Audiências | Heróis do Pacto

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Olá aventureiros, eis que lhes apresento mais um artigo da linha de histórias dos Heróis do Pacto. Este artigo compreende uma série de interpretações ocorridas entre os meses de julho e agosto de 2020, e representam a audiência que cada personagem teve com o Rei de Furyondy – Thrommel IV.

Jogadores:

Diogo Coelho
Patrick Nascimento
Bruno Simões

Esse é um texto original escrito por Bruno de Brito e revisado por Bruno Simões e Patrick Nascimento.

Acompanhe a série de histórias desta confraria de heróis. Esse artigo é uma continuação da história, e o último texto você pode ler aqui.

Chendl

24 de Preparos de 592CY

GATTS

Dois dias depois, é a manhã de um novo dia, e Gatts recebe um mensageiro real que o conduz a presença do rei. O local é o mesmo salão real, no entanto somente estão presentes o Rei e a guarda real (cerca de 40 cavaleiros). O Rei observa o guerreiro mago com o punho apoiando o queixo, expressa um curto sorriso e diz:

“Você pediu por esta audiência, e eu a concedo”.

Gatts sentia-se muito bem, as coisas estavam se enquadrando novamente, e em todos os relatos que teve de Furyondy sempre lhe passaram a impressão de caos e destruição. Mas ver Chendl vívida e sendo reduto de um porto seguro para o povo do norte lhe confortava.

“- Majestade, quero poder ajudar o reino na guerra que travamos contra o norte e sei o quão difícil tem sido a aquisição de recursos para esse propósito. Por este motivo, quero doar a quantia de 35.000 moedas de ouro ao reino, com intuito de subsidiar a luta contra o Velho.”

“- Seu gesto é de grande importância e patriotismo, Gatts. Não nego que encontrei as reservas do tesouro real extremamente deficitárias em função do estado permanente de guerra. A exploração de minério de ferro, agricultura e outros riquezas que tanto foram nossa marca registrada. Não negarei a doação e como reconhecimento pelo ato, declaro aqui que você é parte integrante do governo do reino. A partir de hoje, lhes concedo o título de Duque de Baranford.”

“- Fico agradecido, majestade.”

KALIN

24 de Preparos de 592CY

Dois dias depois, à tarde, após o almoço, Kalin recebe um mensageiro real que o conduz a presença do rei. O local é o mesmo salão real, no entanto somente estão presentes o Rei e a guarda real (cerca de 40 cavaleiros). O Rei lhe observa com o punho apoiando o queixo, expressa um curto sorriso e diz:

“Você pediu por esta audiência, e eu a concedo”.

Kalin faz uma reverência respeitosa.

“- Primeiramente, gostaria de falar livremente Majestade, se for possível”.

Thrommel observa o sacerdote longamente, e depois assente.

“- Acredito que seja de seu conhecimento que nunca fui designado para ajudar em vosso salvamento, e vossa restituição ao lugar de direito. Todas as percepções que tenho são das conversas que tive com Theros Gatts, Sandy Benelovoice e Eophain Al’Durkan. E o respeito e admiração destes, me fizeram assumir que valeu a pena o esforço de todos nesse sentido, porém, já diria um antigo sacerdote em Pontyrel: não há fé sem obra. Eu lhe respeito, Vossa Majestade, mas minha admiração por você florescerá de acordo com o bem que fizer a Furyondy e os demais reinos. Claro que auxiliarei com o que estiver ao meu alcance. Além disso, aceitei o convite de vir até Chendl por curiosidade. A paladina Benelovoice me relatou o que ocorreu quando encontraram o dragão Reynard, e a pergunta que ecoa em meus pensamentos não pode ser mais contida: o que é você?”

“- Nenhum mortal está preparado para ver o que realmente sou, uma centelha do santíssimo, uma fração do divino Espírito de Heironeous. Mas assim como Gatts e Sandy testemunharam, você também é digno de sê-lo.”

