Adornado com belas iluminuras e escrito com uma caligrafia clara e elegante, o Livro de St. Sollars é bastante conhecido nas Terras Geladas por descrever o duplo martírio do santo, bem como condensar os principais preceitos e dogmas de sua fé.
CAPÍTULO I – O SUPLÍCIO DO BEM AVENTURADO
Aprisionado pelo Duque Ivan Vasiliev por incitar uma revolta de camponeses famintos contra seu cruel suserano, St. Sollars foi executado em praça pública após um julgamento sumário e humilhante no qual não lhe foi concedido sequer o direito de defesa. Contudo, antes de queimá-lo vivo, o Duque Ivan submeteu seu prisioneiro a seis suplícios diferentes que eram anunciados à população pelas badaladas de um sino.
Primeiro, St. Sollars teve de carregar sozinho a pesada estaca na qual ia ser imolado até o local da execução. Depois disso, recebeu cem chibatadas nas costas, que o transformaram em uma massa informe de carne, sangue e pele esfolada. Em seguida, suas mãos e seus pés foram amputados. Não satisfeito com o sofrimento de seu inimigo, Ivan ordenou que os testículos e o membro viril de St. Sollars fossem arrancados e atirados aos cães. Mesmo diante de um homem quase morto, o duque ainda determinou que seus olhos fossem cauterizados com ferros em brasa e que sua língua fosse decepada. Somente então foi permitido à St. Sollars morrer lentamente em meio às chamas.
Entretanto, no dia seguinte ele havia ressurgido das próprias cinzas e novamente incitava a população a se levantar contra o tirano que governava aquelas terras. Não demorou muito para St. Sollars fosse capturado e executado outra vez, exatamente da mesma maneira. Mas ele não morreu em vão. Seu poderoso exemplo encheu os camponeses de esperança e júbilo. Após alguns meses de uma sangrenta guerra civil Ivan finalmente foi deposto.