encontrar os aliados, mas a sugestão logo foi descartada tamanho o caos instaurado. Seguiram juntos em busca de seus companheiros. Sem um rastreador na equipe e com o conflito acirrando cada vez mais, Talglor disse: “- Senhores, ficar mais tempo nesta vila nos colocará inevitavelmente em meio ao conflito, queiramos ou não!” E com isso, decidiram tomar um rumo para fora da vila.
Novos combates surgiram diante do trio e a defesa é a alternativa ordenada por Talglor. “- Se defendam da melhor forma e respondam com aço se a vida de vocês estiver em perigo!”
Seguindo essa estratégia, logo os inimigos perceberam que os heróis não queriam o conflito, não obstante a força superior, fez elfos e lobisomens se afastarem. Com isso, após um tempo Gillius, Talglor e Eophain estavam fora da vila. Eles ainda se afastaram por cerca de uma hora das cercanias, garantido que não encontrariam mais inimigos pelo caminho.
Tempos depois, em um casebre destruído, mas que oferecia um certo abrigo, Eophain se pronunciou:
“- Senhores, uma vez que vejo que estão em segurança, pretendo regressar a vila. Não poderia arriscar que, no intuito de me ajudar, colocassem suas vidas em risco. A condição para minha liberdade me prende ao bem-estar dos cidadãos da vila, ainda que sua natureza lupina e magica diga o contrário. Mas meu regresso não será de todo mal. Uma vez avançando no combate irei procurar pelos demais. Que Pelor os proteja enquanto adentro novamente a batalha. Até.”
A Palavra de um kensai
“- Espere Eophain!” Disse Gillius. “- O que você vai fazer regressando para aquele pandemônio? Aquela batalha nada tem a ver conosco e se envolver nessa peleja não nos dará qualquer resultado no que tange encontrar o corpo do dragão de prata.” Talglor continua: “- De que liberdade você se refere, a que votos você está preso, a quem e por qual motivo?”
Eophain gostaria muito de poder falar sobre o pedido da Bruxa de Stalmaer Lytta Neyd, mas lhe custaria um tempo precioso e consequências as quais ele não conseguiria prever.
Gillius segura Taglor que parecia querer falar algo, e apenas diz: “- Cuidado grande guerreiro.”
Eophain segue correndo para a vila e a logo na entrada se depara com dois licantropos feridos e acuados por um grupo de 6 elfos que os cerca a nível do solo com arcos, em uma clara cena de execução.
Eophain percebendo que os licantropos não teriam qualquer chance e em menor número, entende que o combate já estava finalizado. De modo furtivo, sem levantar a atenção dos elfos ele segue seu caminho, e apenas ouve o som de batalha terminando rapidamente. Ambos licantropos foram abatidos com velocidade pelos elfos.
Sangue Frio
Eophain não poderia saber, não tinha como. Uma vez na forma de licantropos, aquelas duas vítimas foram protegidas por ele uma vez. Eram os rhenos Miro e Ramirez. Fosse como fosse, não havia importância, a guerra produz consequências difíceis de se evitar, não seria a sua lâmina kensai que preveniria o fim destes. O que é irônico nessa trama, é apenas o fato de que a presença dele em meio a todo aquele caos, era justamente por ter defendido eles na manhã do dia anterior.
Ao percorrer o caminho até a torre de Lytta diversos embates ocorreram, contra elfos em sua grande maioria. Os licantropos na leitura de Eophain estavam em vantagem, fosse por conhecer o terreno ou por sua condição bestial. Eophain conseguia com sua sagacidade para combates identificar líderes da ofensiva élfica, dentre eles um elfo que com poder da magia da natureza. Seus feitiços não apenas neutralizava o movimento dos lobisomens com grossas raízes que os prendiam, mas também esmagava seus membros, estourando membros e ossos.
A Luta contra Aretusa
Sozinho Eophain avançou contra o druida. E ele notando a vinda rápida do guerreiro gritou em élfico “Prietus”! Uma lança de pedra com cerca de três metros jorrou da terra pontiaguda na direção do guerreiro. Com muita dificuldade o kensai conseguiu se esquivar parcialmente do ataque, mas seu braço esquerdo foi fortemente atingido lança de pedra. A conjuração custou a Aretusa a distância de segurança entre ele e Eophain e o kensai sabia o quanto cada rodada conta contra um conjurador e principalmente aquele elfo custava.
Um lobo se juntou ao confronto em favor do druida, provavelmente seu companheiro animal, e Eophain reavaliou a forma de combater, mas dois contra um, sempre seria uma desvantagem.
O arco descrito pela espada de Eophain cortou o druida na perna, depois ombro e na sequência cintura. Os cortes foram profundos e poderosos, tal como a perícia do kensai lhe garantia. O druida observou o guerreiro a sua frente e recuando cerca de um metro e meio, inicia uma conjuração, mas é frustrada quando recebe o ataque traiçoeiro de um lobisomem que espreitava furtivamente na retaguarda. A mordida no ombro do druida é firme e restringe os movimentos da sua vítima além de cancelar qualquer que fosse a magia que pretendesse invocar.
Flechas sibilaram vindo das árvores próximas e resvalam na poderosa proteção de Eophain sem lhe causar qualquer dano. O lobo às costas de Aretusa, soltou o druida quando sentiu as flechas atingirem-no com força. Com uma grande quantidade de sangue jorrando de seu braço Eophain se prepara para aproveitar a oportunidade, e colocar um fim à aquele perigoso combate.