Greyhawk_Thrommel-497x600 Aurora dos Conflitos Greyhawk Pathfinder 2ª Edição
O Dragão Celestial

Kalin se espanta, e após este breve momento, o sacerdote se recompõe.

“- Obrigado pela confiança. Agora que fomos formalmente apresentados, gostaria de falar sobre os Reinos do Pacto.”

“- Nos últimos tempos, caminhei entre Kron, Verbobonc e a orla noroeste do Nyr Dyv, e criamos uma tênue linha de aliados que podem ajudar nesta campanha, acredito que eles ficarão felizes em nos ajudar visto que muito do mal que eles combateram conosco, tratava-se de feitorias malignas dos servos de Iuz e Vecna. Por fim, majestade, suplico que não deixe a Terra dos Escudos por último. Fui escravizado por três longos anos naquela região e presenciei muito sofrimento, dor e miséria… Aquele povo está prestes a abandonar suas esperanças em benefício da tirania do Império de Iuz, mas confio que juntos, seremos capazes de resgatá-los”. Kalin se ajoelha com uma das pernas, de forma respeitosa e sua voz, ao falar da Terra dos Escudos, fica levemente embargada, lembrando dos horrores que passou lá.

“- A Terra dos Escudos é uma parede que protege o leste do Furyondy e foi abandonada pelos seus principais parceiros. Aquela terra ancestral tornará ser livre e governada pela vontade do seu povo.”

Seguindo, Thrommel diz:

“- Tenho planos para o futuro daquela região, após vencermos Iuz, com fé em Heironeous, o sol tornará brilhar sobre aquela região e quero contar com a sua força e mais ainda de seu clero. Para isso, duas regiões precisam ser “conquistadas” se me entende bem: Urnst e Verbobonc. Eles nos darão o apoio que precisamos. Posso contar com você?”

“- Urnst é minha terra natal, Majestade, e certamente temos em comum o desejo de derrotar Iuz. Sim, pode contar comigo. Sobre Verbobonc, tenho informações que podem ser de grande valia, e certamente o clero de Pelor está com um olhar próximo a esta região, dado o fechamento e confisco do Templo da Flor do Sol.

Ele cruza os dedos com notável interesse. ” – Fale-me sobre tudo que ocorreu ali.”

Kalin passa as horas seguintes detalhando as passagens sobre Verbobonc, o Tutelado, Reymend, São Cuthbert e os Sete Hezrou de Vecna.

“- Todas essas informações são valiosas e no seu devido momento, serão importantes para quando o plano estiver pronto. Tire esses dias para descansar, colocar as ideias e projetos no eixo, e dentro em breve falaremos todos.”

Antes de encerrar a audiência Kalin aproveitou que estava falando de Verbobonc e emendou: “- Gostaria de endereçar um último assunto, Majestade, sobre Eophain”.

“- Acho que houve uma confusão sobre minha relação com o guerreiro: como pude explicitar, as informações que ele passou para Regis De La Frank culminaram em minha prisão e no fechamento do templo. Diante disso, não posso considerá-lo um amigo, mas isso não o faz menos merecedor do perdão de Pelor. Portanto, peço seu conselho e autorização para seguir com os rituais em Greylode. Quero que Eophain contemple o que perdeu e que entenda essa chance como um recomeço, que passará pela correção de todos esses erros cometidos. Para tal, gostaria de sua autorização, e de sua percepção perante a isso.”

“- Eu não tenho poder para autorizar ou não, o regresso de Eophain. Ele morreu como um guerreiro de Furyondy e no momento que ele retornar a vida será destituído de todas as honras de um, seja aqui, ou em Greylode. Como bem pontuado por vocês mesmos, este homem não tem família de sangue, posto que coloca vocês como únicos reclamantes pela sua condição. Você pediu meu conselho e eu vos concederei, como prova de meu afeto e respeito. O espírito de Eophain ainda é muito jovem, e terá dificuldade em compreender o seu papel e importância no mundo. Como consequência, ele poderá ao longo do tempo decidir escolher um lado menos pesado que a luz do que é bom. Isso ocorreu ao Hextor, há milhares de anos, e até hoje me pergunto, se nossa mãe não tivesse sido tão misericordiosa, o resultado haveria sido diferente. Eu não tenho resposta para isso, assim como neste caso, vocês não também possuem. O arbítrio é o maior poder dos seres pensantes. Rogo, que de fato, as lições aprendidas e que ainda o serão, possam ensinar a Eophain ser um homem melhor.”

