Esse fragmento de texto foi extraído diretamente das páginas do Diário de Sandy Benelovoice (uma narrativa confeccionada por Patrick Nascimento), seu conteúdo reúne em aproximadamente 52 páginas de papiro, as experiências vividas pela Paladina de Heironeous – Sandy Benelovoice e sua montaria, o Dragonado Silvertite. Essa é uma pequena parte, não menos importante de todo seu conteúdo literário e narra a épica batalha de um grupo de heróis leais à causas benignas em uma terra que está sendo assolada pelas mazelas de um deus de nome Iuz. Doravante outros textos desse rico diário serão publicados.
Do lombo de seu dragonado, Sandy contemplou o tímido alvorecer que lentamente se projetou sobre a cidade em chamas e se encheu de esperança, pois para ela aquilo era um sinal de que as trevas estavam sendo deixadas para trás e a luz novamente se faria presente eliminando a maldade daqueles que se interpunham entre os desígnios daqueles que queriam salvar Hommlet.
Percebendo que sua montaria se dirigiu rumo ao celeiro, que podia ser visto de longe por eles, Benelovoice falou:
“- Espero que consigamos chegar a tempo Silvertite. Aguentem firme!”
Em seu íntimo ela esperava que Gatts e seus aliados tivessem sobrepujado a besta e sua chegada seria meramente para ajuda-los a retornar ao Templo de Santo Cuthbert, como estive enganada…
Mas um pressentimento ruim lhe permeou a cabeça, indicando que o pior poderia ter ocorrido e que a situação poderia ser mais grave do que ela havia imaginado. Seus pensamentos foram interrompidos pela fala grave de sua montaria sagrada, que lhe disse:
“- Sandy, sei exatamente onde estão seus amigos e irromperemos nessa direção a toda a carga. Peço que se concentre neles e me deixe.”
Silvertite era dotada de uma sabedoria que por inúmeras vezes surpreendeu Sandy, a paladina mantinha o dragonado consigo desde quando este era apenas um ovo, durante uma aventura nas planícies de Minas Carnalion, e o aqueceu em seu ventre preso a panos, quando o frio do inverno chegou em Furyondy.
Relutante a essa ideia, Benelovoice respondeu:
“- Silvertite, percebo que uma vontade maior se apossou de ti, mas não haverá sacrifício desnecessário. Nossos destinos seguirão juntos!”
Ao finalizar sua fala, as duas começaram a descer, em investida, rumo ao celeiro e ao se aproximarem, perceberam que trevas se interpunham e impediam uma visão, contudo, elas começaram a planar se aproximando lentamente e possibilitando com a manobra aérea uma clara visão do caminho que tinham que seguir.
Destruindo e rompendo a superfície de madeira e palha, que se estilhaçou com a violência da pancada do dragonado, Silvertite desceu até a larga câmara onde um combate estava em vias de terminar com um desfecho desfavorável para a falange heroica que havia se interposto no caminho dos cultistas de Tharizdun. Para as recém-chegadas, que avistaram o Olho Tirano e seus asseclas, enquanto viram os únicos combatentes que ainda lhes faziam frente serem castigados violentamente, Raios óticos eram disparados em diversas direções, dirigidos malignamente aos seus companheiros: Nybas conseguiu habilmente esquivar de cada um dos três raio, enquanto Eophain conseguiu se esquivar de dois, mas foi atingido por um raio que lhe abriu fortes chagas causticantes, Lázarus já tombado, foi atingido por um e com isso para a criatura, a certeza de morte certa e o vampiro Aescriel, outrora membro do grupo, cujos os raios, apesar de terem lhe atingido, não lhe causaram nada.
Enquanto avançou num desesperado resgate aos combalidos guerreiros, Sandy e Silvertite lançaram-se contra a fera num rápido e possante golpe que por um triz não a atingiu. O Observador então as gargalhadas, desferiu todos os seus raios contra a paladina e sua montaria sagrada, para sua surpresa e medo, nenhum dos raios lhe surtiu efeito em ambas. Foi quando a aberração caiu em si, percebeu e falou em direção a paladina, mas de uma forma que parecia querer se comunicar com outra pessoa:
“Ora, ora, se não é um velho inimigo que surgiu! Exórdios?! Está com uma nova aparência em um novo portador, mas sua habilidade é inconfundível. Depois de matá-la te arrancarei dessa carcaça e a destruirei de uma vez por todas!”
Neste instante Silvertite lhe disse:
“- Me deixe e salve seus companheiros, eu ganharei tempo para vocês! Vá, pois Heironeous está comigo!”
Ao que a paladina retrucou relutante, enquanto conjurou com uma prece o poder da cura pelas mãos:
“- Silvertite, não poderei protege-la no momento em que desmontar, não se force demais pois cada vida aqui conta e a sua também, saia daqui no exato momento em que partirmos e que Heironeous a proteja e abençoe por sua lealdade e coragem amiga!”
Triste, por saber que poderia estar sacrificando a única criatura que lhe foi completamente leal e nunca a havia abandonado em toda a sua trajetória, naquela missão, Sandy seguiu o comando dado por Silvertite, então pulou da sela de sua montaria rumo ao local onde estavam os últimos combatentes, entretanto, a besta de Tharizdun proferiu:
“- Saiba que não permitirei que ninguém fuja daqui!”