Espada x Natureza
Eophain insiste com a mesma sequência de ataques contra o druida, desta vez, melhor preparado contra o kensai, dos três ataques desferidos, apenas o primeiro e o segundo têm êxito, e são suficientes para colocar o druida de joelho perante o kensai.
No momento seguinte, ciente da eminência de sua derrota, Aretusa toca uma árvore próxima e começar a proferir palavras intrincadas e mágicas, mas esse movimento abriu espaço a Eophain. Aproveitando a vulnerabilidade apresentada pelo inimigo, Eophain cravou a espada no esterno do druida, e o sangue lambeu cada centímetro da pele do druida, que olhou o kensai nos olhos e falando palavras ininteligíveis morreu logo em seguida.
Eophain não compreende élfico para entender o que foi dito, mas as palavras perdidas antes da morte do homem, foi “Prole maligna, vocês não chegarão a Sobanwhych…”
Findada a batalha, as flechas cessaram e Eophain concluiu que conseguiu derrotar uma das principais forças daquele assalto. Ele ouviu o som de um latido lupino e em seguida de pele sendo rasgada.
Eophain investiga o corpo do druida e encontra nele duas coisas que lhe chama a atenção. Um punhal muito belo de aparência ritualística, e um colar com crânios de animais de pequeno porte. Ele observou o licantropo que o ajudou e acenou positivamente.
Passado esse momento Eophain continua seu caminho e nota que é seguido pelos licantropos, mas não se importa, pelo contrário.
Proximidade do fim
Momentos após a saída da dupla, os elfos arqueiros se aproximam do corpo do druida morto e recolhem com respeito o líder da Ordem de Aglaeh. A batalha se encaminha para o fim e os elfos estão perdendo, morrendo aos borbotões e eles sabem disso. Um dos elfos, puxa uma flecha com uma espécie de concha na ponta, e quando a atira para o alto, ela libera um som alto, porém suave. Aquele era o sinal para os elfos abandonarem o ataque.
Eophain e o licantropo correm por entre as ruas e casas até a torre. É notória a derrota dos invasores élficos, há pouca resistência e os que encontram pelo caminho, são combatidos pelo aço perspicaz de Eophain e pela fúria vingativa do lobisomem. O kensai percebe poucos pontos de resistência pelos sons da batalha.
Em uma dada passagem Eophain nota elfos acuados sendo alvo da diversão de licantropos. Quatro dessas bestas mordem cada mãos e pés de um elfo deitado no solo e eles afastando-se, esticando e mordendo as extremidades dos membros de um elfo que ainda vive. No processo, mãos e pés se tornam massas disformes de carne e ossos.
Eophain também notou corpos de outros elfos mutilados na proximidade, alvos da mesma brincadeira perversa, enquanto três elfos desarmados e acuados aguardam a sua “vez” na execução dos licantropos. Eophain contabilizou os licantropos, eram sete ao todo. Eophain falou baixo para o licantropo que o acompanhava, como se disse mais para si mesmo: “Eu não permitirei esse tipo de situação. Até mesmo entre inimigos, deve-se haver respeito.”
A Lealdade sobre a maldade
O licantropo tenta segurar Eophain, mas ele o ignora (com sua força superior ao lobisomem, era uma tarefa fácil) e chegando perto do elfo moribundo, decepa a cabeça. Em um átimo, Eophain viu que os licantropos rangem os dentes e ameaçam avançar a qualquer momento, mas por alguma razão não o fazem. Eophain percebeu neles um respeito e superioridade que gera medo. Eophain retoma o seu caminho e para, ao pensar nos outros 3 elfos acuados. E ele tem certeza que os prisioneiros sofreriam assim que ele desse as costas e após respirar fundo, disse:
“- O que vou dizer aqui vale para todo e qualquer ser que se deleite com o sofrimento e tortura de outro. Independente da natureza opositora dos elfos, atitudes sádicas, explicitando o real caráter daqueles que torturam e se aproveitam da fragilidade do elfos, estes serão vistos por mim também como inimigos. Se quer dar um fim a eles, entregue-lhes armas e lutem com honra.”
“- Deem um fim digno a aqueles que já estão derrotados ou eu mesmo farei. Pouco me importa quantos vocês são, pois garanto que antes que a vida deixe meu corpo, terei levado muitos de vocês para o tumulo comigo!”
A cada entonação do kensai, havia a carga necessária para intimidar os outros licantropos, seja pelas palavras ou a real possibilidade tornar verdadeira a ira do guerreiro. Obedecendo, os licantropos recuam com o focinho baixo e se viram na direção dos elfos remanescentes, rangendo os dentes, salivando profusamente e exibindo as garras. E eles saltam sobre os elfos.
A cena é difícil retratar, carregada de uma violência desmedida.
Eophain fica até o final, talvez para se certificar que está feito. Essa é a face da guerra que poucos têm estômago para ver e conseguir superar. É sobre isso que há muito tempo Eophain vem alertando os seus companheiros. Estes que pensam que vive um conto de fadas. Essa é a realidade, nua, crua e visceral, sobre a qual ele tanto os adverte sem sucesso.
Nada resta dos elfos, após os licantropos refestelarem-se de seus corpos. Apenas massas disformes de ossos, carnes e tecido, é o pouco que pode se discernir do resultado.
Eophain retoma o caminho em direção a torre e para a sua surpresa, os licantropos à uma certa distância parecem acompanhá-lo.