” – Em que se pese sobre o seu regresso, de novo, talvez seja um tributo, uma chance, mas que somente vocês, poderão dar a ele. Pelor não lhe cobraria responsabilidades sobre esse ato, eu julgo, considerando que Heironeous também não cobraria. Tudo é uma questão de fé, nos homens, nos deuses, na esperança de um futuro melhor, compreende? Caso coloque para Eophain o que sucederá a ele no pós-morte, ou seja, na volta a vida, ele prefira a morte. E você entenderá que talvez seja melhor assim. No entanto, se o questionamento sobre seu regresso transcender essas questões e focar no que ele pode fazer por um mundo melhor, ele aceite pagar pelos seus erros e buscar ser mais sábio, junto a você, ou a Sandy, Gatts e outros que temos ao nosso lado, Pyrus, Erzurel, Dikstra, Draig, Gillius, Talglor… Compreende?”

“- Todos vocês têm algo em comum, algo que verdadeiramente é bom e liga tudo, faz tudo ter sentido. É preciso saber, se existe em Eophain, e, caso não haja, se ele estaria disposto a desenvolver. Nada é bom sempre, ou para sempre, muito menos, mal. Palavras do sábio Rao. Afirmo-lhes por fim, que se deseja aprender o ritual de Chamar Espírito, a igreja lhe proverá o conhecimento, como um gesto de meu mais estimado respeito por você. Mas não os recursos, humanos ou materiais.”

“- Até mais, Kalin Orochi.”

“- Obrigado, Majestade.”

Kalin faz uma reverência e deixa o salão real.

SANDY

24 de Preparos de 592CY

Dois dias depois, já de noite, Sandy recebe um mensageiro real que lhe conduz a presença do Rei. O local é o mesmo salão real, no entanto somente estão presentes o Rei e a guarda real (cerca de 40 cavaleiros).

O Rei lhe observa com o punho apoiando o queixo, expressa um curto sorriso e diz:

“- Você pediu por esta audiência, e eu a concedo.”

A paladina chega a presença do rei vestida com uma bela roupa de cortesã – uma calça de couro marrom, com bordados laterais azuis, um camisão branco de seda, com uma leve abertura para exibir seu símbolo sagrado – Exórdius, uma jaqueta de couro marrom (que carrega bordado os brasões de Furyond nas costas, o posto de capitã no ombro direito e o brasão dos Benelovoice no ombro esquerdo), por cima da camisa para tentar, em vão, esconder a beleza de seu busto) e um cinto para prender a calça, além um bracelete de prata obtido em aventuras e brincos do mesmo material para combinarem. Essa e outras roupas, ela adquiriu em Chendl, na primeira oportunidade que teve para ir às compras.

Aliada a bela roupagem, ela porta a Capa do Saltimbanco, presente dado pelo Rei, para agradá-lo, e sua linda Tiara da Persuasão, tornando a mulher um deslumbre na corte. Seus cabelos, agora cortados até a altura do pescoço, já exibem mais fios avermelhados – uma gentileza do cortesão que os cortou com muito esmero. Os guardas se dividem na dura tarefa de manter a atenção em seu soberano e tentar desviá-la da mulher que ali se encontra, apesar de muitos ali já serem treinados e acostumados com a presença dos mais cativantes paladinos do reino.