Enquanto avançou na direção de seus aliados ela pode ver todos os raios da criatura voltados contra Eophain e Nybas, que apesar de demonstrarem uma capacidade de esquiva fora do normal para um homem, não obtiveram êxito em escaparem dos raios mais mortíferos. Nybas Tyrangur foi desintegrado e Eophain Al’Durkan tombou morto próximo aos corpos de Lázarus e Pyrus, que lhe pareciam desacordados. Horrorizada com a maldade e letalidade de Malba Tarran, O Olho Ancião, ela percebeu que Gatts não estava ali, o que lhe trazia a dúvida da alegria por ele não estar naquele local ou a tristeza de sua morte por desintegração, como havia sido com Nybas. Ela também notou que com sua investida inicial havia conseguido ganhar tempo para que Aescriel chegasse até Erzurel e depositou nele a esperança de salvar o clérigo de Pelor, reuniu os corpos dos três próximos a si e usou o cubo dado pelo arcano vampiro, transportando a Eophain e Lázarus para o Templo de Santo Cuthbert, num piscar de olhos e aparecendo sob a cúpula central do templo, sob a observância estupefata de Ydei, a irmã de Elmo.
Não muito longe do celeiro, Gatts recobrou sua sanidade da loucura que lhe foi imposta pelo pânico que sentiu do Olho Tirano e percebeu que havia pouco a se fazer, enquanto contemplou a cidade ainda em chamas, viu o alvorecer surgindo nos céus e pensou nas alternativas possíveis naquele momento. Na euforia desesperada de medo e pânico largou sua estimada espada, a Lâmina dos Moondown para trás, no local onde se deparou contra o inimigo mais poderoso com qual lutou em sua vida, sua espada estava perdida.
Nos ainda escuros charcos próximos a Casa do Fosso, em meio a névoa, Erzurel Grayson se deu conta de como havia escapado da morte certa. O mago vampiro Aescriel estava diante dele, o clérigo ainda se recuperava do medo que lhe havia sido imposto pelo Observador, cuja imagem de horror e assombroso poder lhe ficaram impressas em sua memória. O vampiro, quebrou o silêncio dizendo:
“A batalha contra Malba Tahan foi perdida e muitos pereceram nela. Uma pena clérigo, mas a cidade foi tomada! Nós perdemos! Aconselho a reunir os remanescentes de seu grupo e partir para Nulb, para aonde Lareth partiu. E onde deverão estar os líderes dos cultistas.”
O Clérigo de Pelor retrucou:
“-E houveram sobreviventes?”
O morto-vivo então lhe devolveu em resposta:
“- Sim, miraculosamente houveram sim. Gatts Nalambar, o cavaleiro arcano conseguiu fugir e a paladina Sandy Benelovoice, nova portadora de Exórdios apareceu no último momento, todavia acredito que apenas para resgatar cadáveres. Pelo menos ela nos deu a chance de fugir!”
Grayson perguntou ao arcano, o motivo de tê-lo salvado, o que ele respondeu:
“- Por conta da segunda chance que você me deu. Saiba Erzurel, que entre a luz e as trevas existem muitos nuances e nem sempre aqueles que seguem o bem praticam bons atos e muito menos aqueles que seguem o mal fazem malfazejos, sempre pode existir um meio termo.”
Estendendo sua mão para um cumprimento cordial, enquanto sua mente ainda afastava os temores vividos, traduzindo-se num sorriso amargo, Erzurel então lhe devolveu:
“- Pela luz de Pelor! Vejo que o voto de confiança que lhe dei foi bem atribuído. E lhe digo mais, caso queira encontrar uma redenção, estarei disponível para ajuda-lo nisso!”
Diante da inocência do ato inesperado, Aescriel perscrutou o clérigo por um breve momento e com sua mão enluvada apertou a mão dele, fechando o cumprimento e percebeu que na penumbra, havia uma outra figura tão sinistra quanto o arcano vampiro que o salvou, quase imperceptível outrora, mas que se revelou lentamente, era um outro vampiro. Aescriel voltou para a sombria figura e começou a andar em sua direção, sumindo na névoa, ele disse por fim, com sua voz fria:
“- Às vezes, a ajuda pode vir de onde menos se espera. Cuide-se Clérigo de Pelor!”
Quando as duas figuras desapareceram, Erzurel observou que o sol voltava a raiar, o que lhe encheu de esperança pois o bem não havia sido totalmente derrotado e um novo dia, repleto de novas possibilidades havia surgido. Ele fez uma prece a sua divindade e iniciou seu caminho de volta para Hommlet, sob a luz de um sol que lhe pareceu frio.
Atônita com as perdas de grandes heróis e baluartes do bem que lutaram contra o Olho Tirano, Benelovoice olhou a volta. Ela sabia que estava no Templo de St. Cuthbert e que lá fora, as forças do mal ainda estavam devastando Hommlet. Ela contemplou o portão de saída do templo longamente, enquanto agarrou com força o cabo de sua espada…