Robert obteve o emprego de pajem de Lorde Brian pouco depois de Lafayette se mudar para Vila do Corvo no mês de Eleasis de 1368 CV. A princípio ele estava bastante satisfeito por servir o irmão do Barão Maximillian, um homem que lhe inspirava profunda admiração devido à sua nobreza e bravura, o que é comprovado pelo teor das primeiras missivas.

22 de Nightal de 1368 CV

Querido Irmão:

Após a indicação de nossa vizinha Virna, que trabalha na Torre Lancastenell faz muitos anos, consegui uma excelente posição como pajem de Lorde Brian! Segundo minhas contas, receberei pelo menos 300 peças de prata por ano! Você precisa conhecê-lo, Ette! Um verdadeiro cavalheiro, sempre gentil e educado com todos! Além disso, nunca retorna da Floresta da Terra sem abater alguma coisa! Venha me visitar o quanto antes! Temos muito que conversar!

Sempre seu,

Robert

08 de Alturiak de 1369 CV

Querido Irmão:

Hoje Lorde Brian levou Mary Ann novamente ao Frossen Innsjø, seu passeio favorito. Engraçado como as outras crianças se divertem na neve e ela apenas contempla o horizonte com aquele olhar estranho, que causa calafrios… Não sei se Lorde Brian sente a mesma coisa. Tenho medo de perguntar… Afinal de contas, ele ama a criança como se fosse sua própria filha. Não vou amolar meu mestre com perguntas tolas…

Sempre seu,

Robert

No entanto, após o Festival de Inverno de 1370 CV as cartas tornaram-se cada vez mais estranhas. Alguma coisa claramente perturbou o rapaz e isso transparece no teor de suas missivas.

17 de Uktar de 1370 CV

Querido Irmão:

Sei que não tenho escrito tanto como deveria, mas meus pesadelos pioraram bastante e eu não consigo me concentrar em nada. Todas as noites esse tormento se repete! Não sei mais o que fazer! Vejo de novo o gelo do lago rachando. As crianças gritam enquanto afundam para a morte. Lorde Brian e os pais se atiram na água, desesperados. Mas ela não. Seus olhos são terríveis… Insondáveis como os abismos de escuridão que separam as estrelas no céu. O gelo não rachou debaixo dos seus pés. Nenhuma lágrima. Nenhuma emoção. Tão fria quanto a água do lago… Era como se já soubesse o que iria acontecer. E havia mais alguém lá, espreitando na floresta. Eu sei! Mas eles não fizeram nada. Deixaram acontecer. Por quê? Às vezes sinto-me perseguido por esses estranhos fantasmas… O que eles querem? O que estão esperando? Acho que estou enlouquecendo Ette! E depois ainda perdemos Tianna em Mirtul. A torre está de luto, mas o sangue dela escorrerá para sempre pelas escarpas da montanha. Dizem que minha amada amiga caiu, desequilibrada pelo vento. Mas eu sei a verdade. E ela sabia também…

Sempre seu,

Robert

A última carta escrita por Robert é um verdadeiro enigma… Embora o alfabeto utilizado pelo pajem seja familiar ao leitor, as palavras foram lançadas sobre o pergaminho em exóticos padrões espiralados, que parecem se mover quando o texto é contemplado por muito tempo. Além disso, o simples esforço de leitura já provoca uma leve dor de cabeça no leitor, bem como a desagradável sensação de estar escutando uma espécie de cântico sussurrado a uma distância incomensurável.

15 de Uktar de 1372 CV

A meio caminho da mais longa noite do ano o Olho de Beshaba ofuscará as gemas brilhantes da Coroa do Norte, reluzindo com a fúria escarlate do Senhor das Feras por um átimo de Eternidade. Os amplos salões do castelo da Senhora dos Mistérios serão preenchidos pela sua luz soturna, revelando os caminhos secretos por onde a Ânfora Sagrada deverá ser conduzida. As Adagas Gêmeas guiarão o Artífice até a passagem ancestral que leva ao terror inominável de N’landroshien, onde o que foi Esquecido será lembrado e depois lamentado e odiado pelos séculos dos séculos, até que a luz das estrelas se apague e a Donzela da Lua e a Senhora da Perda sejam de novo uma só essência. Nesta hora sombria a esperança reside nas Flechas dos Deuses. Elas indicarão o ponto onde o sangue do Deus Flagelado foi derramado pela primeira vez. Lá o mundo poderá ser redimido por um preço terrível, embora a Ânfora Sagrada ressurja a cada volta cruel da Roda do Destino.

Adeus, amado irmão…