Ao chegar, se curvando, em sinal de reverencia perante o Rei Thrommel, Sandy Exórdius Benelovoice, após o cumprimento, se ergue e com um sorriso de satisfação. Após cumprimentar o Rei, ela dirige reverências aos guardas em ambos os lados e os abençoa por guardarem o Rei, e enfim dizendo para Thrommel: “– Vossa Alteza, que Heironeous o abençoe por sua bondade em encontrar um tempo para atender esta serva! Começo minha petição, rogando a nosso bom e justo Pai do Heróis que lhe conceda um longo e honrado reinado com muita saúde, sucesso e sabedoria para vencer as privações que o Reino sofreu e triunfar perante todos os males que têm assolado nossas terras e de nossos bons vizinhos! No que precisar, reafirmo que tem a sua disposição meu machado, minha mente e meu coração (quando fala coração, ela ruboriza), para fazer cumprir os justos desejos do Reino dos Cavaleiros!”

“- Em tempo, conforme já havia dito a Vossa Alteza, vim das Fronteiras do Norte, como capitã de nossas forças na Região, a mando de nossos comandantes, entre eles, Lady Justine Misdiff para cumprir a cruzada de encontra-lo, entroná-lo e levar de volta ao Norte os aportes necessários para mantermos nossas ações naquele lugar, e nisso lá se foram por volta de pouco mais do que nove meses de atuação. Sei que tem muitos assuntos para deliberar majestade, mas rogo para que, se possível e julgar justo e oportuno, atenda a nossas necessidades. Nossos homens e mulheres sangram por este Reino e precisam ser mantidos a todos o custo! O outro pedido, é de certa forma pessoal, mas não o peço para mim: meu parente Theros Gatts Nalambar descobriu o amor por uma senhora chamada Caleb Menge, contudo essa mulher é casada com um tipo que não lhe é merecedor, segundo relatos que obtive, e diante disso lhe peço, como nosso soberano e autoridade plenamente capaz, que cancele este casamento e se for de intenção de ambos, celebre esse novo enlace!” A paladina novamente se curva e, enquanto curvada complementa: “– No mais, esta humilde paladina pede para si apenas que, se julgar pertinente, atenda esses pedidos e proteja o Reino e seus súditos sob o manto de Heironeous, Pai de Todos os Heróis!” – Sandy se mantem curvada, com a cabeça abaixada, aguardando a fala de seu Rei.

Ele ouve, e Sandy percebe anuência nas sutis expressões de seu rosto. Fruto de um alinhamento sobrenatural que existe entre eles, mas algo perturba a paladina.

“- O norte será nossa principal atenção. Iuz ascendeu à divindade neste plano, e as duas únicas opções que lhe restarão após sua derrota, é descer ao abismo para comandar suas hostes de lá, ou morrer como um mortal diante do machado do Santíssimo. Com relação ao segundo pedido, a jurisdição de Furyondy não abraça o Tutelado de Verbobonc, que está sob o comando do clero de São Cuthbert. Foi sobre as bênçãos D’ele que o matrimônio foi firmado, e naquele momento, Caleb Mengue o fez de livre e espontânea vontade. Desta forma, não posso interferir no seu arbítrio. Caso ela asile-se em nossas terras, abdicando de sua pátria e origens, poderá ser nulo o efeito do matrimônio firmado em Reymend, e ela será livre para fazer suas escolhas neste solo, mas restrita em termos de casar-se sobre as bênçãos de Heironeous. Espero que compreenda.”

Ao final da fala do Rei, quando se preparava para respondê-lo, de repente, Sandy ouve uma voz familiar que a chama: “- Exórdius! Sandy!” Sandy ao erguer sua cabeça tem uma visão: a nítida presença de Nybas Tyrangur, comandante de armas das forças do Reino, um homem moreno, altivo, de olhar sereno e gentil nos momentos de descanso. Ela o vê ao lado de Thrommel, sorridente, como nunca vira antes. Benelovoice se levanta de rompante, acreditando que o homem estava realmente ali – o que faz Thrommel olhar para seu lado direito em estranhamento. A paladina percebe algo estranho, pois Nybas apesar de seu belo sorriso, exibe lágrimas que escorrem por seu rosto, lágrimas de sangue, que denotam uma profunda tristeza.

A visão do homem se desvanece lentamente diante da mulher guerreira, que sente um profundo vazio em seu estômago, uma profunda dor em seu coração, e um arrepio que se precipita de sua cabeça e se espalha por todo seu corpo. Ela dá três passos, inutilmente, em direção da visagem, com a mão estendida, como se quisesse pegar a mão de Tyrangur, igualmente estendida numa espécie de súplica à Sandy. Thrommel pressentindo o que viria, corre de seu trono para socorrer a amiga, pois percebe a poderosa mulher – capaz de derrotar dragões e terríveis aberrações, empalidecendo e aparentemente fraquejando em suas passadas. O Rei ampara Sandy no exato momento de sua queda, apenas impedindo que a mulher batesse com a cabeça no chão frio da sala do trono.

Thrommel, chega a ouvir Benelovoice murmurar num sussurro, como numa súplica, antes de apagar completamente: “- Justo Heironeus!! Esse homem não! Por deus! Este homem não!” – A paladina tinha ouvido o breve relato de Gatts, mas até aquele momento, custava acreditar que teria que lidar com uma das pessoas que mais admirava e estimava, seu amor platônico, Nybas Tyrangur. Ela sabia que no mundo de Greyhawk, numa guerra, havia vitórias e derrotas a serem confrontadas, mas ela estaria obstinada a trazer aquele homem de volta ao lado e de seu Rei, de seu primo, ao lado dela.

Algum tempo depois, a paladina desperta. Está deitada em uma cama simples, com uma janela aberta de onde entra uma brisa fresca e suave. Ao seu lado, segurando a sua mão, está o Rei. O cômodo é simples, mas claramente é parte do castelo.

“- Sim… Nybas…. Erzurel paga pelo seu erro, e sua penitência vem lhe cobrando elevado preço. Mas não reverte a condição de Tyrangur. Ouça-me Sandy, por mais importante que seja neste momento intervir sobre o estado dele, não faremos isso. Há um plano perigosamente audacioso sendo engendrado por Vecna, Iuz e Tharizdum. Precisamos frustrar esses estratagemas. Temos São Cuthbert ao nosso lado através do clero em Verbobonc, mas precisamos agir com unidade e precisão. Sinto sobre Nybas, mas ele haverá de esperar.”

“- Me entende?”

A Titã de Heironeous, recobrando sua consciência, lembra de seu último instante, com o horror da visão de algo que seria um espectro de Nybas – com um olhar frio e morto. Lentamente entre a fantasia da visagem e a realidade que ali se desenha, como uma criança que tenta afastar uma visagem maligna, instintivamente ela abraçou Thrommel, se aconchegando em seus braços, como se estivesse abraçando seu pai Sauber, ou seu tio Jandor, nos momentos em que tinha pesadelos.

Nesse instante, Benelovoice levanta sua cabeça lentamente, e de forma sensual, sua boca se aproxima perigosamente da do Rei, então ela responde com voz fraca e acolhedora: “- Sim meu amigo, meu Soberano, meu deus, meu amor!” – Uma miríade de pensamentos e sentimentos fortes e confusos atordoam a paladina, ela ruboriza. Tomando consciência da impertinência de seu ato, ela repele o abraço, se afasta, levanta do leito com energia e rapidez, vai até a janela do quarto para tomar ar e fala, de costas para Thrommel: “- Preciso de uma penitência! Preciso de uma missão, Tom! Não posso ficar na Corte, essa vida não é para mim! Apenas em missão posso me entregar de corpo e alma a nossa causa e evitar pensamentos que me desviem!”

A mulher guerreira continua: – “Enquanto aguardo, ficarei orando, meditando, entendendo mais Exórdius e o que sinto! Muita coisa aconteceu comigo, e em prol do Bem Maior, deixei de pensar nas coisas que me abalaram nesses meses de jornada para apenas focar nas missões que se desvelavam a nossa frente, numa espiral insana de ações e reações!”

Thrommel, sentado a cama, sem reação, ouviu a voz da guerreira sagrada embargar e percebe que ela está chorando. Sandy continuou, agora nervosamente: “– O que vi no Norte não é para pessoas comuns! Minhas mortes – foram duas vezes, e o que elas me permitiram enxergar, mexeram e ainda mexem comigo quando penso nisso!” – Sandy soluça em choro e prossegue: “– A minha falha em protegê-lo do estratagema do lich, fato que quase ceifou sua centelha e causou minha ruína, ainda me assombram! O olhar de desconfiança de Gatts, que não é mais o mesmo comigo, apesar de eu o ser com ele!” – A paladina chora copiosamente e após fazer força, para continuar falando, diz: “- A morte de Nybas diante de meus olhos pelas mãos de um amigo, inocente e tolo!” – se ajoelha, segurando no parapeito da janela, enquanto se encolhe em choro, e continua: “- O fantasma da lembrança de todos aqueles que pereceram para permitirem nosso sucesso – lembrando daqueles que morreram em Hommlet, para Borgón e Malba Tahan, além de outros. A partida de Silvertite para ter descendentes, também mexeu comigo. E por fim, o repentino retorno de meu pai, Sauber, que supostamente seria um emissário de Vecna, senão o próprio receptáculo dele. Encolhida, em posição quase fetal, a mulher para de chorar, abaixa a cabeça e diz: “- Por Heironeus! Sua Titã, não passa de uma pequena. Nunca me senti tão pouco heroica! Tão pequenina, tão frágil, tão desprezível! Mas precisava desabafar! Iria explodir se não o fizesse!”

De repente, Sandy para de falar e se contém, se ergue, se apruma, com o rosto enrubescido e inchado pelo choro, diz com serenidade: “- Sei que sou uma paladina de Heironeus! Que tenho que ser um exemplo da dignidade, do heroísmo, da força e glória de Furyondy, mas sou mortal! Preciso sair daqui, da sua presença, deste lugar, para não cometer um desatino! Se me dá sua licença, lhe peço Tom! Deixe me ir! Irei ao Templo de Heironeous, para prestar serviços aos carentes de Chendl, cuidando de ferimentos, dando-lhes alento e repartindo as poucas moedas que ainda disponho, enquanto aguardo o que fará comigo meu Rei.”

Benelovoice, recomposta, nutre o desejo de deixar aquele aposento com a maior brevidade possível, mas sua lealdade a restringe a aguardar a palavra de Sua Majestade, seu comando.

Thrommel lhe observa, lhe ouve e se ergue da cama indo em sua direção. Ele pousa suas mãos em seus ombros e seus olhos azuis sobrenaturais encontra os da paladina, e esta enxerga os olhos de Tom.

Ele não diz nada, e a beija!

A sensação que invade Sandy é inexplicável, um êxtase fora do comum que se perde dentro da consciência do que é um sentimento verdadeiro e sem igual. O que ocorre depois é natural e maravilhoso. Não é uma paladina, é uma mulher e se realizando como tal.

Tempos depois Sandy desperta na cama, e cheia de uma felicidade e vontade de viver inexplicável. A paladina não vê Thrommel, mas o cheiro doce e ao mesmo tempo estimulante, fresco e agradável dele está no ar. Sandy não sabe se o que sentiu de fato ocorreu, ou foi um sonho extremamente real, mas fato é que o rubor e a alegria lhes são tangíveis. Ela não sente vergonha, ou receios, mas sente uma maturidade dentro de si, que lhe torna melhor, lhe faz sentir viva.

Fim das audiências.

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Sobre o Autor: Bruno de Brito

Mestre da campanha "Aurora dos Conflitos", ocorrida no cenário de Greyhawk. Entusiasta do sistema Pathfinder, fã de Magic: The Gathering e churrasqueiro nas horas vagas.

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